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O que pode estar por trás do drama da criança que não quer ir para a escola

Luciana Palerno e o filho Bento, que teve dificuldades para se adaptar à escola - Arquivo pessoal
Luciana Palerno e o filho Bento, que teve dificuldades para se adaptar à escola Imagem: Arquivo pessoal

Melissa Diniz

Do UOL, em São Paulo

24/04/2016 07h05

Quem tem filhos em idade escolar muitas vezes se vê às voltas com uma situação complicada: a criança não quer ir para a escola. Para a analista junguiana e psicoterapeuta Hellen Mourão, a situação exige atenção dos pais, pois pode ter causas variadas.

Segundo Hellen, o motivo pode ser uma indisposição física real (leia abaixo sobre os sintomas que exigem repouso), mas há casos em que a criança simula um mal-estar para poder faltar e, ao perceber que a tática funciona, acaba usando o recurso com frequência. “Se os pais notam que o filho está atuando, precisam conversar com ele e observar com cuidado o motivo.”

As razões mais comuns são brigas e desentendimentos com colegas e professores ou mesmo uma dificuldade de adaptação ao ambiente.

Foi o que aconteceu com Bento, hoje com seis anos. Sua resistência a ir para a escola começou quando tinha um ano e 11 meses e durou até ele completar quatro anos. Sua mãe, a relações públicas Luciana Palermo, 42, de São Paulo, percebeu que o filho não gostava de deixar a rotina, a casa, os brinquedos e tinha dificuldade de se despedir dela ou de qualquer pessoa que o levasse ao colégio.

“Escolhemos uma escola pequena, segura, com um ambiente que eu e meu marido consideramos apropriado para ele. Mas, desde o começo, ele nunca gostou de ir. Insistimos por algum tempo, conversamos com ele, com os professores e coordenadores e houve até uma melhora temporária, mas, em seguida, ele voltou a ter dificuldades, chorava todo dia”, conta.

Após algumas consultas com uma psicóloga, Luciana decidiu mudar o filho de escola. “Ficou claro para nós que o problema era o lugar, que não despertava o interesse dele. Era sem graça. Hoje, Bento estuda em uma instituição construtivista, mais focada nas necessidades reais de cada fase e que tem uma postura de respeito à individualidade da criança. Fez muita diferença, tanta que ele vai até acampar com os colegas.”

Falta de atenção dos pais

Outro problema comum, de acordo com a psicóloga, é a falta de atenção dos pais, que pode levar a criança a sentir dificuldades de se desapegar nos momentos em que estão juntos. “Isso é frequente quando os pais trabalham fora e a criança acaba ficando muito tempo sem eles. O melhor, nesses casos, é encontrar um tempo de qualidade para dedicar somente ao filho.”

Quando os filhos estão na adolescência, diz a especialista, os conflitos em relação à escola são mais comuns. “O adolescente tenta quebrar regras por natureza. Ele quer transgredir as normas da família e da sociedade em que vive para se encontrar como indivíduo.” Mas é importante que as faltas frequentes não passem despercebidas pelos pais. “É necessário que o filho entenda que está entrando na vida adulta e precisa ter responsabilidades”, diz.

O desinteresse em frequentar as aulas pode ser também reflexo de um método educacional inapropriado, distante dos gostos e necessidades atuais do jovem. “A didática da maioria das escolas está realmente atrasada e engessada. No entanto, é importante explicar aos filhos sobre a necessidade de se concluir os estudos para, mais tarde, procurar algo que reflita sua verdadeira vocação.”

Os casos mais delicados são aqueles em que ocorre bullying. Segundo Hellen, nessa situação, os pais precisam conversar com a escola e ajudar o filho a contar caso se sinta agredido física ou emocionalmente.

Independentemente da idade do filho, a postura de sempre fazer sua vontade é sempre danosa, diz a psicoterapeuta. “A vida adulta não permite que sejamos sempre poupados, é importante ensinar isso aos filhos.”

Hellen lembra que as antigas tribos tinham rituais de passagem para os adolescentes que entravam na vida adulta. “Como hoje isso se perdeu, a escola funciona como uma espécie de substituta, indicando ao jovem a necessidade de uma nova postura. Os pais, tendo consciência disso, devem acolher a dor e o sofrimento do filho, sem se deixar levar pela piedade extrema.”

Quando é preciso faltar

Segundo o pediatra Tadeu Fernando Fernandes, presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), quando a criança está realmente doente não deve ir para a escola ou a qualquer lugar onde haja aglomerações.

“Nesses tempos de gripes, resfriados e outras doenças de transmissão por via respiratória, o bom senso é manter o isolamento, protegendo a criança que está debilitada e os colegas para que não tenham contato com vírus.”

De acordo com o especialista, são sinais de viroses contagiosas febre, tosse, coriza e congestão nasal. “Criança muito abatida, com sonolência excessiva, dificuldades respiratórias, diarreia, vômitos e irritabilidade precisa de cuidados médicos”, diz.

Fernandes diz que a febre isolada pode ser apenas uma reação do organismo a uma agressão viral, bacteriana ou traumática. “A grande maioria das febres é de origem viral e, para elas, basta um antitérmico e hidratação, sem forçar a alimentação. Se após esses cuidados, a criança acordar bem-disposta e sem febre, pode ir à escola, caso contrário, é melhor ficar em casa em observação.”

Nos casos de dor de cabeça sem a presença de outro sinal o sintoma, o médico recomenda que a criança mantenha sua rotina normal. “Isso pode ser apenas uma desculpa para ficar em casa jogando videogame”.

Sintomas que se tornam recorrentes, como dores de barriga, também são indicativos de que a criança possa estar sofrendo bullying ou pedindo socorro por alguma questão emocional.  Nesses casos, a ajuda de um psicólogo pode ser fundamental para que a criança se abra melhor, explica o pediatra.