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Risco motiva mulheres que aceitam ser a outra; veja os prós e contras da vida de amante

Mulheres que sempre se relacionam com homens comprometidos podem ter medo de compromisso - Edilaine Cunha/UOL
Mulheres que sempre se relacionam com homens comprometidos podem ter medo de compromisso Imagem: Edilaine Cunha/UOL

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

05/07/2012 07h20

Tornar-se amante de um homem casado é sempre uma questão delicada. Movido por diversos motivos –amor, paixão, carência, sexo, comodismo–, esse tipo de relacionamento é mais comum do que se imagina e sempre esbarra nos limites da razão. Muitas mulheres nem gostam de ser chamadas de amantes, pois a palavra tem uma conotação pejorativa. Preferem o título de namorada, mais respeitoso e romântico.

Por outro lado, há mulheres que se sentem à vontade no papel da "outra" e desfrutam, sem culpa, da condição. Especialistas afirmam, no entanto, que ser amante é alternar, o tempo todo, sofrimento e prazer. "As vantagens são a constante e intensa excitação inerente ao risco da descoberta, a sensação de novidade pela escassez ou dificuldade de encontros e ausência de rotina, a falta de responsabilidade ou compromisso com problemas do parceiro ou típicos de uma relação conjugal", diz a psicóloga cognitivo-comportamental Mara Lúcia Madureira.

As desvantagens vão desde o pouco (ou nenhum) compartilhamento de momentos agradáveis em público, a impossibilidade de planejar e realizar juntos programas prolongados como viagens e férias, não poder contar com o amado em momentos difíceis, restrições quanto aos telefonemas e, ainda, a dificuldade em lidar com o ciúme da mulher oficial. Outro fator negativo é que o envolvimento nem sempre constrói laços afetivos entre o casal. "Como os encontros são limitados e geralmente quando os dois se veem acabam transando, esse tipo de relacionamento fica vinculado ao sexo", explica a psicoterapeuta Carmen Cerqueira Cesar.

Mesmo com todos os indícios de que o relacionamento não tem futuro, muitas amantes não abrem mão dele, de acordo com Carmen, por causa do espírito de competição feminina. "Algumas acham que vão vencer a oficial, porque se consideram melhores e conseguirão conquistar o sujeito. E há aquelas que desejam fazer feliz e lutar por aquele homem que sofre com um ‘casamento ruim e falido’, pelo menos nas palavras dele", diz. Seja qual for a motivação, nesse triângulo amoroso, a culpa nunca vai ser da "outra", pelo menos na cabeça dela. "A amante costuma se colocar como a vítima da história, como se ela não fosse protagonista de sua própria vida", afirma a psicoterapeuta.


Liberdade e prazer acima de tudo
Elas são raras, mas existem: mulheres que preferem namorar homens casados simplesmente por diversão, conscientes de sua escolha. Cobranças e compromisso não fazem parte de seu vocabulário, ao contrário de sexo por prazer. Esse comportamento sempre existiu, mas vem ganhando maior visibilidade porque as mulheres estão mais independentes e, como os homens, assumem o que querem e gostam.

Para Mara Lúcia Madureira, relacionamentos sérios exigem muito empenho emocional e habilidades para lidar com problemas conjugais e familiares. "Nas relações de amantes, a questão carnal é priorizada e, ao menos em tese, as demandas psíquicas para enfrentar os desafios do cotidiano, como despesas domésticas, educação de filhos e problemas profissionais, entre outros, são menores ou nem cogitadas”, diz.

Medo de compromisso
Há quem só se sinta atraída por homens comprometidos ou encare um relacionamento atrás do outro com parceiros "indisponíveis". "A repetição caracteriza uma forma de proteção emocional à experiência concreta. Essas mulheres elegem pares comprometidos para não vivenciar os riscos das relações reais", explica Mara Lúcia Madureira. A suposição de não conseguir administrar um casamento e o medo de ser traída ou trocada as levam a assumir o papel inverso.      

Já a terapeuta sexual Maria Luiza Cruvinel acredita que o envolvimento com homens casados também acontece porque muitas mulheres aprendem a relacionar amor e dor desde a infância, ou seja, na sua vivência com os adultos significativos das suas vidas (pais, avós) são desprezadas, ignoradas, controladas e exigidas a sempre fazer o que o outro espera delas. “Com isso crescem com baixa autoestima e escolhem inconscientemente sujeitos indisponíveis, já que não se sentem merecedoras de afeto ou atenção”, declara.

 

Futuro incerto
Segundo as especialistas, dificilmente os homens casados que mantêm relacionamentos extraconjugais se separam. O motivo? Apesar de a vida sexual com a oficial estar desgastada ou inexistente, eles valorizam suas famílias e amam suas mulheres e seus filhos. "Para os homens, o sexo é apenas uma parte do amor, o amor erótico. O casamento pode se sustentar com o amor de amizade, companheirismo, um projeto de vida comum etc.", afirma Maria Luiza.

Parece ironia, mas quando um homem decide se separar da "matriz", raramente assume a "filial". A "outra", muitas vezes, representa para o indivíduo a sensação de liberdade e, ao se separar, o homem prefere viver experiências novas e diversificadas, sem o compromisso de estar vinculado a ninguém. "Em algumas poucas ocasiões eles ficam com a amante quando é um amor grande e verdadeiro. No entanto, vários homens arrumam uma relação extraconjugal para amenizar os problemas de seu casamento ou até para esquentá-lo. E aí, quando se separam, a amante deixa de ter uma função, ele não precisa mais dela", diz Carmen.