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IZA: "Meu cabelo era ruim e ponto final, era o que diziam dos crespos"

A cantora IZA - Leo Franco/Divulgação
A cantora IZA Imagem: Leo Franco/Divulgação

Bárbara Tavares

Do UOL, em São Paulo

12/11/2017 21h42

Com apenas 26 anos, Isabela Lima - ou só IZA - é um dos nomes de maior destaque quando o assunto é produção musical no Brasil. Mulher, negra, cantora e compositora, ela foi uma das convidadas de um evento de beleza realizado no último sábado (11), em São Paulo. "Me sinto muito lisonjeada de estar aqui, porque sei que se não estivesse, seria muito importante ver alguém como eu neste lugar. As pessoas precisam saber de onde eu vim, quem eu sou, o que faço e qual é a minha realidade, para que isso se torne cada vez mais comum nesse meio".

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Sua ligação com a beleza começou cedo, mas nem sempre foi positiva. "Construí [essa relação] ao longo da minha vida. Nem sempre fui uma mulher empoderada, que se ama por inteiro e está satisfeita com a imagem. Já tive problemas, não só por conta do racismo, mas por todas as questões que envolvem a adolescência. Quando estava na 5ª série, as meninas estavam começando a usar perfume, maquiagem, e aí eu pedi para minha mãe comprar um gloss e um rímel da linha Colortrend da AVON da revistinha, que a amiga dela revendia".

Quebrando padrões

Ostentando fios longos e trançados, IZA conta que sua transição capilar - quando parou de fazer alisamento nos fios crespos - aconteceu por volta dos 20 anos, e antes disso sofria por não entender seu cabelo. "Comecei a alisar o meu cabelo com 12 anos porque não gostava dele, achava que tinha alguma coisa errada. Mas não cogitei em nenhum momento da minha vida tentar entender ele. Para mim, meu cabelo era ruim e ponto final, porque era o que diziam de cabelo crespo. Então, tinha que tentar consertar, né? Aos 20, vi que não queria mais alisar e resolvi mudar. Estou com ele completamente natural, mas quero deixar crescer mais ainda", diz a cantora.

Hoje eu tenho uma relação de muito prazer com a beleza. A maquiagem me ajudou a ressaltar aquilo que mais gosto em mim. Precisei um dia parar na frente do espelho, ver o que eu mais gostava em mim e entender que tinha que destacar aquilo, apresentar para o mundo minha beleza" 

"Estar na capa da revista não significa que o racismo acabou"

IZA Glamour Beauty Festival 2 - Leo Franco/Divulgação - Leo Franco/Divulgação
IZA no "Glamour Beauty Festival"
Imagem: Leo Franco/Divulgação

O evento, que aconteceu no shopping JK Iguatemi, reduto do luxo paulistano, reuniu nomes como Luiza Brunet, Mariana Goldfarb e Niina Secrets - elas discutiram temas como beleza e multimídia. "Tem pouquíssimos negros trabalhando aqui. E não estou falando da galera do staff, da faxina, do catering, mas sim, das pessoas que estão executando [palestras, debates]. Infelizmente estou acostumada com isso", lamenta IZA.

Ela, que recentemente foi capa de revista e estrela de editorial, ressaltou que isso não significa que as coisas melhoraram. "Fico feliz de poder mostrar para os outros negros que estão em casa que existe sim oportunidade. Existe sim, uma forma de quebrar as barreiras e estar onde a gente quiser estar. Existem poucas oportunidades, na verdade. Estar na capa da 'Marie Claire', no editorial da 'Glamour', não significa que as oportunidades superapareceram e que o racismo acabou", finaliza.