Topo

Estudo aponta proliferação do racismo na internet

Maria Júlia Coutinho foi vítima de racismo na internet, mas, ao contrário da maioria, denunciou o caso - Divulgação/Globo/Zé Paulo Cardeal
Maria Júlia Coutinho foi vítima de racismo na internet, mas, ao contrário da maioria, denunciou o caso Imagem: Divulgação/Globo/Zé Paulo Cardeal

22/07/2016 11h39

Os grupos de extrema-direita encontraram na internet uma ferramenta para divulgar seus discursos de ódio e normalizá-los, inclusive, para as vítimas, que, em sua maioria, desistem de denunciá-los. É o que aponta um estudo de antropologia da Universidade de Barcelona.

A pesquisa, realizada junto a outras entidades da Itália, França, Espanha, Romênia e Reino Unido, denuncia a passividade e a permissividade da sociedade e das plataformas digitais diante destas mensagens que parecem se consolidar tanto na rede quanto na política europeia, com um crescimento constante da extrema-direita.

"A internet representou um salto de qualidade para muitas coisas e também para a difusão do discurso de ódio", afirmou o doutor em antropologia Miguel Pajares, que participou deste estudo no âmbito do projeto europeu PRISM para combater estas mensagens.

"A internet não apenas significou a possibilidade de expandir este discurso, mas também o normalizou e se assume como inevitável", acrescentou.

Durante o estudo, os pesquisadores entrevistaram 150 usuários das redes sociais --incluindo vítimas de racismo-- e profissionais vinculados a este tema, como policiais ou procuradores, dos cinco países participantes.

A principal conclusão é que as vítimas não denunciam estas situações. Segundo uma estimativa da Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia, cerca de 60% a 90% desistiram de fazer a denúncia.

Das vítimas entrevistadas, apenas uma havia denunciado à polícia atitudes xenófobas. Isto representa um problema duplo: "Estas ideias se consolidam como válidas e, de quebra, a magnitude do problema é reduzida, já que sem denúncia estes atos não constam nas estatísticas oficiais", afirma a antropóloga Olga Jubany, que liderou o estudo.

Entre os motivos desta passividade, figuram o fato de que a vítima já está acostumada, o desconhecimento de que estas atitudes podem ser um crime e a desconfiança da eficiência dos mecanismos de denúncia tanto por via policial quanto por meio dos administradores dos sites.

De fato, os pesquisadores denunciaram no Facebook cem comentários racistas na rede social e apenas nove foram eliminados. Entre os que permaneceram visíveis, há alguns pedindo a morte dos muçulmanos ou o envio de judeus a campos de concentração.

"Não denunciam porque não funciona. Estes mecanismos não estão sendo eficientes como deveriam. Se nada é feito, as mensagens permanecem e seguem promovendo estes discursos", diz Jubany.