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"Olho gordo" pode ser autossabotagem; conheça as explicações para o fenômeno

Você acredita que já foi vítima de olho gordo? Use o campo de comentários para contar sua história - Julia Bax/UOL
Você acredita que já foi vítima de olho gordo? Use o campo de comentários para contar sua história Imagem: Julia Bax/UOL

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

08/11/2012 07h43

Mesmo quem não acredita no poder do "olho gordo", sabe do que se trata: é o nome que se dá às supostas energias negativas transmitidas por alguém à outra pessoa, por raiva, inveja, despeito e outros sentimentos do tipo. A vítima poderia sofrer seus efeitos em diferentes níveis: de riscar acidentalmente o carro novo a ficar doente. Outros sinais seriam sentir desânimo, cansaço, baixo astral e uma sensação de que, por mais que se batalhe, nada dá certo. Para afastar os efeitos do "olho gordo", muita gente busca proteção com rezas, amuletos, simpatias.

Mas, afinal, "olho gordo" existe? E, se existe, pega? Para Etienne Higuet, professor do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), primeiro é preciso entender o conceito de superstição: crenças e práticas que não são consideradas válidas pelas instituições religiosas oficiais --que no Brasil são, sobretudo, cristãs-- e tidas ainda como vãs e irracionais pela ciência. 

"Acreditar que o olhar de certas pessoas têm um poder mágico vem de um fundo religioso muito antigo e arraigado nas culturas ameríndias, afro-americanas e europeias, especialmente latinas e camponesas, que o cristianismo institucional nunca conseguiu abafar completamente", afirma. Etienne explica que essa ideia subsiste no inconsciente coletivo e, no Brasil, ganha força com a herança das culturas indígenas e africanas, a intensa adesão local ao espiritismo e o sincretismo entre todas as tendências religiosas.
 
Para o especialista da Umesp, o "olho gordo" corresponde à imensa vontade humana de poder controlar o destino. Só que esse desejo encontra múltiplos obstáculos, de modo que qualquer fracasso pode ser facilmente atribuído a pessoas mal intencionadas ou detentoras de forças que elas mesmas não conseguem controlar. "Pode ser um meio de não assumir a responsabilidade por certos fracassos ou acontecimentos, atribuindo o ocorrido a outras pessoas ou a forças irracionais incontroláveis", diz.
 


Suscetibilidades e intenções

 
Na opinião do psicanalista Leonard F. Verea, especialista em Medicina Psicossomática e Hipnose Clínica, as chamadas energias negativas acabam atingindo quem crê na sua força e no seu poder. "Essas pessoas, em geral, não têm boa autoestima nem valorizam o suficiente as próprias qualidades. A insegurança às torna suscetíveis às opiniões alheias", conta. Para ele, uma forma de se preservar do "olho gordo" seria se transformar no próprio amuleto, fortalecendo o pensamento positivo e a autoimagem.
 
A intenção de quem supostamente emite energias negativas pode ser consciente ou não. Marta Leopoldo dá o exemplo de quando batemos o dedo numa porta e a chutamos, com raiva. "Essa atitude nada mais é do que dar o troco. É como se quiséssemos que a porta sentisse a nossa dor", diz. A pessoa que emana o "olho gordo" está sofrendo e incomodada, mas nem sempre se dá conta das razões. Ao "secar" alguém e presenciar o outro se dando mal, de algum jeito, ela se sente acolhida e aliviada, pois repartiu sua amargura.
 

Autossabotagem

 
Para a psicóloga Marta Rita Leopoldo, especialista em terapia junguiana e pós-graduada em neuropsicologia, nossa mente é extremamente complexa e pode, inclusive, nos boicotar. "Às vezes, por questões inconscientes, achamos que não merecemos determinadas coisas, que vão de bens materiais a relacionamentos amorosos. Abrimos espaço na vida para que as coisas deem errado", declara.

Ela comenta a já citada situação de ralar sem querer o automóvel novinho no portão da garagem. Para ela, no fundo, a pessoa não se sente merecedora de tê-lo. Ao estragá-lo, se sente mais confortável. Ainda segundo Marta Leopoldo, o medo é um fator que atrai as "más vibrações". Vale o mesmo exemplo do carro: o motorista tem tanto receio de lesar o bem que acaba justamente fazendo o que mais teme. "E aí, ao considerar esse acontecimento um sinal de ‘olho gordo’, se sente mais aliviado. 'Pelo menos já aconteceu', é o que pensa no íntimo", fala a psicóloga. O que isso significa? Que talvez o “olho gordo” possa ser produzido por nós mesmos.
 
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Visão da física quântica

 
Dificilmente a ciência consegue explicar todos os fenômenos –em especial aqueles que supostamente acontecem na mente humana– e deixa uma importante margem para as crenças. Uma premissa da física quântica, no entanto, defende que não só o “olho gordo” existe como pode ser visto em laboratório.

"Para a física quântica, a matéria não é o mais importante. O que importa são os movimentos das energias, questões que vão além daquilo que ocorre no cérebro", afirma a cientista a psicoterapeuta Claudia Riecken, ativista quântica e seguidora do indiano Amit Goswami (uma das estrelas do documentário "Quem Somos Nós?", de 2004), referência mundial em estudos que buscam conciliar ciência e consciência.
 
Segundo Claudia Riecken, toda intenção gera uma frequência de ondas que altera o campo magnético das pessoas –daquelas que emanam e de quem recebe. "E isso é percebido em exames feitos por neurocientistas, através de mudanças nos fótons [partículas de luz] detectadas no cérebro", conta ela, declarando que não existem fronteiras que atrapalhem os resultados. Assim, o “olho gordo” poderia atingir até quem está no Japão.
 
Para a cientista, é possível barrar os pensamentos negativos ao trabalhar o próprio campo magnético de energia –através da compaixão, da autoestima, do perdão. "A inveja do outro fisga a sua. O ‘olho gordo’ só pega em quem também o traz dentro de si e quer competir, brigar, disputar", declara. De acordo com Claudia, atacar de volta nunca é o melhor estilo de se defender. 
 
Uma conclusão é comum entre os especialistas: se existe "olho gordo" ou não, o melhor é não prestar atenção ao redor, mas em si mesmo. Para Etienne Higuet, docente de Ciências da Religião, as pessoas têm razão em acreditar na presença maciça do mal no mundo, especialmente no mal que as pessoas desejam para as outras. "A influência de mentes perversas nunca deve ser superestimada", diz.