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No Brasil, Karim Rashid defende design inspirador a preços acessíveis

O designer egípcio Karim Rashid defende o design como fator que agrega valor à marca e melhora o mundo - Fábio Zanzeri/ Divulgação
O designer egípcio Karim Rashid defende o design como fator que agrega valor à marca e melhora o mundo Imagem: Fábio Zanzeri/ Divulgação

Daiana Dalfito

do UOL, em São Paulo

08/03/2013 07h01

Karim Rashid é um “produto” de sua criação, uma projeção artística de si mesmo. Uma celebridade. Simpático, sorri, atende as pessoas com cortesia e fala com paixão sobre a profissão e a forma criativa que descobriu ainda menino, ao sair para desenhar igrejas com o pai, aos cinco anos. Resume o design a um processo incessante de deslumbramento e relativiza a importância do valor monetário implicado às peças: “Para mim, se um relógio que custa cinco dólares me dá horas precisas e me faz sentir confortável é um exemplo de luxo. Não necessito de um Rolex. Eu preciso olhar para as coisas e me inspirar, me sentir vivo”.

O designer egípcio que se veste sempre com cores claras esteve no Brasil nesta semana. Na segunda-feira participou do lançamento da primeira filial da eslovena Gorenje, empresa presente em 70 países que se dedica à produção de eletrodomésticos para cozinhas e tem peças assinadas por Rashid, bem como pelo estúdio italiano Pininfarina e pelo francês Ora-Ïto.

A Gorenje não é uma marca, digamos, acessível à grande parte da população, mas Rashid tem um traço democrático. Em sua passagem por São Paulo, o designer lançou também uma coleção de louças para a brasileira Oxford, inclusive, desenhando ao vivo no estande da marca na Gift Fair.

O design está em tudo e não precisa custar caro

Bons exemplos de design são, grande parte das vezes, sinônimo de alto custo no Brasil. Para Rashid, isso é um problema: “O design industrial é o caminho. A mídia, quando diz 'design' se refere em grande parte das vezes ao mobiliário, mas a tomada, a maçaneta também são produto de estudo e projeto, do design industrial que quer melhor qualidade e menor preço. É preciso parar de pensar que o bom design está ligado apenas ao artesanal, ele não deve ser uma exclusividade de poucos, deve servir a todos”.

Com um currículo que conta com mais de 3 mil projetos – de sapatos e utilitários a móveis e ambientações para marcas como Magis e Veuve Clicquot -, centenas de prêmios e clientes em dezenas de países, o designer - admirador do abstracionista Jean (Hans) Arp e do designer e escultor Isamu Noguchi - diz que o Brasil tem potencial econômico e imaginativo, o lugar onde paixão e respeito fazem parte do processo criativo. Porém, pondera que o desejo por beleza e a atmosfera vibrante do país precisam estar aliados a uma pró-atividade no panorama internacional do design, na produção plural e em grande escala.

“Não conheço muito sobre a arquitetura ou o design brasileiros, mas alguns arquitetos do século passado têm obras inspiradoras e comoventes, que me impactaram. Projetos de meados do século 20, modernistas, fortes e impressionantes. Sobre o design, ainda não há uma ampla representatividade nacional no que tange ao industrial, conheço o Brasil pelo trabalho artesanal, como o dos Campana”, aponta.

O arrebatamento pela experiência

Defensor do design como um fator de melhoria da qualidade de vida, Rashid diz que procura se deixar absorver – dia após dia – pelas coisas que o cercam e que tenta transformar, através de pequenas ações, o mundo em um lugar mais humano, prazeroso e experienciável.  “A mente tem um poder de deslumbramento que não pode ser detido, quando tenho um novo projeto, centenas de ideias surgem, não tenho um bloco de anotação e não sei o que essas ideias significam até experimentá-las”, define.

Arrebatado pela experiência da forma, o egípcio invariavelmente tem seu trabalho associado à cor, mas surpreendentemente não acha que seu desenho e os matizes sejam “inseparáveis”: “Acredito que bons exemplos de design podem existir independentemente de alguma cor: uma boa cadeira ou um objeto que mecanicamente funcione bem”. Porém, defende, “o espaço e as cores são indissociáveis, a cor faz parte e é o aspecto crítico do local, o que influencia no formato das coisas e, portanto, no design”.