Para se desenvolver, prematuro requer vigilância ainda mais atenta
Depois do parto, chegar em casa com o bebê nos braços é descobrir um novo mundo e aprender a lidar com ele. E, quando o recém-nascido é prematuro, os cuidados precisam ser redobrados para evitar qualquer tipo de impacto negativo no futuro da criança.
Qualquer bebê nascido antes de completar 37 semanas e com peso inferior a 2.500 gramas é considerado prematuro. Quanto mais cedo ocorrer o nascimento e quanto menor for o peso da criança, mais riscos há para seu desenvolvimento.
De acordo com Ana Lúcia Goulart, pediatra neonatal e coordenadora do ambulatório da Casa do Prematuro do Hospital São Paulo, vinculado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), vários fatores são responsáveis pela prematuridade, entre eles, a ausência de pré-natal ou acompanhamento médico inadequado, a idade materna avançada e doenças comuns na gestação, como diabetes, hipertensão e infecção urinária.
“No Brasil, em média, 8% das crianças nascem antes do tempo. Nos Estados Unidos, o índice de prematuridade é ainda maior e chega a 12%. Esse é um problema de saúde pública que preocupa muito o mundo todo. Essas crianças precisam de atenção especial”, diz Ana Lúcia.
Para controlar os problemas gerados pela prematuridade, os primeiros dias e meses do bebê têm de ser acompanhados por uma equipe multidisciplinar de especialistas. É nesse período que problemas respiratórios, cardiovasculares e até hemorragia craniana podem aparecer.
“Os bebês estão completamente prontos na 40ª semana. Por isso, quanto maior o número de semanas dentro do útero, mais tempo ele tem para se desenvolver. Muitas das conexões cerebrais são formadas ainda lá dentro e o pulmão só amadurece nas últimas semanas intrauterinas”, declara a pediatra neonatal Alice Deutsch, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Em casa
Assim como o bebê prematuro precisa aprender a respirar, a sugar e a deglutir o leite materno, os pais e mães também têm uma série de lições que precisam ser aplicadas quando deixam o hospital e vão para casa com o filho. São ações simples, mas que podem garantir a saúde da criança.
Como qualquer outro recém-nascido, o prematuro não está com seu sistema imunológico totalmente formado e, sendo mais suscetível a doenças, a primeira coisa a fazer é tirar do quarto do bebê e da casa qualquer objeto com pelos ou que possa juntar poeira, como bichos de pelúcia e tapetes.
Em alguns casos, deve-se evitar o convívio com animais de estimação. Os ambientes da casa devem ser constantemente higienizados, e não se deve fumar dentro dela ou próximo da criança.
Os pais ainda devem evitar visitas, pelo menos, nos três primeiros meses do filho e não levá-lo para locais com aglomeração de pessoas, onde há vírus e bactérias de todo tipo e que o organismo do bebê ainda não está preparado para enfrentar.
Acompanhamento médico
“A frequência de visitas ao pediatra varia de criança para criança, talvez seja maior em alguns prematuros, mas isso vai depender de como a criança se comportou nos seus primeiros dias e de como se deram sua complicações”, afirma a neonatologista Alice Deutsch.
É o pediatra também quem avaliará para quais especialistas o prematuro precisará ser encaminhado. Os mais comuns são fisioterapeuta (para estímulo motor, neurológico e fortalecimento da musculatura) e fonoaudiólogo (para avaliação do processo de sucção e deglutição das crianças que ficaram entubadas com ventilação mecânica). Ainda é recomendável que os prematuros passem também por neurologista, oftalmologista e nutricionista.
A saúde do prematuro
O acompanhamento médico pós-hospital é importante para evitar sequelas graves nos bebês prematuros. É comum que eles apresentem problemas referentes ao desenvolvimento motor, auditivo e de linguagem. A pediatra Ana Lúcia Goulart afirma que o atraso se dá porque a idade cronológica deles é diferente de um bebê nascido a termo (a partir da 38ª semana de gestação).
Os prematuros podem ter baixa estatura e estão mais propensos a doenças pulmonares, oftalmológicas, como miopia e estrabismo, e comportamentais, como hiperatividade. É também preciso um olhar mais cuidadoso para a alimentação desses bebês.
“O ganho de peso excessivo e precoce no recém-nascido prematuro aumenta o risco de que ele desenvolva doenças metabólicas na vida adulta, como obesidade, hipertensão arterial, resistência à insulina, que origina o diabetes e doenças cardiovasculares. Ele não pode ganhar um quilo por mês quando deixa o hospital. O adequado é que o peso do bebê aumente respeitando o tamanho com o qual ele nasceu”, diz a neonatologista Luciana de Carvalho, da equipe de maternidade da Faculdade de Medicina da USP.
Idade corrigida
Uma das dúvidas mais frequentes entre mães com bebês prematuros é quando o desenvolvimento do filho vai se equiparar ao de uma criança nascida a termo. De acordo com as pediatras entrevistadas nesta reportagem, a readequação de peso e de tamanho acontece, em geral, aos dois anos de idade.
Até lá, os médicos utilizam um gráfico de crescimento que serve de parâmetro para acompanhar a evolução do prematuro e chamam esse período de idade corrigida. “O ideal é que o bebê nasça na 40ª semana, é o que chamamos de marco zero. Se a criança nascer, por exemplo, na 32ª semana, ela terá oito semanas de atraso. Quando ela completar quatro meses de vida, terá dois meses na idade corrigida, ou seja, é natural que avaliemos o comportamento desse bebê com um de dois meses”, declara a pediatra neonatologista Luciana de Carvalho.
Pele com pele
O Método Canguru –em que o recém-nascido de baixo peso é mantido com pouca roupa, na posição vertical, preso por uma faixa de tecido contra o peito do adulto– é reconhecido pelo Ministério da Saúde do Brasil como política fundamental de atenção ao recém-nascido prematuro.
A posição canguru foi criada em 1979 na Colômbia para combater a elevada taxa de mortalidade neonatal desse país. A técnica é iniciada no hospital e deve ser continuada em casa após a alta.
Abaixo, alguns dos benefícios do método, segundo o Ministério da Saúde:
- Aumenta o vínculo entre mãe e filho;
- Melhora o desenvolvimento neurocomportamental e psicoafetivo do recém-nascido de baixo peso/prematuro;
- Favorece o aleitamento materno;
- Permite controle térmico adequado (devido à fina espessura da sua pele, o prematuro tem mais dificuldade para regular sua temperatura);
- Favorece estimulação sensorial adequada;
- Diminuição dos casos de reinternação do bebê após a alta da maternidade.
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