Topo

Empresas usam aplicativos para medir felicidade de empregados

Nastaran Tavakoli-Far

Da BBC News

18/08/2013 16h43

  • BBC

    Aplicativo permite que empresas façam pesquisas anônimas semanais com empregados

Amy Balliett tinha um problema sério em sua empresa: um de seus funcionários estava convencendo os colegas a abandonar a start-up que ela havia ajudado a fundar, a Killer Infographics, em Seattle (EUA).

Com apenas 20 empregados em um único escritório, Amy começou a achar que seus suborninados tinham dificuldades em procurá-la e dizer o que realmente pensavam sobre seu trabalho.

Isso mudou com um aplicativo chamado Tiny Pulse, que permitiu que alguns empregados falassem abertamente sobre os problemas da empresa --tudo de forma anônima.

O Tiny Pulse permite que empregadores façam pesquisas semanais com seus empregados, os quais, sem se indentificar, podem levantar assuntos importantes e reclamações às suas chefias.

Para Amy, reter funcionários é fundamental para o crescimento de uma start-up como a dela; e, para retê-los, é preciso mantê-los felizes.

"(O uso do Tiny Pulse) impediu que o ambiente de trabalho se envenenasse (com insatisfações)", diz Amy.

Descontentes vão embora

Pesquisas indicam que empregados satisfeitos tendem a ser mais produtivos. O criador do Tiny Pulse, David Niu, já havia percebido isso nas empresas que dirigiu --e lembra da sensação de espanto que tinha toda vez que escutava um pedido de demissão.

Para criar seu aplicativo, ele passou meses viajando para conversar com empregados sobre seus maiores problemas corporativos.

Ele queria saber como estava o moral dos funcionários antes que eles entregassem suas cartas de demissão, já que considera o método de pesquisas anuais muito lento e trabalhoso.

"Começávamos (a ler essas pesquisas anuais) com muita energia, mas esbarrávamos na inércia e depois não sabíamos o que fazer com os resultados".

O Tiny Pulse envia pesquisas semanais para os empregados. Depois, o programa elabora gráficos com os resultados para que os chefes possam acompanhar o humor de seus funcionários semanalmente.

Os empregadores podem adaptar as pesquisas e responder às demandas dos funcionários. O aplicativo ainda permite que os empregados se comuniquem com a chefia de forma anônima.

Rede social dos empregados

Outro recurso para detectar se os funcionários estão felizes ou não é a plataforma online Work.com.

Ela visa aumentar a performance tentando alinhar os objetivos de empregados e empregadores, fornecer pareceres e motivação mútua.

No Work.com, empregados têm perfis que mostram suas experiências e objetivos. Eles podem trocar comentários relacionados às suas performances diariamente --em vez de fazer isso apenas durante a avaliação anual.

O dono da plataforma, Nick Stein, diz que a internet deu às pessoas mais voz do que elas jamais tiveram --mas os escritórios não acompanharam essa tendência.

Segundo ele, os empregados sentem que devem atingir um determinado nível hierárquico antes de começar a expressar suas opiniões.

"Mas, com a internet, há um entendimento de que você não pode ter o mesmo tipo de hierarquia, porque ela desacelera as coisas", diz Stein.

Cérebro saudável

Aparelhos que medem condições gerais de saúde também podem indicar o nível de satisfação do funcionário. Segundo o neurocientista Rob Goldberg, fazer com que as pessoas trabalhem no limite é ruim para o cérebro --e não torna os funcionários mais produtivos.

"Precisamos entender que cérebro saudável e performance são uma única coisa", diz ele.

Goldberg faz parte do Neumitra, uma start-up criada no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e inventora do Bandu, aplicativo que mede o nível de estresse com um relógio em contato com o pulso.

Ainda que o estresse seja um mecanismo de sobrevivência, ele impede o cérebro de focar e funcionar efetivamente, diz Goldberg.

Ele recomenda que empregadores monitorem o nível de estresse dos funcionários e ajustem as rotinas de trabalho de acordo com os resultados.

Goldberg diz ainda que um dos principais motivos de estresse é a necessidade, da maioria dos funcionários, de dirigir ao escritório durante o horário de pico da manhã.

"Ainda que o trabalho das 9h às 17h seja uma referência histórica para as empresas de produção e manufatura, esse conceito não é mais relevante para muitas companhias", ressalta Goldberg.

O significado do trabalho

O jornalista e fundador da organização sem fins lucrativos The H(app)athon Project, John Havens, é um defensor dos aplicativos de medição de saúde sendo usados nos ambientes de trabalho.

Ele cita o Cardiio, aplicativo que mede batimentos cardíacos usando uma câmera de iPhone, e o Affectiva, usado para "ler" emoções a partir das expressões faciais das pessoas.

Mas nada disso bastará se não forem levados em conta outros fatores mais cruciais, opina Havens.

"(É preciso) ter um sentido de propósito e significado (no trabalho desempenhado)", diz ele. "Isso deveria estar mais no foco (de empregadores)."

A consultoria Delivering Happiness também ressalta a importância de se extrair um propósito do trabalho.

Nascida a partir de um livro de mesmo nome escrito pelo executivo Tony Hsieh, a empresa tenta avaliar como o mundo corporativo pode deixar seus trabalhadores mais felizes e buscar lucros ao mesmo tempo.

Para a executiva-chefe da consultoria, Jenn Lim, empregados felizes existem em empresas que conhecem seus valores --e isso é mais importante do que quaisquer ferramentas e tecnologia.

"São coisas básicas --se não temos valores, o resto é uma causa perdida", diz. "(O fato de não fazer esses questionamentos) explica por que nós, como sociedade, não conseguimos sustentar nossa felicidade".