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Para "guru da dieta", top plus size faz esquecer perigo da obesidade

Tess não tem medo de mostrar suas curvas e suas tatuagens nas redes sociais - Reprodução/Instagram/@tessholliday
Tess não tem medo de mostrar suas curvas e suas tatuagens nas redes sociais Imagem: Reprodução/Instagram/@tessholliday

Thais Carvalho Diniz

Do UOL, em São Paulo

16/06/2015 18h27

 

Em uma entrevista polêmica à versão on-line do jornal britânico "Daily Mail", Steve Miller, conhecido como "guru das dietas", criticou o sucesso da modelo plus size Tess Holliday. Segundo ele, enaltecer a top significa tornar a obesidade normal, esquecendo os riscos que ela traz à saúde. Para Bruno Halpern, endocrinologista e diretor da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), a declaração de Miller reforça o preconceito contra pessoas acima do peso e não é totalmente verdadeira, já que é possível ser obeso e saudável.

De acordo com Halpern, ao perder 10% do peso --e adotando uma dieta equilibrada combinada à prática de exercícios físicos--, muitos obesos tornam-se saudáveis, a despeito de continuarem ostentando os quilos a mais. Segundo o periódico britânico, Tess se exercita com um personal trainer quatro vezes por semana e gosta de caminhadas e de natação.

Aos 29 anos, Tess tem 1,65 m de altura e veste manequim 58. Em janeiro deste ano, ela assinou contrato com a respeitada agência britânica MiLK Management, o que fez o assédio e a fama aumentarem.

A modelo americana é reconhecida no mundo da moda e foi nomeada pela "Vogue Itália" como uma das plus size mais influentes. Ela participou de uma campanha para a marca de cosméticos Benefit e também foi fotografada por David LaChapelle, renomado fotógrafo americano, para um projeto futuro. Nas redes sociais, Tess possui mais de um milhão de curtidas em sua página do Facebook e 800.000 seguidores no Instagram.

Miller reconhece que Tess desafia os padrões estéticos da indústria da moda e da beleza, mas afirma que isso não faz do excesso de peso uma coisa boa. "Ser obeso é perigoso, assim como ser excessivamente magro. Porém, a aceitação da gordura extrema que Tess está promovendo fará com que as estatísticas de obesidade aumentem", declarou ao site de notícias. "A última coisa de que precisamos é ver uma plus size nos mostrando o quanto é legal comer ‘junk food’", disse.

Halpern afirma que não é porque a pessoa é gorda que ela come mais do que alguém com peso adequado. A obesidade envolve mais do que a vontade do indivíduo. Há fatores como a genética. "A chance de um indivíduo obeso alcançar a faixa ideal de IMC (índice de massa corpórea) é muito pequena --com exceção de casos cirúrgicos. Por isso, a partir do momento que você é obeso, o importante é conseguir melhorar a saúde e não ter vergonha de si mesmo”, declarou Halpern em entrevista ao UOL Comportamento.

O brasileiro também afirma que a tese do inglês é uma bobagem: ninguém vai desejar ser gordo simplesmente porque a modelo o é.  “A obesidade é uma doença e não uma escolha ou hábito de vida. É importante discutir os riscos relacionados ao problema (como maior risco de problemas cardíacos e câncer, por exemplo), mas estigmatizar os gordinhos não é certo. Eles precisam ser tratados e, mais do que isso, precisam ter orgulho do que são”, disse o especialista.

Halpern espera que mais modelos como Tess apareçam no cenário mundial. “Para as pessoas em geral, é mais importante ter estratégias para não engordar do que tentar emagrecer depois, pois perder peso é muito difícil. Especificamente para os que têm excesso de peso, eles podem se sentir bem ou não com sua doença, mas colocá-los à margem da sociedade não vai ajudar em nada. Isso só aumenta o preconceito”, declarou o diretor da Abeso.