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Choro fingido e mãe a tiracolo: consultores contam absurdos em entrevistas

Do UOL, em São Paulo

03/06/2016 07h15


Nem todo mundo que vai a uma entrevista de emprego sabe como se portar adequadamente. Quem garante são os consultores de RH, que lidam diariamente com dezenas de candidatos e têm muitas histórias para contar. A seguir, você confere algumas delas.

  • Arquivo Pessoal

    Angélica Guidoni, 39, psicóloga e consultora de RH

    "Uma vez, estava entrevistando um candidato e notei que ele acompanhava os movimentos da minha mão. De repente, ele olhou bem para mim e perguntou sobre o anel que eu estava usando. Respondi que se tratava de uma joia de formatura, do curso de psicologia. Ele fixou os olhos em mim e disse: 'Odeio as psicólogas!'. Respirei fundo e falei: 'É mesmo?'. Ele continuou: 'Minha mulher quis se separar de mim logo depois de fazermos terapia de casal'. Ele era um advogado candidato a uma posição de diretoria jurídica. E ainda disse mais: 'Vocês manipulam as pessoas'. Mesmo chocada, tentei trazê-lo de volta para a entrevista, mas ele estava transtornado. Terminei a conversa e desclassifiquei-o do processo."

  • Divulgação

    Ana Lisboa, 41, consultora em gestão de pessoas

    "Entrevistei um rapaz para uma vaga de estágio e o processo foi inteirinho intermediado pela mãe. Ela entrou em contato com a equipe de seleção e pediu para encaminhar o currículo do filho, que de fato coincidia com a vaga. Por isso, marcamos a entrevista. No dia, ela foi com ele e quis entrar na sala. Só por ele ter deixado a mãe fazer isso, já foi desclassificado. Na conversa, ela falava em nome dele, assumiu-se como protagonista. Deixei ela falar e, depois, pedi que me deixasse a sós com o rapaz. Descobri que realmente o candidato não tinha a mínima condição de falar por si."

  • Divulgação

    Luciana Tegon, 45, headhunter

    "Durante uma dinâmica para uma vaga de secretária de diretoria, em uma grande empresa multinacional, uma das candidatas entregou um papel com o nome e o número de telefone para um dos diretores da empresa. As candidatas já tinham passado por várias etapas da seleção, em que a equipe analisa se a pessoa tem capacidade de lidar com assuntos sigilosos, se tem o comportamento adequado e se é suficientemente discreta. Ninguém poderia imaginar que uma pessoa já aprovada nas etapas anteriores tivesse um comportamento como esse. Fui avisada do acontecido imediatamente e a moça foi excluída do processo seletivo. Ela também foi marcada no nosso sistema, para não ser mais chamada quando abríssemos outras vagas."

  • Ricardo Matsukawa/UOL

    Fatima Domingues, 52, consultora de RH

    "Em uma entrevista, perguntei para o candidato a uma vaga de gerente de vendas: 'Por que você foi desligado da última empresa?'. Ele respondeu: 'Porque eu não vendia'. Era justamente a última coisa que ele poderia dizer. Teria sido melhor se ele comentasse, por exemplo, que não havia conseguido atingir a meta, porque o número de vendas estipulado não estava alinhado com o mercado. Mais tarde, nós demos o feedback da entrevista para ele, que ficou sem graça ao ser alertado sobre a gafe cometida. Cheguei a dizer que talvez ele estivesse na posição errada."

  • Ricardo Matsukawa/UOL

    Cesar Dias, 38, consultor de RH

    "Estava no meio de uma entrevista coletiva com dez pessoas. Expliquei a vaga e abri espaço para que os candidatos falassem o que achavam da posição e tirassem suas dúvidas. Foi então que percebi que uma das candidatas estava desenhando estrelas em uma folha de sulfite. Cheguei perto dela e perguntei: 'Você tem interesse na posição?'. Ela respondeu: 'Desculpe, mas não entendi nada do que você disse'. Não poderia entender mesmo, porque estava desenhando enquanto eu explicava a função. Foi um comportamento inacreditável, porque espera-se que quem está participando de um processo seletivo demonstre um mínimo de interesse."

  • Divulgação

    Paulo Paiva, 38, coaching e especialista em gestão de pessoas

    "Conduzia uma dinâmica de grupo e pedi aos candidatos que contassem um pouco da história de vida deles. Foi quando um começou a narrar uma série de desgraças: tio doente, pai alcoólatra, mãe que não cuidava da família.... Ele chegou a simular um choro e disse que, por conta de todo esse cenário trágico, deveria ficar com a vaga. Ele se considerou o mais importante, porque tinha muitos problemas. Conclusão: ele não passou dessa fase do processo. No final, dissemos para ele a verdade: a vaga pedia trabalho em equipe e o comportamento dele na dinâmica mostrou que teria dificuldade de compartilhar. O sofrimento era tão dissimulado que, quando o dispensamos, ele nem chorou ou apelou novamente, apenas disse: 'Tudo bem, eu compreendo'. Ficou bem claro para mim que ele estava lá para o tudo ou nada."