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Medo de ser demitido? Entenda o que está por trás dele e como reagir!

Daniela Carasco

do UOL, em São Paulo

19/01/2018 04h00

Você teme perder o emprego? Sente angústia só de pensar? Calma, você não está só. O medo da demissão é o segundo que mais aflige os brasileiros, perdendo só para violência, segundo uma pesquisa já realizada pela Isma-BR, que se dedica à prevenção e tratamento do estresse no mundo. Mas o que, afinal, está por trás deste sentimento? Especialistas listam fatores externos e internos, ambos contornáveis. Então, se você passa por isso, precisa ouvi-los.

Estudos do Instituto Gallup indicam que se sentir bem no trabalho é um elemento essencial para a conquista do bem-estar na vida. “Hoje, o trabalho é, no mundo inteiro, fundamental para a felicidade”, conta Flora Victoria, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching e mestre em psicologia positiva. “Mas, quando tomado pelo medo, paralisa e gera problemas.”

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Quando ele vem de fora

Crise econômica, condições precárias de trabalho e relações tóxicas com o chefe são três fatores externos que deixam o terreno fértil para o medo da demissão dar as caras. “Cada vez mais, as pessoas têm que ser ‘diferentes’ e excepcionais para que permaneçam em seus cargos. Diante de uma filosofia cada vez mais comum das empresas que prezam por equipes enxutas, mas superprodutivas, isso gera preocupação”, explica Fernando Elias José, psicólogo e consultor de empresas.

Quando ele vem de dentro

Existem ainda fatores psicológicos capazes de agravar o quadro. Segundo Flora, são quatro os principais apontados pela psicologia cognitiva.

  • Sensação de incompetência: Falta de habilidade do indivíduo de atingir uma determinada realização ou desempenho. Por isso, está muito relacionada à baixa autoestima. Ela não se dá conta do próprio valor.
  • Autoeficácia baixa: Quando a pessoa está convicta de que não é capaz de executar uma tarefa específica ou então de lidar com a ausência do trabalho em sua vida, caso perca o emprego.
  • Falta de esperança: Incapacidade de pensar em alternativas e colocá-las em ação, como o famoso plano B.
  • Falta de resiliência: Quando alguém não tem a capacidade de lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, resistir a pressões adversas e superar obstáculos.

A tal síndrome do Impostor

Vale incluir entre os combustíveis do medo o sentimento de ser descoberto como fraude por superiores ou colegas de trabalho, a chamada síndrome do impostor. O termo foi cunhado em 1978, pelos psicólogos Pauline Clance e Suzanne Imes, para definir a incapacidade de aceitar realizações e o próprio sucesso. 

“A pessoa que sofre com essa síndrome acha que, por alguma razão, ela está naquele trabalho por sorte ou indicação, não por competência, mesmo que ela olhe para trás e veja que construiu uma carreira promissora”, explica Fernando.

É comum ter medo de ser demitido?

De maneira geral, Flora explica que o medo é uma emoção de sobrevivência que todo mundo tem. A diferença está em como as pessoas lidam com ele. “Pessoas bem-sucedidas não só percebem o sinal do medo, como encontram condições para lidar com ele o mais rápido possível. Muitos, inclusive, se sentem motivados diante da insegurança que esse sentimento é capaz de gerar”, diz. “Por exemplo, diante de uma crise econômica, elas já começam a pensar no plano B.”

Isso justifica o fato de 11 milhões de empresas terem sido criadas nos últimos 3 anos, no Brasil. Período de absoluta instabilidade econômica.

Quais são os sinais físicos do medo

Apesar de não parecer palpável, ele pode emitir sinais bastante concretos, que podem levar inclusive a uma autossabotagem. No corpo, ele pode provocar dor de cabeça, desconfortos musculares, problemas estomacais, taquicardia e até sudorese. “Em algumas situações, o corpo grita”, explica o psicólogo.

Agora, quando se olha da perspectiva comportamental, o que se vê é insegurança -- mesmo quando a pessoa já está acostumada com aquele trabalho --, ansiedade, baixa produtividade e erros recorrentes.

Aprenda a enfrentá-lo

O primeiro passo para tentar se livrar dele é se questionar, buscando dados concretos. “Isso ajuda a alicerçar o medo”, garante Fernando. Comece com três perguntas básicas:

  • Como está a minha empresa financeiramente?
  • Quantos foram demitidos à minha volta?
  • Por que elas foram demitidas?

“Essas questões ajudam a ter noção da realidade e a entender se o sentimento tem fundamento ou faz parte apenas de uma histeria coletiva”, acrescenta ele. Agora, quando a saúde está sendo prejudicada e as respostas para essas dúvidas ainda geram angústia, é o momento de procurar ajuda médica.

Os gestores têm papel fundamental

Ainda que pareça individual, o processo de combate ao medo de demissão passa também pelos líderes. “Cabe a eles o papel de avaliar resultados e dar feedbacks consistentes, que valorizem a capacidade dos funcionários. Agindo desta maneira, ele não só ameniza o sentimento negativo, como melhora a produtividade e satisfação da equipe como um todo. Isso é o que chamamos de um líder positivo”, finaliza Flora.