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Furar ou não a orelha do bebê? Saiba o que é permitido

Jóice decidiu furar a orelha das filhas, Maria Flor e Maria Alice, quando elas eram bebês - Arquivo Pessoal
Jóice decidiu furar a orelha das filhas, Maria Flor e Maria Alice, quando elas eram bebês Imagem: Arquivo Pessoal

Janaína Nunes

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/04/2016 07h25

Poucos dias após o nascimento da primeira filha, Maria Flor, hoje com seis anos, a jornalista Jóice Guimarães, 33, teve a ideia de furar as orelhas da menina. Sem tempo e dinheiro, ela optou pelo caminho mais fácil e antigo: foi até uma farmácia e realizou o procedimento.

"Mesmo sabendo que não era correto, optei por fazer isso, pois minha vida financeira estava complicada. Até falei com a pediatra, que me indicou uma enfermeira, mas era muito caro. Não gostei da experiência. A máquina fez muito barulho, e a Maria Flor se assustou. Foi incômodo, mas deu tudo certo, ainda bem", diz.

Jóice sabe que correu um risco. No ano de nascimento de Maria Flor, 2009, as farmácias já estavam proibidas de realizar o procedimento com a pistola antiga, que não era descartável. O que ela passou muitas mães também passam: não sabem a quem recorrer, qual método é mais seguro, quem pode realizá-lo, entre outras dúvidas.

Muitos hospitais deixaram de fazer a perfuração por conta do risco de infecção e por que o ideal é não furar logo após o nascimento.

"Antigamente, era normal furar a orelha do recém-nascido ainda na maternidade ou depois em farmácias. Hoje, cada hospital tem sua regra, e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) permite que o procedimento seja feito em farmácias apenas com aparelhos específicos e descartáveis, que utilizam brincos de aço cirúrgico para fazer o furo. Enfermeiros, acupunturistas, farmacêuticos e pediatras podem fazer o procedimento", afirma Tadeu Fernando Fernandes, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).

Há quem defenda que os furos sejam feitos 15 dias após o nascimento, mas Lilian Sadek, pediatra e neonatologista do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, diz que o correto é fazer o procedimento quando a criança tem aproximadamente dois meses, período que coincide com a realização das primeiras vacinas e quando a pele está menos sensível.

Foi o que fez Jóice com a segunda filha, Maria Alice, de dez meses. "Quando ela completou dois meses, marquei com uma auxiliar de enfermagem na minha casa. Ela levou o dispositivo, fez toda a higienização e realizou a perfuração. Paguei mais caro (R$ 200) para ter o conforto e a certeza de que a pessoa estava realmente preparada. Maria Alice se assustou bem pouquinho, foi tudo muito tranquilo", afirma.

"Ao esperar o tempo adequado, os pais minimizam os riscos. Após o procedimento, deve-se fazer a limpeza da área com álcool 70% todos os dias durante seis semanas, olhar sempre atrás da orelha para verificar se há algum sangramento ou infecção, pois pode existir alergia de contato", fala a pediatra Lilian.

De acordo com Tadeu, quando os pais optarem por utilizar o próprio brinco, o ideal é que se dê preferência para os de ouro maciço ou aço inoxidável, que são hipoalergênicos. Vale ressaltar que se houver algum tipo de infecção após o procedimento, o brinco deve ser retirado, a região lavada e o pediatra da criança deve ser procurado.

Ainda que muitos pais achem que quanto mais cedo furar a orelha da criança, melhor, os pediatras dizem que essa ideia é um mito. "Bebê sente dor igual a um adulto. A vantagem é que ele não sabe o que está acontecendo. A dor da perfuração é menor do que a de uma injeção, pois a sensibilidade na orelha é menor, mas isso não significa que furar não doa", afirma Lilian.

A pediatra do Instituto da Criança, inclusive, não é a favor de furar as orelhas. "Não acho legal colocar brinco nos bebês, pois você está invadindo o corpo do outro. É algo totalmente dispensável. Quando a pessoa crescer, ela decide se quer furar ou não", fala.

Pistola descartável

Os furos na orelha da segunda filha de Jóice foram feitos pela técnica de enfermagem Adriana Moraes Azimovas. Ela trabalha com perfuração há 19 anos e, de lá para cá, já mudou de método. Antes usava os próprios brincos da criança para perfurar, hoje, realiza o procedimento com o dispositivo descartável.

"Nunca tive problemas com infecção, mas acho a pistola descartável muito mais segura. Faço o procedimento após a criança ter tomado as primeiras vacinas", conta.

Antes de fazer os furinhos, a auxiliar de enfermagem passa uma pomada anestésica na região própria para bebês. "Geralmente, eles não sentem nada por conta do anestésico. Todo processo dura pouco mais de 40 minutos", conta a profissional.

Acupuntura

Há quem se sinta mais seguro em furar as orelhas da criança com um acupunturista. A técnica muda um pouco. Após a higienização e aplicação da pomada anestésica, utiliza-se um localizador computadorizado e o furo é feito em um dos pontos neutros da orelha. "É uma região que não vai provocar nenhum desequilíbrio energético. Se o procedimento for feito fora do ponto neutro, pode ocasionar excesso de salivação ou lacrimação excessiva no futuro", diz o acupunturista Sergio Uehara, que atua em São Paulo.

O profissional --que cobra em média R$ 120-- faz a perfuração com brincos trazidos pelos pais, geralmente de ouro. "Acho que utilizar o brinco é menos agressivo. A pistolinha --se não usada corretamente-- faz barulho e pode assustar a criança", fala.