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Seu filho adolescente pediu cama de casal, e agora?

O adolescente Lucas Gaede, 12, que dorme em uma cama de casal - Adriana Gaede/Arquivo pessoal
O adolescente Lucas Gaede, 12, que dorme em uma cama de casal Imagem: Adriana Gaede/Arquivo pessoal

Beatriz Vichessi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/06/2016 07h05

Aos 12 anos, Lucas Gaede já dorme em uma cama de casal (um modelo "queen size". A mãe, a fotógrafa Adriana Gaede, tomou a decisão quando redecorou o quarto do filho, considerando vários benefícios que a mudança traria –não só para o menino.

“Lucas é comprido, dorme com o corpo todo torto. Uma cama de casal dá mais espaço a ele, que sempre quis ter uma. Além disso, o quarto dele é um ponto de encontro dos amigos e, como meus pais não moram na mesma cidade que nós, quando estão nos visitando, podem se hospedar no quarto do neto”, fala Adriana.

Desde os nove anos, João Victor Molina Lage também tem um quarto diferente da maioria das crianças, com cama de casal. “Herdei o colchão da minha mãe e gostei da ideia porque sempre dormi de um jeito esparramado”, diz.

Quando Ana Lívia Molina separou-se do pai de João Victor e foi morar em uma outra casa, planejou o quarto do filho para ser dele por muito tempo. “Queria um cômodo com espaço para ele estudar e receber os amigos. Até pensei na questão de ele, quando namorasse, levar a namorada para o quarto. Mas a verdade é que quando esse momento chega, é um baque”, afirma a consultora de vendas.

João Victor Molina Lage, 19, tem cama de casal desde o nove anos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
João Victor Molina Lage, 19, tem cama de casal desde o nove anos
Imagem: Arquivo pessoal

Quando criança, primos e amigos dormiam na mesma cama que João Victor, o quarto dele era eleito pelas crianças para ver televisão, brincar e jogar videogame. “Minha cama faz as vezes de sofá até hoje. Quando criança, alguns de meus amigos estranhavam eu ter uma cama tão grande e achavam legal. Acho que pude ter esse privilégio porque sou filho único, nunca tive de dividir meu quarto com ninguém”, diz o rapaz, atualmente com 19 anos.

O móvel foi planejado com uma borda lateral para que as visitas pudessem sentar também. Aos 18, depois de conversar com o filho, Ana Livia liberou que a namorada dele dormisse com ele na cama e, até hoje, o quarto dele é o lugar preferido dos amigos e familiares. “Quando ele recebe alguém, gosta de ficar lá, o quarto é o mundo dele”, fala Ana Lívia.

Limites claros

A designer de interiores Melina Mundim, que atua em Belo Horizonte, diz que a demanda por projetos de quartos de adolescentes com cama de casal vem crescendo nos últimos oito anos. “Eles começaram a gostar de ter mais espaço na cama para dormir, e o móvel também virou espaço para receber os amigos, já que o tamanho dos quartos diminuiu e não há como colocar sofás no cômodo”, diz. Além disso, algumas famílias passaram a permitir que namorados e namoradas dormissem na casa, por medo da violência crescente.

Nos Estados Unidos, quarto de adolescente com cama de casal é um conceito antigo. “Isso se deve ao fato de, naquele país, geralmente os cômodos serem amplos o suficiente para receber o móvel”, conta Alexandra Tobler, fundadora e diretora de estilo do Westwing, clube de compras de casa e decoração on-line.

Porém, a decisão de colocar esse tipo de móvel no quarto dos filhos tem de ser analisada pela família, considerando-se os valores da família. É preciso pensar se esse ambiente é visto como um espaço público da casa (como a sala de televisão) ou privado (como o quarto dos pais).

“Como ocorre em todas as relações humanas, é preciso que os pais estipulem regras. A porta pode ser fechada? Quem pode ficar no quarto do adolescente com ele?”, diz Edith Rubinstein, terapeuta familiar, psicopedagoga e diretora do Centro de Estudos Seminários de Psicopedagogia, de São Paulo.