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Mãe de gêmeas doa mais de 600 litros de leite a banco de Taubaté

Flavia posa para campanha com as filhas, na época com um ano e meio - Arquivo pessoal
Flavia posa para campanha com as filhas, na época com um ano e meio Imagem: Arquivo pessoal

Thamires Andrade

Do UOL, em São Paulo

17/11/2015 07h15

 

Amy Bormann virou notícia após doar mais de cem litros de leite em Wisconsin, nos Estados Unidos. Mas o "recorde" da americana não é nada perto dos mais de 600 litros que Flavia Correia Lima Huber Costa, capitão do Exército e professora no Colégio Militar em Manaus, doou enquanto amamentava as filhas gêmeas, Júlia e Laura, hoje com cinco anos.

“Quando saí do hospital, o pediatra falou que talvez eu não tivesse leite para amamentar as duas. Mas já na segunda semana de vida das meninas, começou a sobrar. Amamentei a Júlia e a Laura até elas completarem dois anos e meio. Elas mamaram no peito até quatro meses, pois tiveram uma reação a uma vacina e quiseram parar, passei a tirar o meu leite e dar para elas na mamadeira", afirmou.

O leite de Flavia não secou depois que as filhas pararam de mamar no peito --a sucção das crianças é um dos fatores que estimula a produção do líquido-- e ela chegou a investigar com um médico o porquê produzia tanto leite. "Não tinha nenhum problema comigo, era algo do meu organismo mesmo. Conseguia amamentar cinco bebês facilmente", contou.

Segundo Patrícia Scalon, consultora e enfermeira da equipe do Grupo de Apoio de Aleitamento Materno da Maternidade São Luiz Itaim, em São Paulo, as mães de múltiplos costumam ter mais leite, mas, no geral, a quantidade produzida é muito individual.

O banco de leite de Taubaté, no interior de São Paulo, reconheceu que a professora doou 636 litros para a instituição. "Mas doei em várias outras cidades, como Londrina, Juiz de Fora, Rio de Janeiro, São Paulo. Todo lugar que ia, doava", fala. As enfermeiras do banco de leite de Londrina adoravam quando Flávia ia para a capital passar um tempo com a família, pois ela conseguia normalizar o estoque da região.

Para conseguir doar por tanto tempo, Flavia contou com a ajuda da família para que a logística desse certo. "Precisava de vidros esterilizados para colocar o leite. O banco ia duas vezes por semana na minha casa para retirar e trazer novos vidros ", contou. Outro fator que contribuiu para que ela pudesse amamentar com tranquilidade foi a licença maternidade do quartel, que é de oito meses em vez de quatro meses. "Mesmo quando voltei, tinha horário reduzido por causa da amamentação."

Flávia afirma que a rotina da doação era cansativa, já que o excesso de leite era grande –cerca de 14 litros por semana—, mas reconhece que o período em que doou foi muito gratificante. “Soube da filha de uma amiga que estava recebendo meu leite pelo banco e foi muito bom saber que estava fazendo o bem. Já que fui abençoada, doei até a última gota para ajudar quem precisava."

Como doar?

A enfermeira da equipe do Grupo de Apoio de Aleitamento Materno da Maternidade São Luiz Itaim afirma que é importante as mães doarem a quantidade de leite excedente que puderem. "Apenas dois mililitros já ajudam muitos bebês. O leite materno é o alimento mais adequado para as crianças. Fórmula nenhuma tem tantos benefícios."

Para quem deseja doar, o primeiro passo é encontrar um local adequado para fazer a ordenha. "Ela pode ser feita de forma manual ou com bomba elétrica e, de preferência, deve ser realizada no quarto do bebê ou da mãe. Ambientes como banheiro e cozinha não são adequados por conta da sujeira e da circulação de muitas pessoas", declara Patrícia. Caso a retirada do leite seja feita no trabalho, a mãe deve buscar uma sala tranquila e limpa.

O frasco de vidro deve estar esterilizado. Para tanto, é preciso fervê-lo por 15 minutos e depois retirá-lo da água, deixando-o de boca para baixo, sem secar. Ele deve ser fechado com uma tampa de plástico.

Antes de iniciar a ordenha, Patrícia orienta as mulheres a lavarem bem as mãos --até os cotovelos-- e as higienizarem com álcool. "Também indico colocar uma máscara para tampar as gotículas de saliva e uma touca de cabelo", afirma.

O leite tem de ser colocado no recipiente esterilizado, deixando dois dedos de respiro, já que o líquido congelado expande e não pode encostar na tampa plástica. Na sequência, a mãe deve fechar o frasco, colocar seu nome, data de retirada e horário. A partir daí, ele deve ser refrigerado (dura 12 horas) ou congelado (15 dias), por isso a importância de colocar a data e o horário da extração. O transporte dos frascos deve ser feito em uma bolsa térmica com gelo para manter a temperatura.

Para dar aos bebês, Patrícia indica que as mães esquentem o líquido em banho-maria. "Ao aquecer no micro-ondas, várias proteínas são desnaturadas, e o leite perde seu fator de proteção", diz. A consultora também recomenda que o leite seja ofertado em copinhos, colheres ou seringas. "A mamadeira leva ao desmame. Os copos fazem com que o bebê reproduza o mesmo movimento da língua que faria no peito."