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Mark Zuckerberg causa polêmica ao vacinar a filha; entenda

Mark Zuckerberg postou uma foto com a filha, Max, esperando para ser vacinada - Reprodução/Facebook
Mark Zuckerberg postou uma foto com a filha, Max, esperando para ser vacinada Imagem: Reprodução/Facebook

Thamires Andrade

Do UOL, em São Paulo

14/01/2016 12h24

 

Mark Zuckerberg causou polêmica ao publicar em sua conta no Facebook uma foto com a filha, Max, de um mês, no colo, pronta para ser vacinada, com a frase "Doctor's visit -- time for vaccines!" ("Visita ao médico -- hora da vacina!", em livre tradução do inglês). A imagem, que recebeu mais de 3,2 milhões de curtidas e 30 mil compartilhamentos, foi alvo de comentários negativos por parte de ativistas antivacinação, que acreditam que as vacinas podem causar doenças, como autismo.

De acordo com especialistas ouvidos pelo UOL, o criador do Facebook está mais do que certo em vacinar a filha, pois, além de proteger a criança, a atitude colabora para que as doenças já erradicadas não reapareçam.

"É mais do que um ato de proteção individual. Muitas crianças e adultos não podem tomar vacinas, pelos mais diversos motivos --tratamento de câncer, vírus HIV, transplantados ou doenças que abalam o sistema autoimune--, e essa parcela da população não adoece graças ao conceito de imunidade de rebanho. Quando 90% da população está vacinada contra uma determinada doença, isso faz com que ela não se manifeste e esses indivíduos permanecem protegidos", explica Renato Kfouri, vice-presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações).

Para Aroldo Prohman de Carvalho, presidente do Departamento Científico de Infectologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), deixar de vacinar o filho é uma irresponsabilidade e negligência por parte dos pais. "Não há qualquer fundamento ou evidência científica de que a vacina leve ao autismo, por exemplo, isso já foi comprovado", afirma.

O alarde entre a relação da vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba) e o aumento de casos de autismo teve início após a conclusão de um estudo errôneo do médico britânico Andrew Wakefield. O especialista perdeu o registro médico e a revista "Lancet", que publicou o estudo, retratou-se publicamente. "O estrago feito por essa publicação é colhido até hoje, ainda que várias outras pesquisas tenham demonstrado que a relação não existe. A Europa não está livre da epidemia de sarampo. No Brasil, por exemplo, a doença está controlada", declara Kfouri.

Para o vice-presidente da Sbim, a vacinação é vítima do próprio sucesso. "Os números falam por si só sobre os benefícios da vacinação. Muitas pessoas nunca viram tétano, difteria, sarampo ou tiveram um caso de poliomielite na família. Os pais que são contra vacinar não viram um bebê morrer de meningite. Eles querem deixar de vacinar, pois acham que essas doenças não existem, mas se hoje elas estão erradicadas e controladas, é por conta das vacinas."

Os especialistas defendem as vacinas que fazem parte do calendário de vacinação do SUS (Sistema Único de Saúde) e, segundo Carvalho, todas as vacinas e doses de reforço propostas são instituídas e totalmente embasadas em evidências científicas.

"No caso das vacinas de catapora e de hepatite A, por exemplo, a primeira dose é suficiente para prevenir a forma grave de manifestação da doença, mas não é capaz de evitar que o vírus se replique na comunidade. Isso não quer dizer que dá para diminuir as doses de vacinas de forma aleatória, pois isso pode colocar a proteção da criança em risco. O pediatra é quem deve recomendar as vacinas no período necessário", afirma Kfouri. 

Alguns efeitos colaterais após a vacinação, como dor no local da aplicação, inchaço, calor na área e febre, são normais. "Nenhum produto é isento desses eventos adversos, mas nenhuma reação é pior do que o risco de ter a doença pela falta de vacinação. Além disso, o mal-estar é temporário. Desaparece de um a dois dias", afirma Carvalho. Os pais podem, nesse período, administrar analgésicos e antitérmicos, sempre com a recomendação do pediatra.

Para os pais que ainda se sentem inseguros quanto à vacinação, Kfouri recomenda a leitura do livro “Recusa de Vacina – Causas e Consequências”, disponível em PDF no site da Sbim. “O material foi publicado por um dos diretores da sociedade e fala sobre os vários motivos religiosos e filosóficos que levam os pais a não quererem vacinar as crianças, além de discutir os riscos e as consequências disso.”