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Zika: adiar gravidez pode não valer a pena para mulher com mais de 35 anos

Acima, o zika; segundo sociedades médicas, para a mulher com mais de 35, adiar gravidez é mais arriscado do que contrair o vírus - Getty Images
Acima, o zika; segundo sociedades médicas, para a mulher com mais de 35, adiar gravidez é mais arriscado do que contrair o vírus Imagem: Getty Images

Melissa Diniz

Do UOL

22/09/2016 07h05



“O zika veio para ficar. Não adianta esperar que a epidemia passe para depois planejar a gravidez”, afirma a médica Melissa Falcão, membro do Comitê de Arbovirose da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). A frase da especialista foi dita no lançamento da campanha “Vamos Conversar”, resultado da mobilização de seis sociedades médicas ligadas à reprodução humana, que defende o direito de as mulheres terem filhos, apesar da epidemia de zika.

A iniciativa é encabeçada pela SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida), representantes da Febrasgo (Federaçao Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetricia), SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), Rede Latinoamericana de Reprodução Assistida, SBRH (Sociedade Brasileira de Reprodução Humana) e SBI. A atriz Samara Fellipo, mãe de Alicia, 7, e Lara, 3, é a madrinha da campanha, que vai contra diretriz da OMS (Organização Mundial da Saúde). Em junho de 2016, a entidade recomendou que quem vive em locais com surto de zika adie a gravidez.
 
Segundo os médicos, a preocupação é em relação às mulheres acima de 35 anos, que têm menos chances de engravidar e mais probabilidade de ter complicações na gestação em virtude da idade. Para elas, o risco de esperar é maior do que o de contrair o vírus da zika.
 

O objetivo da ação é informar a população sobre o zika vírus e sua relação com a microcefalia, malformação congênita que faz com que a cabeça e o cérebro do bebê sejam bem menores do que o normal para a idade, comprometendo a função neurológica.

Edson Borges Junior, Hitomi Nakagawa, Newton Busso, Samara Fellipo, Melissa Falcão e Mario Cavagna participam do lanaçamento da campanha "Vamos Conversar" - Claudio Pepper/ Divulação - Claudio Pepper/ Divulação
Os médicos Edson Borges Junior, Hitomi Nakagawa, Newton Busso, Melissa Falcão e Mario Cavagna participam, com a atriz Samara Fellipo (centro), do lançamento da campanha "Vamos Conversar"
Imagem: Claudio Pepper/ Divulação

Para isso, as entidades, em parceria com a empresa farmacêutica Merck, criaram o site www.gravidezemtemposdezika.com.br e uma página no Facebook, nos quais é possível esclarecer dúvidas com a ajuda de especialistas, diferenciar mitos e verdades e reunir informações científicas que permitam planejar a gravidez com segurança.

Segundo a presidente da SBRA, Hitomi Miura Nakagawa, a ideia da campanha é ampliar o diálogo em torno do tema e permitir que o público leigo tenha acesso às pesquisas médicas mais recentes sobre o assunto.

“Cientistas de diversas partes do mundo estão realizando estudos sobre zika e microcefalia, mas muitos artigos trazem verdades transitórias e é importante que a população tenha acesso à informação qualificada e atualizada”, afirma Nakagawa.

Medo de ter filhos

Desde que surgiu o primeiro caso de bebê com microcefalia no Brasil, em maio de 2015, muitas mulheres passaram a temer a gravidez. “As gestantes relatam no consultório que chegam a sonhar que estão sendo perseguidas pelo mosquito, tamanho o medo de contrair zika”, afirma Melissa Falcão, da SBI.

Sabe-se que com a chegada do calor e das chuvas, a tendência é que os casos de contaminação pelo vírus aumentem, por conta da proliferação do mosquito transmissor.

“Pegar a virose não significa necessariamente que o bebê terá microcefalia, apenas 13% dos casos de contaminação na gestação deixam sequelas no bebê [o número é uma estimativa feita pelos centros americanos de controle e prevenção de doenças, CDC]”, afirma o ginecologista e obstetra Newton Busso, presidente da Comissão Nacional Especializada em Reprodução Humana da Febrasgo.

Para Mário Cavagna Neto, presidente da SBRH, no caso das mulheres com mais de 40 anos, a chance de ter um bebê com síndrome de Down é muito maior do que a de ter um com microcefalia, e o risco de sofrer aborto também aumenta muito.

“A espécie humana é pouco fértil se comparada às outras. Um casal jovem que faz sexo regularmente tem apenas 25% de chances de engravidar e 10% de abortar. Quando a mulher chega aos 40, a chance de engravidar fica entre 10% e 12%, e a de abortar sobe para 40%”, fala Neto.

Edson Borges Junior, coordenador do Departamento de Infertilidade Masculina da SBU, afirma que, depois dos 40, aumentam também os riscos de a gestante sofrer de diabetes, hipertensão, pólipos (crescimento excessivo das células da parede interna do útero, causado principalmente por alterações hormonais) e miomas (tipo de tumor benigno que pode alterar o formato do útero). “Se o parceiro tem mais de 50 anos, são também maiores as chances de malformações no bebê.”

Contágio e prevenção

Para prevenir o contágio pelo zika, a recomendação dos médicos continua sendo usar repelentes, calças e blusas de manga comprida, preferir locais fechados e com ar refrigerado e evitar regiões onde haja focos do mosquito.

No caso de o parceiro viajar para regiões afetadas pela doença, que também é transmitida sexualmente, recomenda-se o uso de preservativo e a espera de seis meses antes de engravidar, quando há suspeita ou confirmação da doença.