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Tem medo de viajar de avião? Voe com medo mesmo

Enfrente o medo de avião fará com que você tenha mais oportunidades na vida - Getty Images
Enfrente o medo de avião fará com que você tenha mais oportunidades na vida Imagem: Getty Images

Louise Vernier e Rita Trevisan

Do UOL, em São Paulo

03/12/2014 07h09

De acordo com o levantamento Injury Facts, realizado pelo Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos, em 2014, uma em cada sete pessoas morre de ataque cardíaco ou câncer, enquanto apenas uma em cada 8.357 é vítima fatal de um acidente aéreo. Porém, ainda que o meio de transporte seja um dos mais seguros que existem, muitas pessoas têm medo de viajar de avião.

Segundo a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), a fiscalização da segurança das aeronaves é prioridade e vai além das ações observadas nos saguões dos aeroportos. Atualmente, todos os aviões têm de ser certificados e os procedimentos adotados pelas empresas de aviação e aeroportos precisam ser habilitados pela agência.

Além disso, há todo um cuidado em relação a quem estará pilotando a aeronave. A ANAC exige um total de 1.500 horas de voo para conceder uma licença de piloto de linha aérea, o que corresponde a 62 dias completos no ar.

Para quem não se contenta com números e estatísticas, a boa notícia é que é possível superar a fobia de avião. "O cérebro é capaz de recondicionar o medo. A amídala cerebral, estrutura que funciona mais ou menos como a memória do medo, é reprogramada quando o indivíduo enfrenta a situação. Aos poucos, a pessoa passa a se sentir mais tranquila e segura, até que o problema é completamente resolvido”, afirma o psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, supervisor do Programa Ansiedade do IPQUSP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo).

Porém, é importante diferenciar o medo da fobia. “Ao contrário da fobia, o medo não impede o indivíduo de realizar as suas atividades. Então, mesmo se sentindo desconfortável, a pessoa que sente medo tentará enfrentá-lo”, explica o psicólogo Julio Peres, especialista em Neurociência e Comportamento pelo IPUSP (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo).

Já as fobias, que são muito mais limitantes, geralmente, estão associadas a acontecimentos passados, em que a pessoa experimentou significativo medo. Conforme explica Peres, locais, situações e sensações ligados ao fato podem disparar a memória do evento, ativando mecanismos de alerta, que indicam que o episódio traumático está para acontecer novamente, gerando sensações desagradáveis.

No caso da fobia de avião, de acordo com o psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, as causas podem ser divididas em três categorias: a fobia de avião propriamente dita, a agorafobia e a claustrofobia.

No primeiro caso, a pessoa tem pavor da possibilidade de estar no avião e algum acidente acontecer. Já o segundo tipo de fobia, muito confundido com o primeiro, está relacionado ao medo de passar mal enquanto estiver voando. “A pessoa tem receio de ter uma síncope dentro do avião”, afirma o psiquiatra. Por fim, quem é claustrofóbico pode evitar o meio de transporte com temor de ter uma crise por se sentir preso e sem alternativa de deixar a aeronave.

Segundo Neuza Corassa, psicóloga do Centro de Psicologia Especializado em Medos, nem todo mundo necessita de terapia para vencer a fobia, mas é importante organizar um plano para trabalhar a questão, o quanto antes. O primeiro passo para alcançar o controle é buscar o autoconhecimento, a fim de descobrir e atacar o foco do medo. “Ler sobre o assunto e prestar atenção em si mesmo, principalmente quando o medo surge, são boas estratégias”, diz Neuza.

Estratégias certeiras

Outra recomendação é enfrentar o sentimento de maneira progressiva. “O indivíduo deve passar a conviver gradual e repetitivamente com o ambiente do aeroporto. Primeiro, ele faz uma visita ao local; depois, leva ou vai buscar algum familiar que foi viajar e, na sequência, embarca para uma viagem de curta distância. Aos poucos, estará fazendo longas viagens. Mas é importante que voe mais de uma vez”, declara Mello.

Durante esse processo, é válido resgatar o repertório de vitórias, como conquistas no campo familiar, profissional, acadêmico. “Essas recordações ajudam a fortalecer a autoimagem de pessoa corajosa e vencedora”, afirma Peres.

Quando estiver com a viagem marcada, também é importante se preparar, para diminuir o nervosismo que bate antes do voo. E uma das orientações é praticar atividades físicas. “Os exercícios ajudam na produção de endorfina, hormônio responsável pela promoção do bem-estar e da sensação de relaxamento, o que é ótimo para combater a tensão muscular e a ansiedade”, explica a psicóloga Neuza Corassa.$escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2012/04/06/qual-e-o-seu-nivel-de-ansiedade.htm')

Programar-se para chegar com antecedência também é uma boa estratégia. Isso porque a ocorrência de atrasos ou contratempos costuma aumentar muito o nível de ansiedade.

Dentro da aeronave, procure imaginar que a viagem terá início, meio e fim, e que o destino lhe proporcionará coisas boas, como entretenimento ou excelentes negócios. E, por fim, não brigue com o medo. “A fobia de avião é um transtorno leve e que pode ser superado. Muitas pessoas perdem excelentes oportunidades na vida, tanto no que diz respeito ao lazer quanto ao trabalho, por conta do medo. Mas não vale a pena trocar de emprego, por exemplo, só por causa disso. É muito melhor procurar ajuda”, declara Mello.

Tratamentos específicos

Quem não consegue lidar com a fobia sozinho pode contar com o apoio de especialistas. Alguns, inclusive, desenvolveram tratamentos específicos para quem tem medo de avião. É o caso da psicóloga Neuza Corassa. “A duração do tratamento varia de acordo com o paciente, mas leva, em média, de 12 a 14 sessões”, explica a especialista.

Neuza realizada atendimentos para diagnosticar a causa da fobia e tratá-la. Depois, acompanhado da psicóloga, o paciente faz visitas ao aeroporto para se familiarizar com o local. Mas, para receber alta, ele precisará encarar a prova de fogo: voar de Curitiba (PR), onde fica o consultório da psicóloga, a São Paulo (SP).

“A viagem pode ser feita em minha companhia ou na companhia de alguém que o paciente escolher. Em muitos casos, voamos, almoçamos em um restaurante em São Paulo e, na sequência, voltamos. O importante é vivenciar a experiência do voo de maneira tranquila”, explica Neuza.