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Apesar dos avanços da ciência, gravidez aos 40 ainda é considerada de risco

Dira Paes recorreu à fertilização in vitro para ter o segundo filho, Martim, aos 46 anos - Contigo/Divulgação
Dira Paes recorreu à fertilização in vitro para ter o segundo filho, Martim, aos 46 anos Imagem: Contigo/Divulgação

Melissa Diniz

Do UOL, em São Paulo

17/05/2016 07h05

Para Daniel Suslik Zylbersztejn, médico especialista em reprodução humana do Hospital São Paulo, a melhor idade para ser mãe, do ponto de vista estritamente fisiológico, vai dos 20 aos 28 anos. “Esse período representa o auge do potencial fértil, com chances mínimas de abortamento e de incidência de alterações genéticas no bebê.” No entanto, a decisão de ter um filho envolve outras necessidades que geralmente não são alcançadas nessa faixa etária, como uma situação profissional e uma relação estáveis.

Carolina Ferraz e a bebê Anna Izabel, aos 6 meses. A atriz também é mãe de Valentina, 20. - Reprodução/Instagram  - Reprodução/Instagram
Carolina Ferraz teve Anna Izabel aos 46 anos. A atriz também é mãe de Valentina, 20
Imagem: Reprodução/Instagram

Para o ginecologista Isaac Yadid, especialista em reprodução humana do Rio de Janeiro, a idade ideal para uma mulher ter filhos é até os 35 anos, porque ela ainda tem capacidade de produzir óvulos de qualidade.

“Quanto mais jovem, melhor, mas, até os 35, a ciência comprova que a reserva ovariana continua a mesma dos 18. Estudos mais recentes também apontam para mudanças hormonais ou corporais muito pouco significativas até essa idade”, declara Yadid. 

Na opinião do ginecologista, mais importantes do que a idade biológica da mulher são suas funções uterinas e sua capacidade de produzir óvulos de qualidade. “Se a mulher tiver uma reserva ovariana mantida e o útero bom, pode ser mãe aos 50 ou até 60 anos. Isso também acontece quando ela congela os óvulos que vai utilizar no futuro.”

Os riscos da gestação tardia

Se após os 40 a mulher tende a ter mais segurança financeira e emocional, a gestação tardia traz consigo riscos maiores para a mãe e para o bebê. As chances de ocorrer aborto espontâneo são duas vezes maiores do que em mulheres jovens, podendo chegar a 30%. Partos prematuros também se tornam mais frequentes. “Há ainda uma predisposição maior para hipertensão e diabetes gestacional, além de um trabalho de parto mais complicado”, diz Zylbersztejn.

No caso dos bebês, são maiores as ocorrências de síndromes. “Em mulheres de 40 anos, a incidência para a síndrome de Down é de um a cada cem nascidos vivos. Acima de 45 anos, a incidência é de um a cada 20 nascidos vivos”, afirma o médico.

O que contribui para que os riscos aumentem com o passar do tempo é o envelhecimento dos óvulos. De acordo com Zylbersztejn, o ovário tem mesmo uma data de validade que, para a grande maioria das mulheres, termina aos 40 anos.

“Depois disso, os óvulos têm mais chance de apresentarem alterações cromossômicas, as chamadas aneuploidias, responsáveis pela grande maioria dos abortos espontâneos e pelo nascimento de bebes com síndromes, muitas delas incompatíveis com o desenvolvimento da vida.”

Solange Couto teve Benjamin (na foto com 11 meses) aos 55 anos - Reprodução - Reprodução
Solange Couto teve Benjamin (na foto com 11 meses) aos 55 anos
Imagem: Reprodução

Como explicar, então, tantos casos de sucesso? Em 2015, as atrizes Dira Paes e Carolina Ferraz, ambas aos 46 anos, foram mães pela segunda vez. Em 2011, aos 55, a também atriz Solange Couto deu à luz o terceiro filho. Todas tiveram crianças saudáveis.

Dira submeteu-se a uma fertilização in vitro. Na técnica, óvulos e espermatozoides são coletados, e a fertilização é feita em laboratório. Os embriões são mantidos em uma estufa e depois transferidos para o útero materno. Carolina fez inseminação artificial, procedimento em que a mulher usa medicamentos que induzem a ovulação. O sêmen é coletado e transferido para o útero. Quando o espermatozoide encontra o óvulo, a fertilização ocorre de maneira natural. Já Solange, por causa de um tratamento de reposição hormonal no início da menopausa, voltou a ovular inesperadamente.

“Atualmente, existem técnicas de biópsia e avaliação genética dos embriões antes de eles serem transferidos para o útero da mulher, reduzindo muito a chance de um nascido vivo ser portador de uma síndrome genética, embora ainda haja riscos para falhas diagnósticas”, diz Zylbersztejn.

Além disso, antes de se submeter a um tratamento, a mulher também passa por uma série de avaliações. “Quando preparamos uma paciente para fertilização, ela já foi analisada de uma certa maneira e diagnosticada para não ter intercorrências. É um processo seguro e, automaticamente, só os óvulos de boa qualidade vão para fertilização”, afirma Yadid.

Pacientes com 45 anos ou mais têm mais chances de engravidar quando fazem uso de óvulos doados por uma mulher mais jovem, de forma anônima. “A chance de uma mulher de 45 anos engravidar usando seus próprios óvulos com fertilização in vitro não passa dos 5%, com altíssimo risco de bebês com síndromes genéticas. Com o uso de óvulos doados, pode-se atingir uma taxa de 40% de gravidez, com baixo risco de síndromes genéticas”, explica Zylbersztejn.

A ciência, entretanto, nem sempre funciona. “As modernas técnicas de reprodução assistida têm ajudado muitas mulheres que adiaram a maternidade, mas isso não pode ser confundido como uma garantia de gravidez. Apenas 60% a 70% dos casais conseguirão o objetivo de ter um filho com os tratamentos reprodutivos existentes”, fala o médico.