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Criança acima do peso precisa de mudança de hábito da família

Na maioria dos casos, basta a adoção de hábitos saudáveis para reverter um quadro de obesidade - Thinkstock
Na maioria dos casos, basta a adoção de hábitos saudáveis para reverter um quadro de obesidade Imagem: Thinkstock

Rita Trevisan e Louise Vernier

Do UOL, em São Paulo

22/02/2013 07h15

De acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), realizada entre 2008 e 2009, um terço das crianças de cinco a nove anos no Brasil está com o peso acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde. O problema já é considerado uma epidemia mundial, devido à velocidade de seu crescimento, e deve-se, em grande parte, à mudança no padrão alimentar e ao sedentarismo.

Nesse cenário, cabe aos pais ficarem atentos para reconhecer o quanto antes se o filho corre perigo. Segundo Benedito Scaranci Fernandes, pediatra e professor da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a melhor forma de tirar a dúvida é passando por consultas periódicas, pelo menos uma vez por ano, ainda que a criança não apresente nenhum sintoma importante. “O pediatra constrói as curvas de peso e de altura e as analisa de acordo com a faixa etária. Essa é a medida mais precisa para indicar se o indivíduo está ou não na faixa do sobrepeso ou mesmo da obesidade”, afirma o médico. 
 
Fora do consultório, alguns sinais devem ser observados pelos pais no cotidiano infantil. Crianças que dão preferência à televisão, ao videogame e ao computador têm redução do gasto energético, o que as deixa mais suscetíveis a problemas com o peso. É fundamental observar se a alimentação não está desbalanceada e se a criança não anda consumindo uma grande quantidade de guloseimas, ricas em açúcares e gorduras, o que implica em chances maiores de compor o chamado grupo de risco.
 
 

Estirão

 
Em alguns momentos do desenvolvimento infantil é esperado que a criança ganhe mais peso do que estatura. Isso ocorre do nascimento aos dois anos e pouco antes do estirão da puberdade, que acontece por volta dos 12 anos. Porém, mesmo nesse período, a curva do ganho de peso deve estar equilibrada em relação à da estatura ou um problema de sobrepeso ou obesidade será diagnosticado. Isso significa que mesmo aquelas crianças que ainda não passaram pelo estirão merecem uma análise médica cuidadosa, antes que os pais concluam que o excesso de peso apresentado nessa fase é “normal”.
 
Uma vez diagnosticado o problema, é comum que alguns exames sejam pedidos para detectar a existência de doenças associadas ao excesso de peso. As mais comuns são alterações na taxa de colesterol, diabetes, hipertensão e doenças cardíacas. Além disso, crianças acima do peso estão mais sujeitas a problemas ortopédicos, nos joelhos e demais articulações. 
 
Outro ponto importante é que a obesidade infantil coloca em risco também a saúde psicológica da criança, pois ela fica muito mais vulnerável a sofrer agressões físicas e morais, principalmente na escola.
 

Prevenção e tratamento

 
Para evitar o problema, o ideal é que a família toda leve uma vida saudável, praticando exercícios físicos e tendo uma alimentação balanceada. Também é interessante que os pais levem a criança para se divertir em programas em que o foco não seja a comida, tais como passeios culturais. Essa é a melhor forma de ensinar que há outros meios de satisfação e prazer.
 
Outro fator que conta é a qualidade das relações em casa. “Um ambiente familiar tranquilo e que dê à criança a oportunidade de se expressar é fundamental para evitar distúrbios alimentares”, declara Patrícia Spada, psicóloga clínica e pesquisadora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
 
Por outro lado, quando a obesidade já se instalou, a principal medida para revertê-la é verificar o que está por trás do problema. Isso porque, em apenas 1% dos casos, ela é provocada por disfunções hormonais, segundo dados da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). “Eventualmente, a atuação de uma equipe multiprofissional, com nutricionista e psicólogo, é válida. Pois a obesidade pode ser decorrente de ansiedade ou de outros problemas emocionais”, diz Fábio Ancona Lopez, pediatra nutrólogo e professor da Unifesp. 
 
Detectada a causa, fica mais fácil tomar atitudes para tratar o excesso de peso. De modo geral, quando a criança segue uma dieta desequilibrada e faz pouca atividade física, basta uma mudança de hábitos para que os resultados apareçam na balança logo nos primeiros meses. 
 
Seja qual for o tratamento, a participação dos pais é essencial. “Muitas vezes, toda a família precisa reaprender a se relacionar com a comida de uma forma saudável”, afirma a psicóloga. 
 
Por fim, vale respeitar os limites do seu filho. Cobrá-lo por resultados positivos na balança ou compará-lo aos irmãos ou outras crianças nada acrescentará à autoestima dele.
 
 

Obesidade no cinema

 
Lançado em novembro de 2012, o documentário “Muito Além do Peso” trata da obesidade infantil e traz uma série de dados alarmantes a respeito do assunto.
 
Boa parte das crianças entrevistadas na produção apresentava, antes de atingir sete anos, o perfil de indivíduos de meia idade no que diz respeito aos níveis de gordura e de glicose no sangue e eram extremamente sedentárias.
 
“Comer bem é ingerir o que você precisa de caloria, distribuída na proporção adequada de proteína, gordura e carboidrato, sem excesso de alimentos industrializados, com muita gordura, açúcar ou sal”, diz o pediatra nutrólogo Fábio Ancona Lopez.
 
O documentário também chama a atenção para o fato de 56% das crianças brasileiras com menos de um ano consumirem refrigerantes. O dado foi constatado por pesquisa realizada no departamento de pediatria da Unifesp, com 270 pais de crianças frequentadoras de berçários e creches públicas e filantrópicas da cidade de São Paulo.