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Como ter alguma crença pode ajudar na recuperação de doenças

Tereza Cristina Richter se apegou à fé para enfrentar o tratamento de um câncer de mama - Arquivo Pessoal
Tereza Cristina Richter se apegou à fé para enfrentar o tratamento de um câncer de mama Imagem: Arquivo Pessoal

Luciana Mattiussi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/07/2016 07h15

Em 2011, a professora aposentada Tereza Cristina Richter, 66, de Curitiba, foi diagnosticada com câncer de mama. Durante o tratamento –que durou dois anos e consistiu na retirada dos seios, 32 sessões de radioterapia e operação de reconstrução--, ela ficou viúva. A despeito das dificuldades, ela se curou e atribui à fé seu restabelecimento. “No dia que peguei o resultado da biópsia, fui a uma igreja e pedi a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que não me deixasse desanimar.”

Curada, Tereza diz que tem certeza de que Deus deu a ela uma nova chance. A despeito de qual seja a crença do doente, a ciência tem atribuído a ela papel importante na recuperação da saúde.

Segundo uma análise de estudos com mais de 44 mil pacientes publicada na revista “Cancer”, da Sociedade Americana do Câncer, em 2015, a fé é realmente benéfica no tratamento de doenças. Os resultados dessas pesquisas indicam que a religião e a espiritualidade têm associações significativas com a saúde dos doentes.


Outro estudo, divulgado em 2009 e que envolveu mais de 126 mil pessoas, mostrou que as pessoas que frequentam cultos religiosos pelo menos uma vez por semana têm 29% mais chances de aumentar os anos de vida comparadas àquelas que não frequentam. 

Por meio da análise de quase 250 artigos de todo o mundo, o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, de São Paulo, concluiu que a prática regular de atividades religiosas –quaisquer que sejam elas– pode reduzir o risco de morte em 30%.

Reforço de imunidade

Segundo especialistas do Neres (Núcleo de Estudos sobre a Religiosidade Espiritualidade em Saúde), do Hospital Israelita Albert Einstein, também da capital paulista, o impacto da crença aconetece pois a pessoa com a espiritualidade desenvolvida tem um estado mental que induz ao equilíbrio neurofisiológico e dos hormônios, além de maior imunidade. Fora isso, quem tem fé também costuma ter um maior comprometimento com a saúde.

“Pessoalmente, acredito que alguns indivíduos encontram na fé alguma paz que os norteia para um autocuidado melhor e para uma melhor interação com família e equipes de profissionais de saúde”, afirma Rafael Schmerling, oncologista do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Mestranda em psicologia e religião pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, Maura de Albanasi destaca que a importância da fé está no fato de trazer esperança e a possibilidade do milagre.

“Existem vários estudos que comprovam uma recuperação mais rápida em pessoas que possuem algum tipo de fé. Acredito que é porque elas se sentem ligadas a algo maior. Essa certeza traz uma tranquilidade que auxilia o sistema imunológico a uma recuperação”, fala a especialista.

Para a também psicóloga Renata Yamasaki, da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Instituto Sedes Sapientiae, de São Paulo, a fé tem um efeito calmante, cuja consequência é a diminuição da ansiedade, bem como do medo de enfrentar o que parece incerto, além de ser capaz de gerar mudanças no comportamento.

“O indivíduo consegue manter o equilíbrio nos pensamentos e atitudes. A espiritualidade também ajuda a combater a depressão, já que atenua os sentimentos de amargura, raiva, estresse”, diz Renata. 

Por mais que a fé seja importante em um tratamento médico, seu excesso pode ter efeito contrário, sendo altamente prejudicial. O ideal é saber dosar as crenças com o trabalho da medicina.

“Há pessoas que perdem oportunidades de tratamento aguardando milagres ou impõe restrições de cuidados por crenças religiosas. É importante entender que a fé não substitui a medicina, bem como a medicina não substitui a fé. Ambos podem caminhar juntos, em harmonia”, declara o oncologista Schmerling.