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Beijar a criança na boca confunde sobre papel dos pais

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Dê sua opinião sobre o tema usando o campo de comentários desta página Imagem: Getty Images

Ana Castro

Do UOL, em São Paulo

06/11/2014 07h15


Beijar o filho na boca é uma demonstração de afeto comum para algumas famílias. A cantora Fergie, por exemplo, declarou em um programa da TV americana, em agosto, que adora beijar Axl, seu filho de um ano, dessa forma. “Meu filho gosta de me beijar de língua, é uma delícia! Mas terei de cortar isso a partir de uma certa idade, senão seria esquisito. Meio edipiano.”

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Segundo a psicóloga Isabel Cristina Gomes, coordenadora do Laboratório de Casal e Família do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), os pais devem ter em mente que, social e culturalmente, beijar na boca é uma forma de carinho entre namorados. “A relação entre um casal é diferente da parental”, afirma a especialista. O gesto inocente pode complicar a compreensão infantil dessa diferença.

“Por que o beijo que era parte da relação amorosa passou para os filhos? Penso que pode ser uma necessidade de erotização das crianças. É claro que a criança pode ser erotizada mesmo sem o beijo, mas esse é um hábito que a coloca em outro lugar, que não deveria ser o dela”, diz Isabel.

A erotização pode ser reforçada por outros fatores. Segundo a psicóloga Hilda Avoglia, da Universidade Metodista de São Paulo, especialista em desenvolvimento da criança e do adolescente, o problema não está apenas no ato em si, mas muitas crianças podem associar o beijo na boca com as imagens que assistem na televisão.

“A TV apresenta cenas, imagens e verbalizações com forte conteúdo sexual e a criança imita, sem ter noção do que se trata”, afirma Hilda.

A questão pode se complicar à medida que o filho cresce. “Depois dos dez anos, a criança está vivenciando outra fase do desenvolvimento psicológico e também biológico (com a chegada ou proximidade da puberdade), já que se encontra em ação o funcionamento hormonal”, fala a psicóloga.

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Questão de saúde

Quando o hábito de beijar na boca continua com os filhos mais velhos é preciso olhar para os pais. “Ao beijar o filho adolescente, o pai pode estabelecer uma relação diferente com ele, além da parental. O que significa para um pai e para uma mãe beijar na boca dos filhos? Especialmente os mais velhos? Isso tem de ser trabalhado com os adultos”, diz Isabel Cristina Gomes.

Para Hilda, ter pais amorosos é fundamental para a organização psíquica da criança. “Afagar, tocar na pele, comunicar-se carinhosamente são atitudes que fortalecem a relação entre pais e filhos. Mas para que tudo isso seja vivenciado de modo integrador não se faz necessário que a criança seja beijada na boca”, afirma.

Além da questão psicológica, os profissionais da saúde alertam para os riscos de transmissão de doenças. É o que explica a doutora em odontopediatria Erika Guimarães. “A boca é um dos locais do nosso corpo com maior número de bactérias, e algumas delas podem causar doenças, como a cárie.”

Os adultos possuem muitas colônias de bactérias, algumas são benéficas, mas há as que provocam doenças. E quando o bebê nasce, sua boca tem pouquíssimas bactérias e seu sistema imunológico é imaturo. “Ao beijar a boca do bebê, o adulto pode transmitir, além de bactérias, vírus e fungos”, afirma Érika.