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Se empolgou com o MasterChef? Conheça melhor as Panc e veja como cultivar

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/08/2016 13h23

Você conhece a taioba? E o picão branco? Ora-pro-nobis, talvez? Todos esses vegetais parecem 'mato', pertencem à flora brasileira e são saborosos alimentos: as PANC (plantas alimentícias não convencionais) estão na moda há algum tempo e vêm sendo exploradas por chefs famosos como a jurada do MasterChef, Paola Carosella. Na noite desta terça (02), essas 'plantas do brejo' foram tema de uma das provas do programa. Interessou-se? Que tal introduzir essas espécies em sua horta?

Panc bem punk!

Panc (assim mesmo, sem plural) é um termo que agrupa uma série de espécies vegetais alimentícia, parte alimentícia ou um produto alimentício não convencional. Segundo um dos maiores especialistas sobre o assunto no Brasil, o biólogo, doutor em Fitotecnia, pesquisador e autor do livro "Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil", Valdely Ferreira Kinupp, qualquer elemento botânico que tenha potencial alimentício, seja pouco conhecido e não faça parte da matriz agrícola é uma Panc. Nessa leva estão incluídas flores, látex, resinas, óleos, caules, folhas, sementes, rizomas e raízes.

Os arbustos, árvores, verduras, legumes, ervas, frutas que fazem parte desta classificação podem ser nativas de uma região, bem como exóticas a ela. Podem crescer espontaneamente e serem silvestres ou cultivadas e, por fim, se firmar como 'ervas daninhas'. Em comum está o fato de não pertencerem à indústria agrícola que manipula sementes e aplica defensivos agrícolas e nutrientes químicos como o nitrogênio. "As Panc são rústicas, produzem suas próprias sementes e são muito mais resistentes que os cultivares comuns", explica Valdely.

Entre as variedades, há as adaptadas à seca, as aquáticas, as de mangue e as que toleram areia e solo salino. "Incorporar essas variedades à matriz agrícola brasileira, no mínimo, geraria multidiversidade", completa. Ainda segundo o pesquisador, apenas 0,04% da diversidade botânica do planeta é utilizada e somente 150 espécies fazem parte da economia de larga escala. Todavia, as Panc catalogadas já somam mais de 130 mil tipos que podem gerar emprego, renda e sabores inesperados, além de enfeitarem o jardim.

As famosas do pedaço

Apesar de conhecido, o açaí ainda é considerado uma Panc. A polpa é largamente consumida misturada à granola e outras delícias doces, mas seu uso como substituto de molho de tomate ou ‘café’ (sua semente pode ser seca, torrada e moída) é quase ignorado. Assim como o açaí, outras variedades que estão ali mesmo, no mercado (ou no quintal), fazem parte desta categoria: o mamão papaia, uma ‘delicinha’ de fruto, também funciona fazendo as vezes da batata na maionese ou purê, quando novo. Se quase maduro, mas ainda com a casca verde, pode ocupar o lugar da abóbora ao ser cozido. Com o nome científico carica papaya, a frutífera dá flores boas para amaciar carne e o miolo do caule (parênquima medular), se ralado, rende o chamado 'coco de pobre', que também tem a propriedade de coalhar o leite.

Na horta e na panela

  • Peter coxhead/ Wikimedia Commons

    ORA-PRO-NOBIS (Nome científico: Pereskia aculeata)

    A ora-pro-nobis é um cacto que não perdeu as folhas e, talvez, seja a queridinha dos chefs, moderninhos e das feiras orgânicas Brasil a fora. A planta com considerálvel valor proteico é de fácil cultivo e se desenvolve em vários tipos de solo, preferindo os drenados e férteis. Suas folhas, secas e moídas ou frescas são a parte comestível e podem ser usadas em receitas como sopas, omeletes, tortas e refogados ou, ainda, cruas em saladas. Além disso, o vegetal é empregado no enriquecimento da farinha para massas e pães.

  • Getty Images

    PICÃO BRANCO (Nome científico: Galinsoga parviflora)

    O picão branco é uma daquelas plantas consideradas daninhas e, por isso mesmo, sempre arrancadas por jardineiros. O vegetal ocorre em todo o Brasil e produz flores pequenas parecidas com margaridinhas brancas. As folhas são comestíveis e mais gostosas quando jovens. A variedade aprecia terrenos ensolarados e não é exigente quanto ao solo. Na culinária, pode ser usada como especiaria em sopas (um costume na Colômbia), saladas e até bebidas frias que levam tomates.

  • Getty Images

    SERRALHA (Nome científico: Sonchus oleraceus)

    A serralha é uma das Panc mais comuns em São Paulo e é considerada uma planta invasora muito resistente. No jardim, pode formar canteiros que recebem pouco sol, em solo úmido, mas não encharcado. Como suas sementes voam e germinam rápido, o ideal é colhe-las para que não invadam outras porções da horta ou, até, plantá-las em pontos mais afastados. É uma hortaliça um pouco amarga, ideal para refogados ou cozidos, mas rica em vitamina C, fibras e ômega 3.

  • Tau'olunga/ Wikimedia Commons

    TAIOBA (Nome científico: Xanthosoma sagittifolium)

    As taiobas são hortaliças com grandes folhas verdes. Parentes da comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia amoena) - que é tóxica -, as taiobas mansas ou orelhas-de-elefante têm folhas e caules comestíveis, que devem ser usados sempre cozidos e ter sua água escorrida. Grandes fontes de vitamina A (superior ao brócolis, à cenoura ou ao espinafre), também oferecem vitamina C, ferro, potássio e manganês. Gostam de ambientes com luz bem difusa e propagam-se por rizomas, não possuindo sementes botânicas. Na culinária, podem ainda ser refogadas e usadas junto a carnes, frangos e peixes ou em farofas e saladas.

  • Getty Images

    BERTALHA (Nome científico: Basella alba)

    As bertalhas são trepadeiras que podem ser cultivadas nas janelas ou em vasos pendentes. É uma verdura como o espinafre, com folhas espessas. As pontas dos ramos podem ser consumidos crus, refogados ou cozidos e o suco púrpura de seus pequenos frutos é usado como um corante natural para alimentos. Precisa de sol e sombra moderada, solo úmido, mas não encharcado, e a propagação se dá por semente ou talos.