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Centenária casa-estúdio, em São Francisco, escapa da demolição e ganha cômodos coloridos

O quarto da casa de 1907 em São Francisco foi completamente pintado de verde-limão - Matthew Millman/The New York Times
O quarto da casa de 1907 em São Francisco foi completamente pintado de verde-limão Imagem: Matthew Millman/The New York Times

SARAH AMELAR

The New York Times

16/12/2011 07h00

São Francisco – Quando Raveevarn Choksombatchai, uma arquiteta nascida na Tailândia, pintou o dormitório de verde-limão e a cozinha de laranja, ela nem pensou se iria enjoar de viver com essas cores vibrantes. "Sou muito intuitiva quanto se trata de cores", ela diz. “Mas também tem algo de libertador em viver e trabalhar em um espaço que não é 'precioso', um lugar que você planejou demolir".

Raveevarn, 50, comprou a construção em 1999 por US$ 345 mil em conjunto com Ralph Nelson, seu marido na época. Construída em 1907 a casa estava em ruínas e o plano era demoli-la. Com fundações danificadas, uma reforma era impraticável. Assim, o casal, fundador do escritório de design Loom, tinha intenção de substituí-la por um edifício de arquitetura inovadora que serviria como residência e estúdio, além de deter mais dois lofts que esperavam vender e ainda um loja que planejavam alugar.

O desenho do prédio, inspirado na forma de uma mala aberta encaixada em um lote estreito, recebeu um prêmio em 2002. Mas tirá-lo do papel foi outra história.

Plano "inconcreto"

Quando a papelada para a construção estava finalmente pronta, o casal havia se separado e a recessão impossibilitou um financiamento. Então, passada mais de uma década, Raveevarn, que já havia comprado a parte do prédio que pertencia ao marido, ainda mora e trabalha no espaço original de 186 m², onde o temporário passou a ser de longo prazo.

A saída, então, era adotar um modo de vida adaptado com criatividade. Ravvevarn - que leciona no curso de arquitetura da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e também detém seu próprio estúdio de design, o VeeV – explora as fronteiras que delimitam a arte, a arquitetura, os cenários e paisagens e o mobiliário em seu trabalho. De forma similar, a casa está em um contínuo estado de fluxo, com uma tênue separação entre o viver e o trabalhar.

Para chegar ao estúdio, é preciso passar através do living onde mock-ups (modelos) e estudos coexistem com objetos pessoais: cadeiras e estofados vintage assinadas por Eames, Bertoia, Saarinen e Florence Knoll e peculiares cerâmicas Roseville e Russel Wright.

Em escarpas, tecidos retorcidos (protótipos para uma instalação no Headlands Center for the Arts, em Sausalito, Califórnia,  realizada em 2005) se esticam logo abaixo do teto.

Adaptando os espaços

O proprietário anterior, o pintor  Vladimir Nemkoff – morto em 1998 – havia ampliado verticalmente a área interior, integrando os ambientes, a fim de criar uma área de pintura com pé-direito duplo. Agora, o espaço abriga o estúdio VeeV.  Raveevarn reaproveitou esta e outras intervenções feitas pelo pintor, mas cuidou em reinterpretar o lugar, repintando as paredes amareladas e as esquadrias marrons que, diz a arquiteta, faziam os ambientes parecerem escuros e pequenos.

Assim, para criar uma sequência legível de volumes espaciais, Raveevarn deu às paredes e teto de cada cômodo apenas uma cor: vermelhão para o vestíbulo, verde-limão para o quarto e laranja para a cozinha.

A sala principal é branca e ganhou vida por meio de ladrilhos de linóleo da Nemkoff e pelos reflexos das cores do quarto e da cozinha transmitidos pelo piso através das claraboias. “Você pode vislumbrar os outros espaços”, ela diz, “e, então, começa a ler a sequência em sua completude”.

Com o passar dos anos, o esquema tem evoluído. Raveevarn ainda espera, um dia, dar andamento à construção, mas por enquanto, seus experimentos “estão rolando”.

* Tradução: Simone Capozzi e Daiana Dalfito