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Natal da crise: saiba como explicar ao seu filho que o presente não vem

Se um adulto promete uma coisa para uma criança e deixa de dar, ela vai ficar chateada - iStock
Se um adulto promete uma coisa para uma criança e deixa de dar, ela vai ficar chateada Imagem: iStock

Do UOL

22/12/2016 07h00

A história do Papai Noel, o senhor de barba e cabelos branquinhos que, junto com seus assistentes fabrica brinquedos no Pólo Norte para oferecer àqueles que se comportaram bem durante o ano, é contada há décadas pela maioria dos pais aos filhos pequenos. E eles tendem a acreditar que o Papai Noel sempre vai realizar seus desejo. Mas como a magia do Natal pode resistir a uma crise econômica como a que estamos vivendo?

Abuse do lúdico
Na hora de conversar com o filho a respeito de um presente que não vem, ou que irá ser um pouco diferente do que ele imagina, uma boa saída é explicar usando elementos desse mesmo universo lúdico, ensina a educadora financeira com especialização em crianças, Cássia D´Aquino. “Se um adulto promete uma coisa para uma criança e deixa de dar, ela vai ficar chateada. Mas ele pode dizer que o Papai Noel já está velhinho, tem que presentear crianças do mundo todo e, no trenó, pode não caber tudo o que elas pedem”, explica.
A sugestão é que os pais deem ao filho a ideia de escrever uma cartinha listando vários pedidos, garantindo que pelo menos alguns estejam de acordo com o orçamento da família. “O pai pode dizer algo como: ‘Vamos dar mais opções ao Papai Noel, caso ele não consiga comprar esse que você tanto quer’”, diz Cássia. Os adultos também podem ajudar a criança a recordar itens de valor mais acessível, que já tenham mencionado o desejo de ganhar durante o ano, em outras ocasiões.

Diferente, mas especial
Outra alternativa é que os pais façam o contrário: escrevam uma carta para o filho, como se fossem o Papai Noel, sugerindo presentes e pedindo que ele escolha entre os itens selecionados. “Dessa forma, além de a criança se sentir envolvida no processo, os pais minimizam a chance de uma surpresa desagradável na noite de Natal”, diz a psicóloga Fabíola Luciano, especialista em Terapia Cognitiva Comportamental pela USP (Universidade de São Paulo).

Mas e se ela se sentir preterida pelo Papai Noel, já que outros coleguinhas ganharam os brinquedos pedidos? “Vale dizer que o Papai Noel queria que ela cuidasse daquele brinquedo, ao mesmo tempo em que você tenta mostrar para ela como aquele item pode ser tão especial quanto o outro”, diz Sylvia Caram, especialista em Educação Infantil pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro. “Muitas vezes, um brinquedo que parece simples, quando bem apresentado, conquista a criança”, afirma Sylvia.

Faça você mesmo
Se a família não tem condições de comprar nenhum bem material para presentear a criança, o ideal é que o contexto de magia e afeto que cerca a data não seja abandonado. Nesse caso, uma outra carta pode ser escrita pelos pais e assinada pelo Papai Noel. “O texto deve incentivar a criança a convidar a família para montar um presente personalizado. Eles terão que pensar juntos o que podem fazer – o que não só vai render um brinquedo muito diferente, mas um ótimo momento em família”, diz a psicóloga.

Natal não tem a ver com dinheiro
O educador financeiro Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros, sugere outra ideia para um Natal sem gastos. “Que tal, neste ano, a criança receber a responsabilidade de se transformar em um ‘Papai Noel mirim’ e presentear outras crianças, de poder aquisitivo menor, doando alguns de seus brinquedos e roupas?”, diz Domingos.

Os especialistas explicam que o espírito natalino está ligado à confraternização e à solidariedade e não deve ser confundido com consumismo. “A figura do Papai Noel – um homem que ajuda as pessoas no Natal - transmite a mensagem de que o dinheiro não é um fim em si mesmo, mas um meio para realizar sonhos: tanto os nossos, quanto os de outras pessoas”, diz Reinaldo Domingos.

Lidando com a frustração
O presente deve ser encarado apenas como um símbolo do sentimento de quem está presenteando. Por isso, é essencial que os pais comprem itens que estejam de acordo com as suas possibilidades financeiras. Da mesma forma, a criança precisa aprender a reconhecer outras formas de amor. Ela pode até se frustrar no início, mas certamente vai evoluir a partir da experiência. “Se o presente do amigo é melhor, tudo bem, é natural que haja tristeza. Mas essa tristeza não pode ser grande o suficiente para fazê-la desvalorizar aquilo que ganhou”, diz Fabíola. Cabe ao pais incentivá-la a criar meios de alcançar o que deseja futuramente. “Assim, os pais garantem a tolerância à frustração, mas não criam um padrão de acomodação, que pode ser prejudicial”, diz a psicóloga.