Topo

Reino Unido apoia mulheres a terem parto natural como Kate Middleton

Kate acena para os súditos ao sair do hospital com o filho e o marido, príncipe William - AFP PHOTO / BEN STANSALL
Kate acena para os súditos ao sair do hospital com o filho e o marido, príncipe William Imagem: AFP PHOTO / BEN STANSALL

Camila Dourado

Do UOL, em Londres*

13/08/2013 07h25

Apenas um dia após o nascimento do bebê real, em 22 de julho, Kate Middleton deixou o hospital rumo ao Palácio de Kensington, sua residência. A  rápida recuperação é uma das vantagens de um parto realizado de maneira natural.  A duquesa havia dado entrada no Hospital St. Mary, em Londres, já em trabalho de parto, por volta das 6h da manhã daquele mesmo dia, acompanhada do marido, o príncipe William. O trabalho de parto durou cerca de 14 horas.  

O parto normal ou vaginal (que pode ter ou não anestesia) de Kate é a rotina no Reino Unido, onde, de acordo com informações do NHS England (National Health Service - Serviço Nacional de Saúde, em tradução literal), o número de cesarianas corresponde a 25% dos casos. Em contraste, no Brasil, segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), as cesáreas são maioria nos hospitais privados, com um índice de 84%. No SUS (Sistema Único de Saúde), em 12 anos, o número atingiu quase 40% dos casos –mais que o dobro indicado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que é de 15%. 

A gravidez semana a semana

Os números no Brasil são tão altos que ensejaram a realização do documentário “O Renascimento do Parto” (dirigido por Eduardo Chauvet), que estreou, em 9 de agosto, em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília e, em setembro, integrará o 6º Festival de Cinema Brasileiro de Los Angeles, nos Estados Unidos.

A produção mostra os riscos das intervenções realizadas nos hospitais. Tudo com base em entrevistas com médicos, obstetras, doulas e informações do Ministério da Saúde. A proposta é fazer um manifesto a favor do parto humanizado –destacando o estreitamento de laços entre mãe e filho nesse tipo de nascimento.

Se, no Brasil, o parto normal precisa ser incentivado, no Reino Unido, é parte de uma política pública de saúde consistente. Lá, médicos e hospitais só adotam a cesárea em casos de muita necessidade.

“Ainda assim, os especialistas concordam que o índice de cirurgias no Reino Unido é alto. Os peritos indicam que uma taxa acima de 15% já significa excesso de cesarianas, o que não beneficia nem as mães, nem os bebês”, afirma Jenny Leach, editor do BabyCentre-UK (Babycentre.co.uk), um dos maiores portais de gravidez e maternidade do mundo, com conteúdo clinicamente aprovado.

Infográfico mostra exames que gestante deve fazer ao longo dos nove meses

O processo é o mais humanizado possível. Nos “birth centres” (centros de nascimento), as mães contam com a ajuda de uma “midwife” (espécie de parteira, doula), que acompanha todo o processo. Apesar de servir aos hospitais do NHS, as “midwives” não têm vínculo com o sistema e podem ser contratadas de forma independente.

“Quando uma mulher entra no hospital para dar à luz, ajudamos em todas as necessidades, oferecendo tanto apoio físico quanto psicológico”, diz Mervi Jokinen, doula, indicada pelo departamento de saúde do NHS para fornecer informações ao UOL Gravidez e Filhos (em tempo, o NHS é considerado a maior estrutura de saúde em todo o mundo, atendendo um milhão de pacientes a cada 36 horas).

“Existem muitas ajudas para o processo do parto normal, como piscinas de nascimento, tapetes macios etc. Tudo é feito em salas privadas, com iluminação suave para que as mulheres se sintam confortáveis durante o parto. Há também muitas opções para alívio da dor”, diz Jenny.

Outro método muito usado é o “Hypnobirthing”, técnica americana que ajuda a gestante a vivenciar um parto tranquilo, sem ansiedade e medo –sentimentos que atrapalham o funcionamento do processo. De acordo com Joanne Turner, educadora de pré-natal e especialista em “HypnoBirthing”, o momento ideal para fazer as aulas é entre 25 e 29 semanas de gravidez.

Segundo Joanne, as técnicas do “Hypnobirthing” podem ajudar a lidar com o trabalho de parto. “Controlar seus sentimentos por meio da técnica pode ajudar a evitar respostas de estresse e a manter níveis mais altos de oxigênio no corpo, por causa dos métodos de respiração profunda.” A técnica também ajuda a reduzir a necessidade de medicamentos para alívio da dor ou para acelerar o trabalho de parto.

Uma cesárea só será feita caso haja alguma complicação. “Esse é o procedimento em todos os hospitais aqui. Se uma mulher dá entrada em uma maternidade querendo fazer uma cesariana, o médico tenta mostrar alternativas e explica todas as possíveis complicações de fazer esse tipo de cirurgia. Eles evitam ao máximo o procedimento”, declara Jokinen. 

“Comparada ao parto normal, a cesariana pode ter milhões de complicações a mais. Eu poderia passar o dia inteiro explicando todos os riscos. Mas um dos maiores e mais complicados é a infecção, afinal, o abdômen é aberto e todos os órgãos ficam expostos. É extremamente perigoso. O parto normal diminui bastante esse risco para o bebê e para a mãe”, afirma Jokinen.

No sistema do NHS, é preciso de autorização para que a cesariana seja realizada. De acordo com informações da assessoria do sistema de saúde, muitas mulheres optam pelo parto normal depois de aprender mais sobre o que a cirurgia envolve.

Em que situações a cesariana é recomendada no Reino Unido?

- Quando o parto normal pode colocar a mãe ou o bebê em risco;

- Quando o trabalho de parto não progride naturalmente;

- Quando a mãe entra em trabalho de parto prematuro;

- Quando a placenta cobre parte da entrada do útero;

- Quando há alguma infecção viral, como herpes genital;

- Quando o bebê não está corretamente posicionado.

Riscos de uma cesariana

- Infecção do revestimento do útero, conhecido como endometrite, o que pode causar febre, dor no ventre e corrimento vaginal anormal;

- Coágulo de sangue (trombose) nas pernas, o que pode ser perigoso se parte do coágulo quebra e se aloja nos pulmões;

- Excesso de sangramento;

- Dano para a bexiga ou ureter, o que pode exigir uma nova cirurgia;

*Colaborou Natalia Caringi, de Londres