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Já ouviu falar em TPN? Casais contam como vivem a tensão pré-nupcial

Ivan e Andreia se casam no dia 30 de abril  - Arquivo pessoal
Ivan e Andreia se casam no dia 30 de abril Imagem: Arquivo pessoal

Thais Carvalho Diniz

Do UOL

30/03/2017 04h00

C-A-S-A-M-E-N-T-O. Para algumas pessoas essa palavra causa espanto por si só. Mas mesmo os que sonham com a união e toda a pompa e circunstância passam por um período turbulento: os meses que antecedem o grande dia. No caso de Andreia Arboleda, 30, que já se autodefine como "ansiosa por natureza", os reflexos vieram em forma de insônia e crises de choro. Ela se casará com o contador Ivan Souza, 30, em exatamente um mês. "Minha cabeça não desliga, nem quando durmo. Começo a chorar desesperada de madrugada, com medo de não dar tempo de fazer tudo o que ainda é preciso para a cerimônia", conta.

Microempreendedora, Andreia está "acostumada com corre-corre" de eventos corporativos, mas diz que quando se trata do próprio casamento, não segura a onda. "Nos eventos que organizo, tenho controle de tudo o que vai acontecer. Então, a minha maior preocupação com o casamento, é como vou saber se tudo está como escolhemos e planejamos." 
 
Essa angústia que está atingindo Andreia é bem comum entre aqueles que estão prestes a ir ao altar. Não se trata de uma simples crise de ansiedade, mas sim de uma "TPN", a tensão pré-nupcial. É um tipo de estresse causado pelo excesso de detalhes a serem organizados desde a data do enlace até o cardápio da festa.
 

Preocupação em agradar os convidados

Segundo a terapeuta Iracema Teixeira, o importante é entender que a TPN é normal e existem formas de lidar com ela. "Além do evento, existe toda a tensão em relação ao compromisso que se evidencia com a nova vida, mesmo que a relação já seja longa. Conviver todos dos dias sob o mesmo teto é um passo além. E se não há colaboração de ambas parte, a tendência é piorar a tensão". 
 
Marcel e Mariana se casaram em maio de 2016 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Marcel e Mariana se casaram em maio de 2016
Imagem: Arquivo pessoal
 
A psicoterapeuta Triana Portal responsabiliza a indústria do casamento por esses picos de nervosismo. "Antigamente não havia tanto detalhe a ser decidido. Hoje os noivos sofrem cobranças sobre paleta de cores da decoração, formato do guardanapo, tipo de papel do convite... Tudo isso em paralelo com a vida cotidiana que segue, problemas no trabalho.... Até a pessoa mais calma do mundo terá problemas". 
 
Além disso, as especialistas enfatizam que há uma grande preocupação em agradar os outros, esquecendo-se que a festa, na verdade, é para celebrar o amor daquele casal.
 
O gerente comercial Marcel Castro Neiva, 30, e a fisioterapeuta Mariana Leite, 28, farão um ano de casados em maio e reforçam esse pensamento. Para eles, que estavam reformando a futura casa na época, o principal problema foi a lista de convidados. "Brigamos, nos estressamos e, agora que passou, percebemos o quanto foi desnecessário. Nem todos ficarão satisfeitos e é isso aí. É difícil, mas os casais precisam se preocupar menos". 
 

Como lidar

Para não chegar ao ponto de discussões intermináveis e desgastar o relacionamento, o mantra da paciência e tolerância precisa prevalecer mais do que nunca. A terapeuta de casais Karen Vogel diz que só não passa por isso quem não tem o sonho de se casar. "Os problemas virão aos montes e evitá-los é praticamente impossível. Desentendimentos com mães e sogras também são bastante comuns". 
 
Camila e Hugo se casam no dia 20 de maio - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Camila e Hugo se casam no dia 20 de maio
Imagem: Arquivo pessoal
 
A advogada Camila Marques, 27, e o fisioterapeuta Hugo Barreto, 33, fisioterapeuta, têm o grande dia marcado para 20 de maio e tiveram apenas oito meses para organizar tudo. Com o tempo apertado, a solução para as intercorrências foi "muita conversa e maleabilidade" dos dois lados. "O principal é resolver o que deve ser feito a cada dia. Se percebemos que os ânimos estão ruins, paramos o assunto 'casamento' e deixamos para mais tarde". 
 
A angústia é vivida por todos. Para se blindar, segundo Iracema, o casal precisa de cumplicidade emocional para encontrar a melhor forma de administrar as situações. E isso inclui não esquecer os momentos a sós, nem que seja preciso marcar na agenda. "O perigo é quando eles se deixam tomar pela onda que vem de fora, ficam assoberbados de afazeres, esquecem a vida como casal e acabam se distanciando". 
 
E aquele velho conselho de que os noivos precisam "curtir esse momento porque sentirão falta depois" não é regra. "Haverá períodos ruins e bons. É impossível gostar de tudo o tempo todo porque atritos irão acontecer, não dá para fugir. Fundamental é resolver as situações a dois, como será dali em diante depois do 'sim'".