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Pessoas pegajosas são mais propensas a serem traídas e a trair

O pegajoso oprime o par, fazendo com que ele busque aventuras para "respirar" - Getty Images
O pegajoso oprime o par, fazendo com que ele busque aventuras para "respirar" Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

03/06/2015 07h10

Os casais que fazem tudo juntos e que, mesmo longe fisicamente, sempre dão um jeito de estar em contato, com ligações e mensagens no Whatsapp, por exemplo, não estão blindados contra a traição. Pelo contrário, o excesso de grude pode fazer com que recorram a aventuras amorosas como uma válvula de escape. A conclusão é de uma pesquisa conduzida pela Universidade Estadual da Flórida, nos Estados Unidos, e publicada, no fim de 2014, na revista “Psychology Today”.

De acordo com o psicólogo clínico Roberto Rosas Fernandes, analista junguiano pela SBPA (Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica), as pessoas pegajosas oprimem o parceiro e sufocam sua liberdade. “Elas fragilizam a relação, em vez de fortalecê-la, dando margem à insatisfação”, afirma.

Segundo Vanda Lucia Di Yorio Benedito, psicóloga pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo e autora do livro “Amor Conjugal e Terapia de Casal” (Summus Editorial), quem se sente carente e inseguro em um relacionamento pode se tornar uma pessoa exigente de amor e atenção.

“Esse comportamento provoca no outro um desejo de se ver mais livre, além da sensação de que, por mais que se faça, nunca será o bastante. A relação vai ficando cada vez mais pesada, o que pode levar o parceiro oprimido a buscar algo mais leve na vida”, diz Vanda.

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Codependência

Para Rosas, a razão de algumas pessoas serem pegajosas é baixa autoestima. A insegurança é tamanha que só conseguem se sentir alguém por meio do olhar do outro.

De acordo com o psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo Ferreira-Santos, doutor em ciências médicas pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e autor dos livros “Ciúme – O Medo da Perda” (Ed. Claridade) e “Ciúme – O Lado Amargo do Amor” (Ed. Ágora), desenvolve-se uma espécie de codependência com o par.

A busca desesperada pela presença do outro indica forte grau de carência. “Essas pessoas acreditam que o outro pode lhes dar o que não conseguem retirar de si mesmas: força, entusiasmo, alegria e, principalmente, segurança”, fala a psicóloga Vanda Lucia.

Na maioria dos casos, o comportamento teve início na infância em crianças que não foram estimuladas a desenvolver o amor próprio e que se mantiveram fixadas na relação de dependência com a mãe ou o pai. A consequência é transportar esse vínculo simbiótico para os parceiros.

Afeto sugado

Uma pessoa pegajosa, de acordo com os especialistas, é uma espécie de “vampira” emocional, que se alimenta do amor alheio, tentando sugar tudo o que o outro pode oferecer. Por esse motivo, segundo Ferreira-Santos, é muito difícil suportar a solidão ou a necessidade do par de ter vida própria.

“Quando se sentem deixadas de lado pelo parceiro de algum modo, mesmo que isso aconteça somente na cabeça delas, tornam-se mais vulneráveis às tentações”, afirma o psiquiatra.

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A propensão a trair de pessoas tidas como grudentas nos relacionamentos amorosos também foi um comportamento observado na pesquisa da Universidade da Flórida, citada na abertura desta reportagem. “Devido a uma busca infantil e ingênua por alguém perfeito, capaz de suprir todas suas faltas, podem se envolver com quem, pelo menos em um primeiro momento, acenem-lhe com essa possibilidade”, declara a psicóloga Vanda Lucia.

Para Rosas, o padrão só se rompe quando a pessoa com esse perfil se envolve com alguém mais sadio do que ela, que lhe imponha limites e ajude a encontrar outros interesses na vida.

O problema é que a conduta acaba estabelecendo um círculo vicioso entre alguns casais, em que o “sufocado” precisa do “grudento” para sobreviver. É fundamental que cada um questione se suas atitudes na relação estão sendo produtivas para o que eles querem retirar daquele vínculo e se desafiem para uma mudança. “Geralmente, cada um quer que o outro mude, mas só podemos mudar o que está em nós”, diz Vanda Lucia.