Topo

Saiba como apoiar o adolescente que acaba de levar um fora

Sílvia Garcia animou a filha, Ana Carolina, após a garota terminar um namoro - Reinaldo Canato/UOL
Sílvia Garcia animou a filha, Ana Carolina, após a garota terminar um namoro Imagem: Reinaldo Canato/UOL

Thaís Macena e Maísa Correia

Do UOL, em São Paulo

18/07/2014 08h05

Ao ver o filho adolescente sofrer após o término de um relacionamento, muitos pais se sentem perdidos. Na tentativa de consolar, há quem minimize o sofrimento do jovem ou queira tirar satisfações com o ex. Para ajudar nessa fase delicada, os adultos precisam agir com bom senso e cautela.

  • 33742
  • true
  • http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-filhos/enquetes/2014/07/17/quando-um-relacionamento-do-seu-filho-termina-voce.js

No ano passado, com o fim de um namoro de três anos da filha, a cabeleireira Sílvia Cristina Garcia, 43 anos, se propôs a ouvir as dores da filha, a estudante Ana Carolina Paschoal, 17. Sílvia ainda estimulou a menina a sair com os amigos e se distrair.

A garota acolheu a sugestão da mãe e também aproveitou o momento para se unir mais à família. “Ao me ver triste, minha mãe me levava para sair, tentava me distrair e me dava muitos conselhos. Sempre me dizia que a vida precisava continuar, apesar do fim”, diz Ana. 

Lúcia Helena, 40 anos, não tira da memória o dia em que a sua filha, a estudante Mayse Helena, 15, chegou chorando em casa. Preocupada, a mãe quis saber o que havia acontecido. Como Mayse não se abriu, Lúcia foi buscar informações no Facebook da garota. Encontrou frases típicas de dor de cotovelo e não teve dúvidas: era uma questão de amor. Insistiu em saber com a filha o que havia ocorrido e, finalmente, a garota contou que havia levado um fora de um garoto. “Gostava muito dele e ele não quis nada comigo. Falou de um jeito fofo, mas ouvir isso nunca é bom”, diz Mayse.

$escape.getH()uolbr_geraModulos('embed-foto','/2014/lucia-helena-e-a-filha-mayse-helena-1405625423705.vm')

De fato, levar um fora sempre dói. E o que dói em um filho, dói também nos pais. “Na hora, minha mãe quis conversar com o menino, tirar satisfações”, afirma Mayse.  A garota não deixou. Lúcia confirma a intenção: “Minha filha preferiu que eu não fosse. Então, fiquei apenas dando conselhos. Falei que amor de verdade não é aquele que nos faz sofrer, mas aquele que nos ajuda a ser mais feliz. E que, na adolescência, as pessoas gostam, elas não amam”, diz Lúcia. 

Na ânsia de ajudar os filhos, muitas vezes os pais cometem alguns equívocos e o pior deles é, justamente, tentar minimizar o sofrimento do adolescente. “O sentimento do filho, nesse momento, é algo novo e pode parecer insuportável para ele. Nessa situação, o mais importante é que os pais o acolham”, diz o psicoterapeuta Miguel Perosa, professor de psicologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

Segundo o especialista, os pais também devem evitar desvalorizar o ficante ou o namorado que deu o fora. “É preciso considerar que, se o adolescente está sofrendo, é porque ele ainda gosta do ex-parceiro”, afirma.

Para a psicóloga Lilian Loureiro, mestre em psicologia clínica e especialista em relacionamentos amorosos pela PUC, Lúcia acertou ao não ter insistido na ideia de conversar com o garoto que deu um fora em sua filha.

“Uma intervenção, nesse contexto, pode ser desastrosa. E, em vez de ajudar, complicar ainda mais o problema. Aos olhos do jovem, a atitude dos pais, ainda que carregada de boas intenções, pode ser interpretada como uma intromissão”, diz.

De acordo com Lilian, os pais devem prover recursos emocionais para os filhos lidarem com as adversidades da vida, em vez de tentarem resolver os problemas por eles. A superproteção pode gerar um excesso de dependência, além de um sentimento de impotência no adolescente.

Relação de confiança

Depois de um fora, é comum que os jovens fiquem mais reclusos, trancados em seus quartos, o que costuma deixar os pais aflitos. Mas é válido lembrar que os adultos da casa é que devem lidar com a responsabilidade de manter o ambiente tranquilo, mesmo nessas condições.

“Diante do silêncio dos filhos, não é aconselhável investigar mensagens no celular, redes sociais e diários. O ideal é construir uma relação de confiança e não bisbilhotar, o adolescente vai se abrir quando se sentir seguro”, fala Cristiane Moraes Pertusi, doutora em psicologia do desenvolvimento humano pela USP (Universidade de São Paulo).

A psicoterapeuta e escritora Olga Tessari também afirma que os pais devem se envolver somente se o filho desejar ou consentir. “Em geral, o jovem desiludido quer ficar no seu canto, quer chorar, e não está muito disposto a conversar com os pais sobre o assunto, prefere fazer isso com os amigos mais próximos. Aos adultos, cabe respeitar a dor do filho, entender que ele tem o direito de não querer falar e mostrar que estão à disposição, caso ele mude de ideia”, diz.

É importante ponderar, no entanto, que uma relação de cumplicidade entre pais e filhos não se constrói de uma hora para outra, mas desde o nascimento da criança. “Para os pais chegarem ao ponto de falar sobre questões amorosas com os filhos, eles precisam ter construído, previamente, uma relação saudável de diálogo. Esse vínculo precisa ser alimentado diariamente, desde a infância. Isso é que cria o lastro emocional que garantirá o suporte na adolescência”, afirma a psicóloga.

Goretti Nunes, 49 anos, mãe de Isadora, 24, Vinci, 21, e Dóris, 20, diz que sempre buscou ser íntima de todos os filhos, porém, respeitando a individualidade de cada um. As meninas sempre foram mais reservadas, mas o filho costuma buscar os conselhos da mãe desde as primeiras namoradas.

Ela conta que, por se envolver com as histórias de amor do garoto, sempre que ele arruma uma namorada, ela ganha mais uma filha. “O desafio é apoiar os dois. Busco compreender os dois lados, ser justa e sábia ao dar os meus conselhos.”

Viver o luto

É bastante comum que o adolescente, ao passar pelo rompimento de um relacionamento, apresente sinais como tristeza e irritabilidade, próprios da situação que está vivendo. E os pais devem acompanhar de perto esse processo, que é natural.

“O luto coloca um ponto final no que passou e permite que novas relações saudáveis possam vir a se desenvolver”, diz Lilian Loureiro. “Contudo, se o embotamento emocional do adolescente for muito intenso, a ponto de interferir na vida dele de maneira significativa, cabe buscar ajuda psicológica.”

Se o jovem perder totalmente o interesse por atividades que antes faziam parte da sua rotina, por exemplo, os pais deverão ficar mais atentos.

Na maioria dos casos, as dores de amor vão se amenizando com o tempo e o apoio dos amigos e da família. Nesse período, sugerir novas atividades e passeios pode ser uma alternativa interessante para desviar a atenção do adolescente, que tende a recair sobre o relacionamento frustrado. Mas, para isso, o jovem tem de se mostrar aberto, pois nada deve ser imposto.

Outro ponto fundamental é que os pais encarem as decepções amorosas dos filhos como experiências que vão colaborar para o amadurecimento deles, sem tornar o problema ainda maior do que ele é. “Aos adultos, cabe apoiar o filho, mostrando seu amor incondicional com atitudes de respeito, carinho e de compreensão”, diz Olga.