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"Cuspir no prato em que comeu" só atrasa a sua vida amorosa

Melhor do que ficar procurando defeitos no "ex" é seguir com a sua vida - Stefan/UOL
Melhor do que ficar procurando defeitos no "ex" é seguir com a sua vida Imagem: Stefan/UOL

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

30/07/2014 07h08

Na hora de extravasarmos a raiva e a decepção com o fim de um relacionamento, a sutileza costuma passar longe. É natural, quando um romance acaba, colocar uma lente de aumento nos defeitos do antigo amor. "Quem não fala mal de 'ex'? Isso é muito comum quando um namoro chega ao fim, por causa da mágoa", afirma a psicoterapeuta Andrea Vaz, do Rio de Janeiro (RJ).

O problema, segundo a especialista, é quando alguém prolonga essa fase de revolta como se fosse algo atemporal: meses e até anos se passam e os xingamentos e reclamações persistem. Trata-se de um comportamento que, embora traga um certo alívio imediato, acaba atrapalhando a vida da pessoa em várias esferas.

De acordo com o terapeuta sexual e de casal Amaury Mendes Jr., também do Rio de Janeiro (RJ), o principal prejuízo diz respeito à reconstrução da vida afetiva. "Nada parece andar, pois o ressentimento é um companheiro constante e que afugenta novas possibilidades de relacionamento. Ninguém quer tapar buraco na vida de quem sofre por outra pessoa", afirma.

Para Amaury, a volatilidade das relações contemporâneas segue no caminho oposto do investimento na convivência e na tolerância, peças fundamentais para que um casal dê certo. "As pessoas querem ter alguém para chamar de seu e dividir a vida sem dar um tempo necessário ao próprio relacionamento, para que as características das personalidades de cada um possam ser avaliadas e repensadas. O ego é tão forte que o indivíduo não enxerga os sinais e é muito mais fácil culpar o outro do que correr atrás de seus próprios questionamentos que embaralham as relações", declara.


Falar mal do outro –ou "cuspir no prato em que comeu", como se diz na linguagem popular– é uma maneira de se eximir da própria responsabilidade pelo fim do romance. Afinal, ao exaltar os defeitos do outro e contar histórias escabrosas o envolvendo, a atenção não cai sobre si. "É uma espécie de desculpa para enfrentar um momento de dor", diz a psicoterapeuta Sandra Samaritano, de São Paulo (SP)

O fato é que, em um relacionamento amoroso, ambos sempre têm sua cota de responsabilidade por seu sucesso ou fracasso. Alguns não se conformam por ter escolhido alguém que se revelaria uma decepção; mas eis o ponto: a vida é feita de escolhas.

Ao listar tudo de ruim que havia no "ex" a pessoa também acaba, sem perceber, depondo contra si mesma. Afinal, se o par tinha tantas falhas assim, por que ela continuou com ele (às vezes por um longo tempo) e parece não se conformar com o término?

"Se a insistência em criticar se torna obsessiva, certamente a atitude vai levar suspeitas de quem ouve", conta Andrea Vaz. Resultado:  amigos e familiares passam a duvidar do real sentido das lamúrias e muitos acabam até se afastando. Afinal, também têm de lidar com as próprias questões e mazelas.

Para Sandra Samaritano, a melhor maneira de não cair na armadilha tentadora desse tipo de comportamento –que é uma forma desesperada de se recusar a enterrar o passado e seguir adiante– é entrar em contato com a própria dor e fazer uma avaliação do que aconteceu, a sós, sem narrativas para plateias. "É importante que nessa situação de perda a pessoa se dê um tempo e vivencie o período de luto", diz.

Assim como é necessário se empenhar para dar a volta por cima quando morre alguém, quem se separou deve encarar o mesmo processo. “Claro que isso varia de pessoa para pessoa; alguns sofrem mais, outros menos. Alguns vínculos são mais difíceis de serem quebrados, outros mais fáceis. Mas a grande verdade é que quem não aprende a lidar com a dor e com a revolta vai carregar para sempre o estigma da infelicidade", diz Andrea Vaz.$escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2013/03/30/voce-ja-esqueceu-mesmo-seu-ex.htm')