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Mercado de trabalho ainda é hostil com homossexuais assumidos

Onze por cento das empresas não contratariam homossexuais para certos cargos - Getty Images
Onze por cento das empresas não contratariam homossexuais para certos cargos Imagem: Getty Images

Yannik D´Elboux

Colaboração para o UOL

21/09/2015 07h25

Ser lésbica não atrapalhou a ascensão na carreira de Caroline Cardoso, 33, que ocupa um cargo comissionado em uma grande empresa, cujo nome ela prefere omitir. Contudo, depois da contratação, sua chefe lhe pediu para manter discreta sua orientação sexual, ou seja, não revelar para os colegas que é casada com outra mulher. “Ela fez isso no intuito de me defender, não queria que eu fosse chamada de sapatão”, diz.

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Por alguns meses, Caroline tentou permanecer no armário, mas depois de ouvir conversas homofóbicas no ambiente de trabalho, não achou certo continuar escondendo essa informação. “Não estava aguentando, resolvi falar”, conta, mais aliviada por não precisar fingir.

O respeito à diversidade tem avançado em diversos setores da sociedade. Porém, no ambiente de trabalho, a questão ainda é permeada por bastante preconceito e discriminação. 

Uma pesquisa realizada pela Elancers, empresa da área de sistemas de recrutamento e seleção, mostrou que 11% das empresas não contratariam homossexuais para determinados cargos, referindo-se a posições de liderança e nível executivo. O levantamento –divulgado em maio deste ano-- foi feito com mais de 2.000 recrutadores, de cerca de 1.500 companhias brasileiras.

“Funcionários executivos representam a imagem para o público e a empresa não quer sofrer com o preconceito”, diz Cezar Tegon, presidente da Elancers.
Na pesquisa, 7% dos entrevistados também disseram que não empregariam homossexuais declarados em nenhum cargo. “Na verdade, quase 20% têm algum tipo de discriminação”, fala o executivo.

Tegon também acrescenta que no discurso muitas empresas falam que apoiam a diversidade, mas, na prática, é diferente, conforme apontam os números.

Discriminação

A orientação sexual ainda influencia fortemente a maneira como os LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis) são tratados no dia a dia do trabalho.

Em um estudo com 230 profissionais LGBT, entre 18 e 50 anos, de 14 estados brasileiros, realizado pela consultoria de engajamento Santo Caos, 40% dos entrevistados disseram que já sofreram discriminação direta. “E todos relataram ter sofrido discriminação velada no trabalho”, fala Jean Soldatelli, sócio-diretor da Santo Caos.

Por medo de serem discriminados, demitidos ou terem sua capacidade profissional colocada em xeque, muitos profissionais preferem manter em segredo sua orientação sexual.

No levantamento da Santo Caos –também divulgado em maio deste ano--, somente 47% disseram se assumir no trabalho, sendo que desses 32% falaram para o chefe imediato e apenas 2% para o gestor de recursos humanos. “Isso mostra o despreparo das empresas com relação à diversidade”, afirma Soldatelli.

Segundo o sócio-diretor da Santo Caos, o problema dificulta o engajamento dos funcionários com a empresa, o que influencia na satisfação das pessoas com o ambiente do trabalho, na produtividade e, consequentemente, nos resultados.

Sair do armário

Apesar de muitas empresas não saberem lidar bem com a diversidade, já existem iniciativas, sobretudo de multinacionais, para mudar esse cenário. Na IBM Brasil, desde 2005, é realizado um trabalho de redes de relacionamento, em que os funcionários se reúnem para discutir a questão. Além disso, a diversidade é contemplada em toda comunicação da empresa.

Também há a possibilidade de se identificar como LGBT na página de recursos humanos da IBM Global. Mas nem sempre esse trabalho é suficiente para que as pessoas se sintam confortáveis para assumir sua orientação sexual.

“Mesmo sabendo das políticas de igualdade, alguns funcionários têm medo de se identificar com receio de que deixem de ser promovidos por serem LGBT”, diz Adriana Ferreira, líder de diversidade na IBM Brasil.

Além do grupo daqueles que saíram do armário, a empresa tem também uma lista secreta dos funcionários que ainda não querem revelar sua orientação ou estão no processo de autodescoberta. A IBM Global possui uma comunidade de executivos assumidos, porém, no Brasil, ainda nenhum funcionário de alto escalão se posicionou como LGBT.