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Boa saúde da árvore começa com adaptação da espécie e plantio correto

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Silvana Maria Rosso

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/09/2016 07h00

Grande parte dos especialistas concorda que quando o assunto é saúde das árvores no ambiente urbano, os principais problemas se dão pela escolha incorreta da espécie. "A arborização informal é dominada por espécies não nativas, com frutos pesados e carnudos, folhas pequenas e raízes agressivas, plantadas por meio dos caroços de frutas consumidas em casa (como o abacate e a manga) ou mudas de espécies encontradas em supermercados (como o ficus)", afirma o botânico e ambientalista Ricardo Cardim.

Por serem menos adaptadas ao habitat local, esses exemplares tornam-se menos resistentes e mais suscetíveis a pragas, brocas e cupins. Outra questão é que as raízes podem se mostrar ocas ou desestabilizadas por não se adequarem ao espaço reservado para o plantio. As consequências são as quebras de calçadas, comprometimento de construções e quedas do vegetal em dias de chuva e vento forte.

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Assim, os dois primeiros passos para que a sua árvore se mantenha saudável são: escolher uma espécie adequada ao clima, ao solo e ao local de plantio e "analisar e preparar o lugar que irá recebê-la, pensando em um panorama futuro quando aquela muda crescerá e tomará maiores dimensões", ensina o arquiteto e paisagista Ronaldo Kurita.

Se você quer ter uma árvore na calçada, comece procurando a prefeitura de sua cidade. O órgão deve orientar sobre as espécies mais adequadas, além de informar as regras para o plantio e os cuidados no manejo.  Essas normas incluem, por exemplo, tipos de gradil (grade que cerca a planta) e cinta (aquela mureta que envolve o canteiro) a serem providenciados.

 

7 dicas para uma árvore saudável

 

1. A escolha da muda é importante para que a planta cresça plenamente. Verifique se o exemplar é vigoroso e sadio, com tronco reto e sem ramificações laterais. Preferencialmente, plante em dias úmidos e regue durante épocas secas.

2. Ao plantar uma árvore, respeite o limite mínimo do canteiro para que ela possa crescer e se desenvolver com mais saúde. A Prefeitura de São Paulo, por exemplo, recomenda que a cova tenha, pelo menos, 60 cm x 60 cm x 60 cm. Junto a isto, o boletim de arborização urbana da Unesp de Jaboticabal indica que o canteiro (área permeável) mínimo para o cultivo é de 1 m de diâmetro.

3. No plantio, evite que o solo fique rebaixado formando poças: afofe a terra ou cultive em volta da muda uma forração (com plantas rasteiras) ou grama, cujas raízes ajudam a aerar o substrato, facilitando a absorção de água e nutrientes.

4. Se a árvore já está plantada em um local cercado de cimento e/ou asfalto, sem espaço suficiente na base para receber água e nutrientes provenientes da queda das próprias folhas que se decompõem, faça a complementação com adubo para que o exemplar se mantenha forte e saudável.

5. Atente-se aos furos no tronco feitos, por exemplo, com pregos e cicatrizes de podas. Essas 'feridas' podem afetar a saúde da árvore, pois facilitam a entrada de bactérias e fungos. Uma dica caseira é utilizar uma mistura de cola PVA e canela em pó para calafetar tais machucados, como indica o paisagista Ronaldo Kurita. A canela tem princípios antivirais e repele os invasores.

6. Caso identifique perfurações, galerias e/ou serragem, procure a orientação de um especialista. Estes são sinais de que a planta foi acometida por cupins e brocas. Conforme o estágio de infestação é possível recorrer aos controles químicos.

7. A caiação é muito usada no Brasil, mas a pintura do tronco não é necessária, pois a casca das árvores apresenta defesas próprias. A prática não ajuda na preservação do exemplar e pode danificar o ecossistema do tronco.

Poda, um cuidado fundamental

A poda de formação deve ser feita de modo que a planta mantenha-se equilibrada e permita o trânsito de pessoas e veículos abaixo dela, caso esteja na calçada. Tal corte condiciona o desenvolvimento da árvore. Sempre respeite o ‘desenho’ da espécie na hora de dar forma à copa. Basta eliminar os ramos muito baixos, assim como os que cruzam a copa ou que tenham ângulos muito agudos. A preferência na poda deve ser dada aos ramos terciários (mais novos).

A poda de limpeza e manutenção elimina ramos doentes, com ataque de pragas ou ervas parasitas e, geralmente, é indicada para o inverno, pois o metabolismo da planta fica mais lento. Para não errar, peça orientação a um paisagista, botânico ou agrônomo para definir a melhor época de poda, segundo a espécie vegetal. Ao podar, execute cortes inclinados, a fim de evitar o acúmulo de água e umidade na região. O cuidado evita o desenvolvimento de fungos. E lembre-se: se a árvore estiver na calçada, antes de podar, peça orientação sobre como realizar o serviço, além de autorização junto à prefeitura.

Dica extra: em diversos municípios, é possível conseguir mudas gratuitamente, a exemplo da cidade de São Paulo. Entre em contato com a prefeitura.

Fontes: Marcelo Noronha, engenheiro agrônomo; Ricardo Cardim, botânico e ambientalista; Ronaldo Kurita, arquiteto e paisagista; Boletim Acadêmico – Série Arborização Urbana da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Campus Jaboticabal (Unesp - Jaboticabal); "Manual técnico de Podas", da Secretária do Meio Ambiente de São Paulo.