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Saiba quando é melhor optar por orgânicos para alimentar as crianças

Se for escolher um alimento orgânico, veja se ele tem selo de certificação reconhecido pelo governo - Thinkstock
Se for escolher um alimento orgânico, veja se ele tem selo de certificação reconhecido pelo governo Imagem: Thinkstock

Daniela Venerando

Do UOL, em São Paulo

20/11/2012 07h34

A busca por produtos orgânicos vem ganhando força no mundo. Nos Estados Unidos, a onda tem como apoiadora a primeira dama do país, Michelle Obama, que cultiva uma horta na Casa Branca e defende a alimentação saudável, tendo escrito até um livro, "American Grown: The Story of the White House Kitchen Garden and Gardens Across America" ("Cultivado na América: A História da Horta da Casa Branca e de Hortas pela América", sem edição em português). Diante de tanto apelo, seriam os alimentos orgânicos fundamentais para a alimentação de bebês e crianças?

"São melhores do que os convencionais, porque estão livres de defensivos (agrícolas), mas não precisam ser uma prioridade para as mães preocupadas com a alimentação dos filhos. Para famílias de baixo poder aquisitivo, por exemplo, não vale o custo benefício, já que os produtos são muito mais caros do que os convencionais", afirma o pediatra Fabio Ancona Lopez, membro do Departamento de Nutrição da SPSP (Sociedade Paulista de Pediatria).

Medidas de precaução

Segundo a nutricionista Glauce Hiromi Yonamine, supervisora do ambulatório do Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, é possível eliminar um pouco do agrotóxico ao selecionar e preparar alimentos seguindo algumas recomendações:

- Dê preferência a frutas e verduras da época, pois elas necessitam de menos agrotóxicos;

- Lave bem os alimentos para reduzir a presença de substâncias na superfície;

- Retirar as cascas de frutas e legumes e as folhas externas de verduras ajuda a eliminar os agrotóxicos de superfície;

- A higienização com hipoclorito de sódio é importante para eliminar micro-organismos, mas não acaba com os agrotóxicos. No entanto, o procedimento ajuda a reduzir entre 10% e 20% do agrotóxico de contato (o que é despejado sobre a planta e não passa para dentro dela).

O pediatra Sidney Federmann, especialista em alimentos funcionais do Hospital São Luiz, em São Paulo, tem a mesma opinião. "A prioridade deve ser uma alimentação saudável e variada, com frutas, verduras, legumes, carnes, feijão, leite e derivados e cereais. Sejam eles orgânicos ou não. Além disso, não há uma pesquisa conclusiva afirmando que os orgânicos são mais nutritivos do que os convencionais".

Um dos estudos que constatou que não há evidências científicas de que os alimentos orgânicos apresentam vantagem significativa em relação ao valor nutricional foi conduzido pela Academia Americana de Pediatria. No entanto, a entidade não desestimula seu consumo, já que eles não contêm agrotóxico, além de serem cultivados de forma menos nociva ao meio-ambiente.

Já Sônia Stertz, pesquisadora da UFPR (Universidade Federal do Paraná), fez sua tese de mestrado sobre alimentos orgânicos e afirma que eles são sim mais nutritivos do que os cultivados de forma convencional. “Eles têm mais nutrientes, como vitamina C, fibra alimentar e outros minerais importantes para a saúde, como ferro, potássio e selênio”, declara a especialista.

Crianças: mais expostas

Pesquisas à parte, a grande questão para os defensores da onda verde é o nível de pesticidas nos alimentos cultivados de forma convencional, que está relacionado a alguns problemas, como hiperatividade, distúrbios de comportamento, atrasos de desenvolvimento, disfunção motora e até câncer. A maior parte dos casos, porém, ocorre com os trabalhadores que lidam diretamente com as substâncias. Na população em geral, as crianças são as mais expostas aos riscos.

Segundo um estudo da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, alimentos com alto índice de agrotóxico afetam dez vezes mais crianças do que adultos, além de terem efeito cumulativo ao longo da vida. Segundo o pediatra Sidney Federmann, as crianças são as mais afetadas por causa do baixo peso.

Apesar dos riscos sabidos, o Brasil é o campeão no uso de defensivos químicos nas plantações, superando os Estados Unidos. Em 2010, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou o "Para" ("Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos") com amostras de 20 itens. A conclusão foi que 28% do total das 3.130 amostras coletadas apresentavam limites de agrotóxico acima do recomendável ou tinham substâncias não aprovadas para uso.

Campeões de agrotóxicos

Se for optar por alimentos orgânicos para a sua família, é importante ficar de olho em algumas recomendações, de acordo com José Pedro Santiago, diretor da IBD Certificações, certificadora de produtos orgânicos. A primeira delas é verificar se o item tem algum selo que mostre que é certificado ou validado por um organismo aprovado pelo Ministério da Agricultura.

Santiago diz que caso a pessoa for comprar apenas alguns alimentos orgânicos deve dar preferência para aqueles que, quando produzidos de forma convencional, são os mais contaminados por agrotóxicos, como tomate, batata e pepino.

Cultivo tradicional

Ao comprar alimentos cultivados de forma convencional também é possível adotar algumas medidas para evitar a compra de itens muito afetados por agrotóxicos. Confira algumas recomendações da pesquisadora Sônia Sterz:

- Desconfie de legumes muito grandes, que podem ser resultado de adubação e estimulantes artificiais;

- Dê preferência aos produtos nacionais, em vez dos importados. Frutas e legumes produzidos localmente não requerem tantos pesticidas quanto aqueles que percorrem longas distâncias e são armazenados por longos períodos de tempo;

- Opte por folhosas como alface, agrião, almeirão, rúcula, couve-manteiga e cheiro verde, que apresentam ciclo curto de cultivo e por isso recebem menos pulverizações com agrotóxicos;

- Entre as frutas, prefira caqui, pitanga, abacate, acerola, jabuticaba, coco, mexerica (ponkan) e nêspera, que apresentam baixo risco de contaminação;

- Morango, goiaba, uva, maçã, pêssego, mamão papaia, figo, pera, melão e nectarina possuem alto risco de contaminação quando são produzidos de modo convencional.