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Pressão ou benefício? Empresas americanas pagam tratamento de fertilidade

Para Irina Bezzan, CEO da Genter, investir na fertilidade feminina é uma postura arrojada - Lucas Lima/UOL
Para Irina Bezzan, CEO da Genter, investir na fertilidade feminina é uma postura arrojada Imagem: Lucas Lima/UOL

Melissa Diniz

Do UOL, em São Paulo

16/12/2015 08h05

Para atrair e/ou reter talentos femininos, empresas americanas de tecnologia do Vale do Silício (como Facebook, Intel, Microsoft e Apple), na Califórnia, estão oferecendo em seu pacote de benefícios tratamentos caros como congelamento de óvulos e fertilização in vitro, para funcionárias com dificuldades reprodutivas.

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Apesar de inovadoras, as medidas são vistas por alguns setores com reservas. Tratamentos de fertilidade são, de fato, benefícios ou as empresas estão pressionando ainda mais as mulheres a adiarem ao máximo a maternidade para que priorizem a carreira?

De acordo com a imprensa americana, as empresas alegam que há escassez de funcionárias bem qualificadas em cargos sênior, as políticas seriam, portanto, uma tentativa de criar mais equilíbrio, já que seus quadros de trabalho costumam ter até 70% de profissionais do sexo masculino.

Na opinião de Irina Bezzan, 38 anos, de São Paulo, CEO da empresa Genter, especializada em recursos humanos, investir na fertilidade das funcionárias é um posicionamento bastante inteligente e arrojado dessas companhias. “Existe um movimento em todo o mundo para ampliar as vantagens dadas às mulheres no que se refere à maternidade. Mais uma vez, as empresas de tecnologia, cujo foco é inovação, saem na frente e devem ser seguidas por outras que desejem ser mais atraentes a pessoas altamente qualificadas.”

Um dos diferenciais das novas políticas, segundo a executiva, é dar às funcionárias uma nova opção. “Antes, víamos a mulher em cargos de menor exigência, para que pudesse cuidar da família. Aquelas que queriam crescer no emprego, muitas vezes, abriam mão da maternidade. Com esses benefícios, as que optarem por adiar o nascimento dos filhos sabem que têm uma possibilidade amanhã. Mas adiar ou não é uma decisão pessoal, que pode trazer vantagens e desvantagens.”

As desvantagens dizem respeito à eficácia desses recursos colocados à disposição das funcionárias. A despeito de serem técnicas modernas, elas não podem ser encaradas como garantia de gravidez.

Irina, que é mãe de Giovanni, de nove anos, afirma que, apesar de representarem uma tendência mundial, no Brasil, os benefícios exclusivos para mulheres, principalmente aqueles relacionados à maternidade, ainda são raros e, quando existem, resumem-se à existência de creches ou berçários para amamentação. “Aqui, é praxe as empresas oferecerem somente benefícios padrão. Infelizmente, ainda há as que encaram a gravidez como doença.”

Benefícios concedidos nos EUA

Em nota divulgada pela imprensa americana, a Apple afirmou que, além de oferecer a possibilidade de congelamento de óvulos e embriões e de financiar a fertilização in vitro para funcionárias que trabalham nos Estados Unidos, pretende expandir o tempo da licença-maternidade.

Já o Facebook oferece 20 mil dólares para congelamento de óvulos, além de consultoria para adoção e barriga de aluguel e tratamentos de fertilidade para homens e mulheres. Recentemente, a empresa divulgou que seus funcionários no mundo todo terão direito à licença-parental de quatro meses, válida também em casos de adoção e para casais do mesmo sexo.

As duas empresas foram pioneiras em oferecer congelamento de óvulos por razões não médicas. Inicialmente, apenas as funcionárias com câncer recebiam o auxílio antes de passarem por quimioterapia.

Seguindo a mesma tendência, a Intel anunciou que irá quadruplicar os benefícios relativos à fertilidade, destinando 40 mil dólares em tratamentos de fertilização. A Microsoft e empresas do mercado financeiro, como o Citigroup, também cobrem o chamado congelamento preventivo, que visa preservar a fertilidade feminina que, após os 35 anos, declina naturalmente.

Procuradas pela reportagem do UOL, as filiais das empresas no Brasil afirmaram que os benefícios não são extensivos às funcionárias brasileiras.