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Retomar a vida sexual é problema comum para pais de primeira viagem

A roteirista Delondra e o marido, Nick, com o filho deles, Jude, de 1 ano e 4 meses, no apartamento em que a família mora, em Los Angeles - David Ahntholz/New York Times
A roteirista Delondra e o marido, Nick, com o filho deles, Jude, de 1 ano e 4 meses, no apartamento em que a família mora, em Los Angeles Imagem: David Ahntholz/New York Times

Catherine Saint Louis

Do New York Times

24/12/2013 08h05

Sexo depois do nascimento de um filho? Nas semanas que se seguem à chegada do bebê, isso pode parecer tão exagerado quanto sair para a balada.

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Problemas sexuais são comuns entre pais de primeira viagem, mas discutir isso com médicos e amigos próximos ainda não. Além disso, estudos de sexualidade no período pós-parto são limitados, concentrando-se, principalmente, no impacto das mudanças físicas para o retorno à vida sexual. Essas avaliações também são, extremamente, unilaterais, envolvendo sempre as mães, mas quase nunca os pais.

Agora, novas pesquisas da Universidade de Michigan oferecem um ponto de vista mais amplo das dinâmicas do relacionamento no chamado "quarto trimestre" e revelam algumas surpresas. Para começar, embora os pais não falem sobre isso no Facebook, desde o começo, muitos arrumam um tempinho juntos entre uma troca de fraldas e outra.

Em questionários online, 114 parceiros de mães que haviam acabado de dar à luz foram questionados sobre os fatores que influenciavam o desejo e uma série de experiências sexuais. Um terço dos participantes relatou ter feito sexo com penetração vaginal em até seis semanas após o nascimento do bebê. Aproximadamente um número igual de mães afirmou ter recebido sexo oral no mesmo período. Praticamente 60% dos parceiros receberam sexo oral ao longo das seis primeiras semanas.

"É possível que as pessoas que participaram do nosso estudo fossem mais abertas do ponto de vista sexual", afirmou Sari van Anders, principal autora da pesquisa e professora-assistente de psicologia, estudos das mulheres e neurociências na Universidade de Michigan.

 

Sentimento de culpa

Retomar a vida sexual depois do nascimento de um filho pode ser difícil. Sascha Anderson, 30 anos, que trabalha em uma loja de queijos em Manhattan, temia que o sexo fosse dolorido ou que sua desidratação constante por causa da amamentação acabasse com o prazer do ato. Nos primeiros meses, ela também sentia uma necessidade exagerada de "assumir" o papel de mãe.

"Você pode se sentir culpada por deixar seu filho de lado para suprir desejos básicos ou por não se envolver o bastante com seu parceiro", falou ela sobre os dois tipos de autocensura que fez no período.
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O marido de Sascha Anderson, Michael, 29 anos, afirmou que conseguir uns minutinhos para relaxar era uma prioridade mais importante que o sexo para ambos. "Não sei se seríamos capazes de trabalhar e cuidar de nosso bebê sem um tempinho para relaxar", falou.

No estudo da Universidade de Michigan, o aumento do desejo dependia do interesse da mãe na atividade sexual e em quão próximo o parceiro se sentia dela.

Depois do nascimento da filha, quando o sexo estava fora de questão, Andrew Chin, 28 anos, que trabalha com tecnologia de informação, afirmou que fazer cafuné na mulher, a dentista Kelly Palhice, havia se tornado seu ritual. "Fazer carinho nas orelhas e no pescoço se tornou algo muito especial. É importante manter essa intimidade."

Com frequência, os casais são liberados para fazer sexo com penetração após a consulta com o obstetra, entre quatro e seis semanas após o parto. Porém, esse exame avalia apenas a condição da vagina, não a condição psicológica. Muitos casais saem do consultório sem se darem conta de que existe uma nova normalidade.

"A expectativa é que voltemos a ter a mesma qualidade e quantidade de sexo de antes", afirmou Lori Broto, diretora do Laboratório de Saúde Sexual da Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver. De acordo com ela e outros especialistas, mudar essas expectativas é fundamental para voltar a encontrar satisfação.

Dificuldades

Problemas sexuais pós-parto são comuns, incluindo falta de lubrificação vaginal, perda de libido e dores durante o ato, conhecidas como dispareunia. "Dizer que é uma batalha é pouco em muitos casos. Em alguns, é um verdadeiro desastre", afirmou Lori.

Dificuldades sexuais duradouras após o nascimento de um filho são um assunto proibido. Um estudo revelou que trabalhadores da área de saúde discutiram métodos contraceptivos com 96% das mulheres, mas apenas 15% delas falaram voluntariamente sobre questões sexuais.

A médica Roya L. Rezaee, uma das diretoras do programa de saúde sexual do University Hospitals Case Medical Center, em Cleveland, lamentou que os obstetras, geralmente, só discutam a saúde sexual pós-parto quando os problemas aparecem, em vez de ajudar a estabelecer as expectativas e perguntar para as mulheres sobre sua vida sexual.


"Nosso papel é, ao menos, fazer perguntas abertas, como se estão com incontinência urinária ou se sentindo deprimidas", afirmou. Roya encoraja as pacientes a fazer um progresso cauteloso, começando por apenas dar uns “amassos”. "Não dá para ficar sem fazer nada e começar, logo em seguida, a fazer sexo. Não dá para passar de trocar fraldas sujas direto para a penetração.”

Depois do nascimento de seu filho, Delondra Williams, 31 anos, roteirista em Los Angeles, e o marido, Nick, 33, que trabalha para uma organização teatral sem fins lucrativos, tiveram de ser pacientes. Ela sentiu dores durante meses depois de sofrer uma rotura (ruptura) durante o parto. Delondra também perdia a vontade por causa da atenção constante exigida pelo bebê.

"Minha fantasia sexual era que ninguém encostasse em mim", afirmou a roteirista. Embora não tivesse demonstrado interesse, o marido dela disse não ter tido pressa e que estava um pouco apreensivo: "Por algum tempo, aquilo simplesmente não parecia ser uma opção."

O casal começou a fazer sexo esporadicamente depois de três meses, embora Delondra Williams sentisse dores frequentes. A criação de algumas regras ajudou a aumentar o desejo. Uma delas era não tocar os seios, que haviam aumentado de tamanho para o prazer dele e o desconforto dela. Eles continuaram tentando e, mais de um ano depois, "o sexo ficou ótimo", afirmou Delondra.

"As mulheres precisam saber que não há nada de errado em ir com calma e ser paciente. Se você tem um relacionamento aberto e íntimo, as coisas voltarão ao normal", disse.