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Homens e mulheres encaram a traição de modos diferentes

Você perdoaria uma traição? Use o campo de comentários para responder - Leh Latte/UOL
Você perdoaria uma traição? Use o campo de comentários para responder Imagem: Leh Latte/UOL

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

05/09/2014 07h05

Mesmo com a evolução dos costumes e com a luta cada vez maior pela igualdade de gêneros, homens e mulheres, por mais semelhantes que sejam os papéis que desempenham em sociedade, têm visões distintas sobre as relações amorosas, em especial quando envolve a traição.

A começar pela motivação: embora a ideia de que a mulher só trai porque está apaixonada não corresponda mais à realidade, é fato que, atualmente, o sexo feminino dá vazão ao prazer com mais intensidade. “A mulher está mais exigente afetivamente e sexualmente. Se for preciso, busca fora do seu relacionamento outro parceiro sem remorso”, afirma a psicoterapeuta Sandra Samaritano, de São Paulo (SP).

"Os motivos vão desde insatisfação com o par até autoestima baixa, vingança por ter sido traída, não se sentir mais desejada pelo parceiro ou por falta de atenção, conversa, carinho, romance e intimidade”, conta a antropóloga Mirian Goldenberg, professora do curso de pós-graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e autora de "Por Que Homens e Mulheres Traem?” (Ed. BestBolso).

O homem, desde a adolescência, é ensinado e até incentivado a separar sexo de amor. Segundo Mirian, muitos dizem que amam e desejam suas parceiras, mas não conseguem resistir à aventura sexual, à atração física, à vontade, à oportunidade, ao instinto e, sobretudo, à vocação. As velhas justificativas de que o sexo masculino precisa buscar mais parceiras por questões biológicas (assegurar um maior número de herdeiros) ainda vêm à tona na forma de frases como “ele é homem”, “homem é assim mesmo” ou “todo homem trai”.

Essas justificativas também encontram apoio no padrão cultural –a modernidade dos costumes ainda não venceu (e provavelmente ainda vai demorar a vencer) a barreira da tradição. É por isso que a infidelidade feminina é bem menos aceita do que a masculina. "Trata-se de um reflexo do pensamento machista de que o homem pode transar com várias mulheres, nunca o contrário, que muitos pais passam para os filhos até hoje", diz a psicoterapeuta Maura de Albanesi, também da capital paulista.

Sobre aceitar ou não uma traição, os gêneros também se diferenciam. Elas costumam relevar a infidelidade do par com maior facilidade do que eles. “Elas perdoam porque acreditam que o homem se deixou levar pelo momento e traiu. Ou seja, ele só queria sexo, não há amor envolvido. A mulher leva muito em consideração os próprios sentimentos e por isso tende a perdoar com mais facilidade”, diz Maura de Albanesi.

Segundo Sandra Samaritano, os valores femininos ligados à família e à manutenção do relacionamento ainda são muito arraigados, por isso muitas passam por cima do que aconteceu em nome da preservação da relação. “A mulher também leva em conta a história do casal, o lar que construíram... Algumas enxergam até a possibilidade de um crescimento pessoal e afetivo a partir da reconciliação, de uma nova fase para o casamento”, afirma a psicóloga Heloísa Schauff, de São Paulo (SP).

Varrer a sujeira para debaixo do tapete não significa, no entanto, que não haja sofrimento. Ele acontece, sim, e em forte intensidade. “As mulheres traídas perdem a ilusão de que são únicas, especiais e insubstituíveis, fantasia que alimentam por muito tempo. A traição masculina é a prova de que elas podem ser trocadas ou que não completam os desejos masculinos. Só que elas sofrem muito mais pela perda dessa fantasia do que por uma questão moral”, fala Mirian Goldenberg.$escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2014/08/09/voce-e-capaz-de-trair.htm')Já os homens não se atêm muito às questões sentimentais. Para a maioria vítima da infidelidade feminina, o grande dilema não é a parceira ter ou não se apaixonado, mas ter transado com outro sujeito. A ferida é na própria masculinidade.

"Quando descobrem que foram traídos, não suportam a ideia de que são ‘cornos’, que os outros saibam que são 'cornos'. É mais um problema social, para eles”, comenta Mirian, que diz ainda que o medo de encarar a realidade e se sentir menos másculo faz com que alguns sejam acometidos por uma espécie de "cegueira voluntária". Eles preferem acreditar que as mulheres são fiéis, não querem saber a verdade nem que elas contem nada a respeito.

Uma nova postura masculina, entretanto, começa a se desenhar. “O homem tem dado muito mais vazão ao seu lado afetivo-emocional. Tem sentido-se mais vulnerável em relação aos conceitos que aprendeu e sobre o papel que a mulher tem exercido em sua vida”, conta Sandra.

A psicóloga Heloísa Schauff, que trabalha com terapia de casal, diz que os homens vêm se mostrando mais dispostos a perdoar a infidelidade e assumir sua cota de responsabilidade pelo o que aconteceu. Os que traem, por sua vez, têm experimentado sentimentos de culpa por quebrar a parceria com a mulher. “Isso vem acontecendo principalmente com a geração mais jovem, que já experimenta uma divisão maior de responsabilidades no relacionamento e no casamento”, comenta.