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Alergia à tatuagem de henna é comum quando não utilizado o material puro

Henna na pele costuma ser moda no verão, mas pode causar alegria - Getty Images
Henna na pele costuma ser moda no verão, mas pode causar alegria Imagem: Getty Images

Carol Salles

Colaboração para o UOL

29/11/2016 07h00

Durante uma temporada em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, a empresária Paula Oliveira, 36 anos, resolveu tatuar um cavalo-marinho de henna no tornozelo, que acabaria causando um grande inconveniente em plenas férias. Em 24 horas a região começou a coçar e foi tomada por inchaço e vermelhidão. A alergia durou um mês.

Como Paula, muita gente já se enfiou nessa cilada, pois tatuagens acabam se firmando como “acessórios” estilosos nos corpos à mostra durante o verão, e para quem não quer um desenho permanente, aquele feito com henna surge como alternativa. O procedimento é rápido, indolor e temporário, mas reações na pele são comuns quando não é usado o material puro.

Para entender direitinho, é preciso esclarecer a diferença entre a henna pura e a tinta usada comumente para fazer esse tipo de tatuagem. A primeira é um pó, obtido a partir da planta Lawsonia inermis. Misturado com água e outros ingredientes naturais como limão e óleos essenciais, se torna uma pasta que é aplicada sobre a pele e a colore temporariamente, em tom vermelho amarronzado (nunca preto). A duração da tatuagem depende do local onde foi aplicada: quanto mais grossa a pele (como a do pé), mais tempo ficará visível. Esse período pode variar de alguns dias a cerca de 2 ou 3 semanas. Alergias, nesse caso, são raras.

Só que há um segundo tipo de “henna”, que recebe a adição de pigmentos artificiais, para deixar o desenho preto e fazê-lo durar mais. É o tipo mais comum, usado não apenas em tatuagens, mas também para preencher sobrancelhas. A tatuadora carioca Rosana Araújo, que aprendeu a técnica na Índia e fez as tatuagens dos personagens da novela “Caminho das Índias” (Globo), conta que, muitas vezes, nem há pó de henna puro nessas tintas. “São apenas tinturas artificiais”, explica, lembrando que, em 11 anos de trabalho, só presenciou dois casos leves de alergia ao material puro.

O maior problema, então, surge quando se usa componentes artificiais para fazer os desenhos. Geralmente, tinturas comuns (e baratas) de cabelo. A grande vilã é uma substância de nome complicado: parafenilenodiamina (ou PPD), presente na maioria das tinturas e altamente alergênica. A Anvisa prevê o uso da substância apenas para tinturas de cabelo, e não em tatuagens. Os sintomas são coceira forte, vermelhidão e descamação no local do desenho. Além disso, ao sair a tinta, a pele fica em alto-relevo. O dermatologista e alergista Mario Cezar Pires, de São Paulo, diz que o tratamento na fase aguda é feito com creme de corticóide. Depois, só resta esperar a mancha sair.

Outra reação possível é a sensibilidade a pigmentos pretos. Nesse caso, sempre que uma roupa de tecido dessa cor (inclusive peças íntimas) ou maquiagem entra em contato com a pele, há coceira e prurido. É bom saber também que nem todo mundo terá alergia ao PPD, e que este é um processo gradual. A dermatologista Vanessa Metz, do Rio de Janeiro, explica: “É como se fosse um copo de água enchendo, gota por gota. Em alguma hora, uma simples gota vai fazer com o que copo todo transborde. Ou seja, o uso recorrente da substância vai desencadeando a alergia”.

Se o seu organismo já estiver sensibilizado pelo PPD (mesmo sem nenhum episódio de alergia), o chamado teste de contato, indicado por um alergista, pode revelar isso. Caso contrário, não há como saber. Para verificar se a henna foi adulterada, repare na cor: se for preta, certamente há a adição de algum corante artificial. Procure profissionais confiáveis e sempre pergunte quais substâncias foram adicionadas. Conheça, a seguir, casos de pessoas  que fizeram a tatuagem e desenvolveram alergia.