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Nem tudo é TPM; saiba diferenciar sintomas de sentimentos

É comum confundir a proximidade da menstruação com outros problemas que chegaram antes - Getty Images
É comum confundir a proximidade da menstruação com outros problemas que chegaram antes Imagem: Getty Images

Yannik D'Elboux

Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro

05/08/2016 11h22

Toda mulher passa pela fase pré-menstrual, porém esse período não precisa estar automaticamente associado à TPM (tensão pré-menstrual). Os hormônios femininos produzem, de fato, alterações físicas e emocionais importantes, mas não são os únicos culpados por todos os rompantes de raiva, irritação e insatisfação.

Culturalmente, homens e mulheres se acostumaram a rotular qualquer problema de humor feminino como TPM. Com essa banalização, aquelas que realmente sofrem com os sintomas não buscam ajuda, por achar que o que sentem é normal, e quem enfrenta outras dificuldades não percebe que a menstruação está longe de ser a responsável.

“Continuamos a reduzir as mulheres à sua biologia e a concluir precipitadamente que qualquer dificuldade emocional deve ser causada pelos hormônios ao invés de pensar que elas podem estar sob muito estresse”, afirma a psiquiatra Sarah Romans, professora do departamento de Psicologia Médica da Universidade de Otago, na Nova Zelândia. Após revisar 47 estudos sobre humor e ciclo menstrual, Sarah observou que a maioria não foi capaz de provar com clareza a existência da TPM na população em geral. Apenas 15% das pesquisas encontraram uma associação entre problemas de humor e a fase pré-menstrual.

Segundo a professora, na análise dos registros médicos ficou evidente que as alterações de humor aconteciam durante todo o ciclo e grande parte não tinha relação com a menstruação. Se para a ciência a TPM não é a principal culpada, por que tantas mulheres sofrem com irritação, tristeza e cansaço? Para Sarah, essas emoções são resultantes do estilo de vida da mulher atual, com excesso de responsabilidades e pressão. “Queremos que as mulheres nunca fiquem bravas, sejam sempre doces e amorosas, mas, paradoxalmente, a sociedade permite a elas que se sintam irritadas por um curto período todo mês”, fala.

Também é comum confundir a proximidade da menstruação com outros problemas que chegaram antes. “Há uma exacerbação pré-menstrual das patologias já existentes. O diabetes, a ansiedade e várias doenças orgânicas e psíquicas pioram nessa fase”, explica o ginecologista Eliezer Berenstein, autor do livro “A Inteligência Hormonal da Mulher” (Editora Objetiva). Segundo o médico, a maioria das mulheres tem fluxos menstruais com sintomas leves, entretanto de 20 a 30% apresentam sintomas moderados e de 5 a 8% severos ou incapacitantes.

A servidora pública Andreia Chulvis, 41, de São Paulo, acostumada a observar o próprio corpo, percebe bem as influências do seu bem-estar físico e emocional no ciclo menstrual. Ela pode tanto não sentir nada, como ficar mais raivosa ou chorosa, dependendo do mês. “A TPM tem muito a ver com meu estado emocional também, quando não estou bem a TPM vem com força, potencializa meu estado emocional anterior”, diz. Sensível às mudanças, Andreia busca respeitar os sinais do seu corpo e se cuidar para evitar a tensão.

Pelo menos cinco sintomas

A TPM é uma das manifestações da síndrome pré-menstrual, caracterizada pela presença de cinco ou mais sintomas, como dor nas mamas, inchaço e irritabilidade, por dois ou mais ciclos menstruais consecutivos. Já foram descritos até 150 sintomas relacionados à síndrome, que desaparecem após a menstruação.

Para a ginecologista J.S., de Santa Catarina, autora da página Ginecologista Sincera no Facebook, que levantou recentemente a polêmica sobre o que não é TPM, uma maneira simples de perceber quando o problema não é menstrual consiste em observar se ele dura mais do que esse período. “É importante notar se tem algum sintoma físico junto com a irritabilidade, como dor de cabeça, nas pernas, edemas. Os sintomas associados e a repetição deles são o principal para saber se existe algo relacionado ao status hormonal ou é apenas estresse do dia a dia”, explica a ginecologista, que prefere ser identificada apenas com suas iniciais para poder continuar sendo sincera na rede social.

A síndrome pré-menstrual é desencadeada por um desequilíbrio nos hormônios sexuais femininos: estrogênio e progesterona, que regulam o ciclo reprodutivo. Não se sabe exatamente quais são todos os fatores responsáveis por essa alteração. Segundo o ginecologista Eliezer Berenstein, a principal causa é o estresse. “A TPM é uma doença tipicamente urbana e moderna, só foi descrita pela primeira vez em 1931 como uma tensão na fase pré-menstrual”, diz.

Mudanças naturais

Socialmente, a TPM e as mudanças hormonais são usadas como uma maneira de estigmatizar as mulheres como seres mais instáveis emocionalmente ou incapazes. Para Berenstein, falta aos homens e, até mesmo às mulheres, a capacidade de compreender todas as nuances de cada fase do ciclo reprodutivo. O médico explica que as duas fases do ciclo, do primeiro dia da menstruação até o 14º dia, quando geralmente ocorre a ovulação, e do 15º dia em diante, são bem distintas.

“Na primeira fase, a mulher tem mais características de conquistadora e há o domínio do estrogênio”, explica Berenstein. Nesse período, ela fica mais disposta, alegre, extrovertida, competitiva, atenta, além de estar com a pele macia, cabelos saudáveis, voz mais modulada, mais libido, pouca fome e com a vagina mais úmida.

“Já na segunda fase, a mulher tem mais características maternais e há o domínio da progesterona”, fala o ginecologista. Nessa fase, ela fica mais introspectiva, cansada, dócil, sensível, protetora, compreensiva, pode ter mais fome, dores de cabeça e agressividade, além de estar com a vagina mais seca.

Os homens não passam pelas mesmas alterações, pois estão sujeitos apenas aos efeitos da testosterona, único hormônio sexual masculino. 

O tratamento para a síndrome pré-menstrual é individualizado, porém reduzir carboidratos, laticínios, fazer atividade física e respeitar a necessidade de sono são cuidados que ajudam quem sofre com o problema.