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Ajude seu filho a aprender a ler e a escrever sem atropelar a escola

Ler histórias para a criança ajuda a formar o que os educadores chamam de comportamento leitor - Thinkstock
Ler histórias para a criança ajuda a formar o que os educadores chamam de comportamento leitor Imagem: Thinkstock

Maria Laura Albuquerque

Do UOL, em São Paulo

26/04/2013 08h15

Desde que nasce, cada aprendizado que a criança conquista é motivo de festa para os pais. A fase em que se aprende a ler e a escrever, que ocorre em média entre cinco e oito anos, é uma das mais aguardadas pelos adultos.

Em geral, os pais ficam apreensivos com esse momento. Alguns temem que o filho não consiga acompanhar a turma da escola e acabe ficando para trás ou se preocupam com o ritmo de desenvolvimento, julgando-o lento. Outros comparam o próprio histórico escolar com o da criança e acreditam que ela tem de repetir os passos do pai ou da mãe, principalmente os acertos e os avanços, claro.

Há ainda os que resolvem se antecipar aos professores e resolvem acelerar o processo, alfabetizando a criança em casa, a seu modo: seja como aprendeu no passado, seja da maneira como foi ensinado ao filho do vizinho ou a um sobrinho. Embora isso tudo seja feito com as melhores intenções, não é coisa muito bem vista por profissionais de educação.

"Pais e professores devem trabalhar em parceria para que a criança aprenda e se desenvolva. A colaboração da família é sempre bem-vinda, desde que esteja em sintonia com o trabalho realizado em sala de aula. É importante que os pais compreendam que a escola é o organismo capacitado para ensinar, que está preparado para fazer as intervenções adequadas, e que o processo de aprendizagem que envolve a leitura e a escrita se dá aos poucos", diz Márcia Ferreira, professora do primeiro ano e de apoio da coordenação da Escola Viva, em São Paulo.

Para Priscila Fernandes, coordenadora do programa de educação infantil do Instituto C&A, é importante que a família conheça, confie e se sinta confortável com a metodologia pedagógica usada pela escola.


Por isso, antes de pendurar uma lousa na parede da sala e tentar alfabetizar seu filho, procure o professor dele e converse sobre o que é possível fazer em casa para ajudá-lo a aprender. "A escola, que é a responsável formal pela educação, e a família devem ser parceiras nesse processo, e não concorrentes“, fala Priscila.

Em geral, o que os educadores esperam dos pais é que eles criem o chamado ambiente alfabetizador em casa. Para isso, não é necessário fazer nenhuma grande mudança na rotina. A seguir, algumas dicas das especialistas consultadas para essa reportagem:

– Deixe ao alcance da criança livros e outros materiais com texto, como jornais, gibis, revistas, agendas, calendários e cardápios de restaurantes;

– Leia histórias para seu filho e cultive o hábito da leitura para que a cena se torne cada vez mais familiar e agradável para ele. Isso ajuda a começar a criar o que os educadores chamam de comportamento leitor;

– Permita que a criança escreva, mesmo que ainda não saiba fazê-lo tal como uma pessoa já alfabetizada. Para isso, deixe à disposição dela papel, canetas e lápis. Se ela rabiscar algo e lhe mostrar, dizendo que escreveu, pergunte o que está escrito. Depois, anote o que ela lhe disser logo abaixo das representações dela.

"Não precisa comentar ou explicar que não é assim que se escreve tal coisa. Somente registre usando a grafia convencional para que ele tenha contato com as letras. Prefira usar sempre letras de forma maiúsculas, usadas de maneira mais recorrente na maioria dos textos", fala Priscila. Você pode dizer que está escrevendo a mesma coisa que ela, do seu jeito;


– Quando for escrever algo, como um bilhete ou a lista de compras do supermercado, convide a criança para participar do momento. "No entanto, não o force como se fosse uma obrigação", diz Márcia; 

– Use toda oportunidade para escrever o nome da criança. Priscila diz que o nome próprio é considerado pelos educadores como o primeiro alfabeto da criança. É por meio dele que ela vai ter bastante contato com um conjunto restrito de letras, em uma ordem determinada e, com o tempo, passará a reconhecê-la em outras palavras: por exemplo, ao ver o nome Marcelo escrito na mochila do amigo, Mariana vai reconhecer as letras M, A e R. Isso é importante para que ela aprenda a ler cada vez mais palavras que tenham esse mesmo começo e passe a se arriscar na leitura;

– Chame a atenção de seu filho para palavras que aparecem em rótulos de produtos. Mostrando um pacote de biscoito, diga a ele: "veja, aqui está escrito biscoito" e aponte a palavra. Fazendo isso você estará mostrando que os sinais que ele vê por toda a parte têm um significado. Incentive-o também a se arriscar na leitura. Isso é o que os profissionais da área de educação denominam de ler sem saber ler;

– Ao liberar seu filho para brincar com o computador ou tablet, não só apresente a ele jogos, músicas e filminhos. Incentive-o a explorar o teclado.

Evidentemente, nenhuma dessas práticas é suficiente para que seu filho aprenda. Lembre-se de que é na escola que ele será desafiado de maneira didática pelos professores e poderá avançar refletindo com base em suas próprias ideias e nas dos colegas. Apesar disso, investir tempo nessas sugestões diariamente (sem impô-las como um dever) vale muito a pena.

No livro “Ler e Escrever na Escola: o Real, o Possível e o Necessário” (editora Artmed), Delia Lerner, argentina estudiosa da didática da leitura e da escrita, afirma que ensinar a ler e a escrever é um desafio que transcende amplamente a alfabetização em sentido estrito. O desafio tem a ver com incorporar os alunos à cultura do escrito, fazer com que todos sejam membros plenos da comunidade de leitores e escritores. Ou seja, você não deve se dar por contente quando seu filho aprender a ler e a escrever. É preciso mais:  fazer uso disso com autonomia e competência e não só por obrigação, mas também por prazer.

Lição de casa: ajuda dos pais precisa ter limites

Para fixar o que foi aprendido na escola, desafiar a criança a encontrar solução para algo que ainda não aprendeu ou avaliar como ela lida com determinado tema visto em sala horas depois, quando está sozinha, os professores encaminham atividades para serem feitas em casa.
 
"É bastante comum que os pais sejam orientados sobre como proceder", afirma Márcia. Se a escola do seu filho não faz isso, agende uma reunião com o professor dele, o coordenador pedagógico ou o diretor e peça para conversar a respeito. É importante não só saber o que eles esperam de você, mas também as expectativas em relação à criança.

Em linhas gerais, para colaborar com o momento da tarefa, escolha um local organizado, silencioso e confortável para a criança estudar.

Se ela pedir auxílio para resolver algum item, procure ajudá-la somente lendo o enunciado. "Ao passar uma tarefa para casa, o educador tem objetivos claros e, se os pais resolvem o exercício para não deixar que o filho vá à escola no dia seguinte com o dever em branco, estão mascarando, ainda que sem querer, o que a criança sabe e o que ela ainda não aprendeu", diz Márcia.

Além disso, não se esqueça de que o professor conhece a criança e vai perceber que não foi ela quem resolveu a lição se o resultado estiver muito além do que ela sabe no momento.

No caso de seu filho se preocupar porque não consegue resolver alguma coisa ou cometer erros, tranquilize-o. Explique que não há problema em errar ou admitir que ainda não sabe tal coisa. Faz parte do processo e, no dia seguinte, o professor e os colegas de classe vão ajudá-lo.