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Existe vida após muitos anos na mesma firma; inspire-se com duas histórias

Adriana Nogueira

Do UOL

06/02/2017 04h00

Só quem construiu a maior parte da carreira em uma única empresa sabe o susto que é ser demitido. A seguir, duas histórias de pessoas que resolveram construir uma nova identidade.

"Tive crise de ansiedade"

mirele rezende, personagem de matéria de UOL Comportamento sobre pessoas que trabalharam muitos anos na mesma empresa - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

 “Trabalhei 25 anos na Unimed [plano de saúde], onde fui gestora de novos negócios e coordenadora de eventos. Quando saí, há sete anos, fiquei deprimida porque perdi o sobrenome. Até hoje, as pessoas me veem como a Mirele da Unimed. Com a demissão, tive crise de ansiedade, a ponto de ter de ser medicada. Beirei a síndrome de pânico. Para piorar, era separada e com dois filhos [hoje com 16 e 18 anos] para sustentar. Durante uns três meses, tentei encontrar trabalho na minha área, mas meu salário era alto e ninguém cobria. Resolvi empreender e abri uma empresa de viabilização de negócios e captação de recursos. De lá para cá, prestei serviços para algumas empresas nesse segmento. No início do ano passado, percebi que a crise no Brasil estava afetando sobretudo os profissionais liberais, notadamente da área de estética. A maioria dos coworkings são para pequenas empresas ou médicos, advogados. Então pensei em abrir um com foco em bem-estar, saúde e beleza. A minha experiência na Unimed mostrou que, antes da doença física, vem a emocional. O negócio consiste em alugar salas com custo baixo para terapeutas holísticos, massagistas, entre outros profissionais, e ajudar na captação de clientes. Hoje ganho mais do que ganhava como funcionária, mas trabalho o dobro (risos). Estou me preparando para puxar o freio e treinar pessoas para dividir responsabilidades.” (Mirele Rezende, 46 anos)

"Tenho que economizar, mas nunca fui tão feliz"

Roque Moreira com a mulher, Andresa, personagens de matéria de UOL Comportamento sobre ficar muitos anos na mesma empresa - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

 “Trabalhei durante 21 anos em uma empresa do ramo de captura de transações eletrônicas. Da maquininha laranja de cartões, sabe? Era coordenador de projetos. Minhas filhas [hoje com 18 e 23 anos] nunca tinham me visto trabalhando em outro lugar. Em novembro de 2015, fui comunicado que minha vaga na área deixaria de existir por conta de reestruturação da companhia e redução de custos e que entraria em um processo de realocação interna por um mês. Ou seja, naquele momento, dependia unicamente do meu esforço conseguir uma vaga em outra área, mas não tinha muito o que fazer. A companhia estava cortando custos, logo, tornava inviável a alocação de um funcionário com a minha experiência e meu salário. Não esperava de forma alguma pela demissão, mas não me assustei. Fui oficialmente desligado em 13 de janeiro de 2016. Tinha duas opções: aceitar a minha condição e partir para o mercado ou ficar lamentando, tentando encontrar o motivo para o que aconteceu. Não perdi meu tempo e escolhi a primeira alternativa. Durante quatro meses, tentei arranjar outro emprego na área. Não consegui e decidi empreender. Eu e minha mulher pensamos em abrir um lugar que reunisse coisas que sempre gostamos. Vinhos, boa comida, produtos artesanais, daí, surgiu o Empório Bonté [que funciona no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo]. Como pensamos logo em um comércio, sabíamos que teríamos de trabalhar de segunda a segunda. O faturamento ainda não é compatível com a minha renda de antes. Por isso, hoje, seguimos nos privando de algumas coisas e economizando em outras, mas posso dizer que nunca trabalhei tão feliz.” (Roque Moreira, 43 anos, na foto, com a mulher, Andresa)