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Estagiário demitido recebe oferta de estágio de marca acusada de machismo

O estagiário Gabriel Vaz foi demitido após postagens sexistas no Facebook - Reprodução/Facebook
O estagiário Gabriel Vaz foi demitido após postagens sexistas no Facebook Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL

09/02/2017 10h54

O estudante Gabriel Vaz, que era estagiário de engenharia civil do grupo Cantareira, foi desligado da empresa após posts no Facebook que foram considerados pela empresa como sexistas e extremistas. E, no fim da noite de terça-feira (8), ele revelou em sua página no Facebook que recebeu uma oferta de estágio "novo e melhor" da empresa Alezzia, que já foi acusada de usar propagandas machistas que objetificam às mulheres.
 

Em sua página do Facebook, a empresa Alezzia se manifestou sobre o caso de Vaz como "A treta do estágiário" e afirmou que o jovem estava em um momento de criatividade e resolveu "lançar a polêmica dele". "Nós aqui, tirando a palavra 'aborteira', achamos que foi dentro dos limites da zoeira normais. A punição dele para nós foi desproporcional, até porque não havia nenhum tipo de referência a empresa. Era claramente uma opinião particular", escreveram em nota.
 

“Inclusive a empresa [grupo Cantareira] postou aquela frase : "Lugar de mulher é onde ela quiser". Tanto concordamos que deixamos a Alezzia onde ela quer. Veja como ela está ótima nessa foto. Bem ao natural na natureza...”.

Polêmica da Alezzia

No fim do ano passado, a marca de móveis de aço inox causou revolta com alguns usuários do Facebook quando começou a publicar imagens de mulheres com maiô ou biquíni anunciando seus produtos, em um contexto difícil de entender. Após as publicações, os seguidores da página passaram a criticar veementemente a postura da empresa e condenaram a objetificação da mulher. Mas a marca não se importou com a repercussão negativa e começou a responder os seguidores com ironia.

A empresa Alezzia foi acusada por seguidores no Facebook de posts machistas - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

 

Tudo ganhou proporções ainda maiores quando um usuário postou uma reclamação sobre a empresa, diminuindo a nota da empresa na rede social. Foi ai que a marca fez um desafio: se os seguidores conseguissem baixar a nota da marca no Facebook para 1.1 até janeiro de 2017, ela ganharia um cupom de R$ 10 mil para gastar na loja virtual da empresa. Caso não conseguisse, a AACD (Associação de Apoio a Criança com Deficiência) ganharia um cupom de R$ 5 mil e, se a avaliação chegasse a 4, a mesma entidade receberia R$ 10 mil.
 

Na época, nem a tentativa de “boa ação” foi capaz de conter as críticas, que fizeram com que a avaliação da empresa caísse para 2.2. No dia da publicação desse texto, no entanto, a Alezzia tinha nota de 3.8 e fez um post com o resultado do desafio. “Como a nota chegou bem próximo da meta de 4.0, a gerência da Alezzia decidiu que a doação será de R$ 10 mil para a AACD ou outra entidade tão séria quanto”. A empresa quer que seus seguidores postem o nome de quatro entidades sérias, com mais de 10 anos de existência, para fazer uma votação e levar o prémio.
 

Polêmica do estagiário

Vaz tirava fotos dentro dos empreendimentos que trabalhava no grupo Cantareira com legendas, como "Procurando alguma feminista para ajudar a descarregar [o caminhão] ... Direitos iguais até a carga de cimento" ou "Analisando um projeto hidrossanitário da rede de esgoto por onde vai passar os argumentos das feministas, aborteiras e etc...".
 

Em nota, o grupo afirmou que, ao tomar conhecimento dessas postagens com teor sexista e extremista, optou pelo desligamento do estagiário da equipe. "Apesar das fotos terem sido feitas em nossos empreendimentos, ressaltamos que não reflete a opinião do grupo, mas particular [do estagiário]", afirma.
 

Vaz não reagiu bem à demissão. Além de fazer críticas ao dono da construtora que, segundo ele, é um deputado federal que votou contra a operação Lava-Jato, ele alegou que estava com três salários atrasados. "Houve uma conversa para que eu apagasse os posts bem-humorados que foram feitos enquanto estagiava lá com três meses de salários atrasados. Hoje, me desvinculo dessa empresa caloteira, que está usando essa situação para ficar bem na imagem pública, abalada por atrasos e calotes. Censurado por uma opinião divergente. Sigo firme na defesa da verdade", escreveu em sua página no Facebook.
 

Apesar desse posicionamento, mais tarde, o jovem usou sua conta no Facebook para frisar que as postagens eram apenas brincadeiras. "Quero frisar que foi uma brincadeira, brincadeira essa entre meus amigos, que pensam como eu, em nenhum momento tive a intenção de ofender ninguém. As pessoas que se ofenderam, desculpe-me, nunca imaginei que teria a repercussão nacional que teve. As coisas saíram do controle e pela minha família, pelos amigos, pela empresa, pelas pessoas que me seguem: DESCULPEM-ME entendam o post como realmente foi, uma piada", escreveu.
 

Em nota, o grupo Cantareira afirmou que está em processo de recuperação judicial, mas segue os prazos e cronogramas estipulados pelo juiz para o pagamento dos salários. “A crise no setor da construção civil fez com que muitas empresas fechassem e demitissem os colaboradores. Contudo, mesmo com dificuldades diante do cenário econômico, o grupo Cantareira segue com os empreendimentos, honrando seus compromissos. Quanto ao salário, apenas o pagamento de janeiro, que deveria ter sido pago no dia 06 de fevereiro, será feito nos próximos dias. Não procede as afirmações do ex-colaborador”, afirmou.
 

Além disso, a empresa ainda reiterou que nada justifica o posicionamento sexista e o discurso de ódio do ex-estagiário. “Acreditamos que este é um posicionamento e crença pessoal e não tem relação com as possíveis justificativas dadas por ele. Mais uma vez ressaltamos que o posicionamento do ex-colaborador não reflete a ideologia dos sócios, nem a missão do grupo”.