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Por que os vídeos em que se espremem espinhas são tão populares no YouTube?

Muitos dos vídeos de cistos e espinhas disponíveis na rede foram gravados em consultórios médicos - HUW EVANS PICTURE AGENCY
Muitos dos vídeos de cistos e espinhas disponíveis na rede foram gravados em consultórios médicos Imagem: HUW EVANS PICTURE AGENCY

James Gallagher

Editor de saúde da BBC News

21/05/2016 18h01

A imagem de um cisto crescendo na parte de trás da cabeça já é nojenta o suficiente, mas e um vídeo dele sendo estourado?

Tenho de admitir: sou responsável por algumas das 36 milhões de visualizações do clipe "EXTRAÇÃO DE CISTO ENORME" - assim mesmo, com letras maiúsculas, mas em inglês.

É uma experiência arrepiante, reminiscente de um tubo de pasta de dente sem fim ou de assistir a um vendedor de sorvete preencher lentamente uma casquinha.

E não é o único. Há o "Cisto de mulher de 20 anos finalmente é estourado" ou o repugnante "Canhão de pus".

A dermatologista Dra. Estoura Espinhas, alter-ego de Sandra Lee, diz animadamente aos mais de 1 milhão de assinantes de seu canal no YouTube: "Sei que vocês amam isto".

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Um de seus vídeos mostra ela espremendo uma grande espinha no rosto de seu paciente e tem mais de 1 mil comentários. "Me dá nojo, mas, ao mesmo tempo, me intriga muito", diz um deles. "Ia tomar café da manhã agora, mas perdi o apetite", afirma outro. "Sou um viciado neste tipo de vídeo".

Além dos clipes, existem páginas na internet inteiramente dedicadas ao tema, o que para alguns é "asqueroso" e, para outros, "emocionante".

No programa Health Check, da BBC, submetemos um voluntário, Matt, à sua primeira série de vídeos de cistos sendo estourados.

"Ai, meu deus, ela está usando tesouras para cortar isso fora! É nojento! Argh", ele gritou. Mas seguiu em frente: "Ah, veja isso. É incrível o que tem ali dentro".

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Nojo

Então, por que esses vídeos têm tanto apelo?

"A resposta parece ser uma questão ligada ao 'nojo'", diz Daniel Kelly, professor do Departamento de Filosofia da Universidade Purdue, nos Estados Unidos, e autor do livro Yuck! (algo como "Eca!", em tradução livre).

Aversão é uma resposta emocional que nos protege de coisas venenosas ou que podem disseminar doenças, como ratos ou comida estragada.

"Uma das coisas que nos faz sentir mais aversão são líquidos corporais anormais - algo chave nestes vídeos", diz Kelly.

"O nojo faz com que, uma vez que detectemos algo 'repugnante', fiquemos mais atentos, com certa fascinação (pelo que deveria nos causar repulsa)."

Ele diz que os vídeos são uma forma segura de experimentar a "sensação" de aversão.

"O resultado é algo semelhante à sensação de uma pessoa em uma montanha-russa ou que salta de bungee jumping. Ela experimenta uma grande emoção sem estar em uma situação de risco", afirma o especialista.

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"Ao ver esse tipo de vídeo, você vivencia uma interessante experiência emocional de sentir aversão, mas não corre o risco de pegar doença alguma."

Nisith Sheth, dermatologista e consultor da Fundação Britânica da Pele, se diz "fascinado pela forma como as pessoas são atraídas e ficam obcecadas" por esses vídeos.

Cistos epidérmicos são sacos de células mortas e gordura sob a pele.

Normalmente são encontrados no rosto, pescoço, peito, ombros e próximos dos genitais. São diferentes de furúnculos e abcsessos, que são causados por infecções e preenchidos por pus.

"Estou acostumado a ver isso, não me dá nojo", diz Sheth, que trata pessoas com cistos todos os dias.

"É gratificante vê-los sendo retirados, como se estivéssemos expurgando alguém de algo podre ou ofensivo. Normalmente, quem tem algo assim retirado do corpo não quer ver, mas recebo frequentemente pedidos de seus parceiros ou amigos para assistirem."