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Mulheres contam por que resolveram amamentar filhos por mais de dois anos

Grávida de 40 semanas, Juliana amamentou o filho, Rafael, até quase os seis anos e ainda amamenta a filha, Tarsila - Roberto Setton/UOL
Grávida de 40 semanas, Juliana amamentou o filho, Rafael, até quase os seis anos e ainda amamenta a filha, Tarsila Imagem: Roberto Setton/UOL

Beatriz Vichessi

Colaboração para o UOL

23/09/2016 07h15

A orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) a respeito da amamentação é que a criança mame de modo exclusivo durante os seis primeiros meses de vida e, depois disso, preferencialmente até dois anos ou mais. O órgão não estabelece um prazo para o aleitamento materno ser interrompido.

Porém, muitos pediatras, alegando questões comportamentais, instruem as mulheres a desmamarem os filhos. A sociedade em geral também não enxerga com bons olhos crianças crescidas no colo da mãe, sugando o peito.

Ainda assim, a livre demanda em amamentação prolongada é o regime adotado por diversas famílias. Conheça alguma delas.

Juliana Bolanho, 30, mãe de Rafael, 6 anos e 4 meses, e Tarsila, 1 ano e 8 meses, prestes a dar à luz Marina

“Rafael desmamou sozinho com cinco anos de dez meses, mas talvez sinta vontade de voltar a mamar quando Marina nascer. Acho normal. Tarsila segue mamando. Rafael me ajudava, inclusive, a esvaziar as mamas quando tinha leite demais no início de vida da irmã. Explicava que estava com dor e ele mamava. Com o nascimento de Marina, se os três quiserem mamar, não vejo problema. Nunca vi mal algum na amamentação prolongada nem meu marido. Desde quando estava grávida pela primeira vez, busquei informações sobre o assunto e gostei da ideia de amamentar pelo menos até os dois anos. Mas Rafael, depois dessa idade, mesmo já na escola, não desmamou. Ele não mamava muitas vezes diariamente, somente cerca de duas, tal como algumas pessoas tomam um copo de leite ao longo do dia. Quando ele parou de mamar, demorei a perceber, passaram-se dias e só depois que me toquei. Rafael é uma criança independente, forte e que não vive grudado em mim. Acho que essa história de dizer que criança que mama por muito tempo é imediatista ou mimada é uma desculpa de quem não sabe lidar com a questão. No passado, não havia problema com isso, aliás. Certa vez, minha mãe me contou que meu avô materno mamou até os sete anos. Quando Rafael tinha cerca de quatro anos, falei que não seria possível amamentar todas as vezes que ele quisesse, pois nem sempre estava vestindo roupas que permitiam. E ele entendeu. Mas, em casa, jamais neguei o peito.”

Thais da Silva, 32, mãe de Miguel, 4 anos, e Cecília, 10 meses    

“Miguel mamou em livre demanda [sempre que quisesse] até quando a irmã mais nova completou quatro meses, mesmo sob olhares de reprovação, inclusive de pediatras. Durante a segunda gravidez, fiquei mais sensível e, às vezes, tinha de driblá-lo para não dar o peito porque estava cansada. Com o passar do tempo, ele não queria mais mamar toda hora, só antes de dormir. Nesse momento, bateu um desespero, porque ele poderia parar de mamar. Próximo ao parto da irmã, ele às vezes nem mamava. Encostava a boca no peito e só. Eu não aceitava aquela novidade de sentimentos, enxergava-o como um bebê ainda. Naquela época, Miguel estava passando por sessões com uma psicóloga e ela aconselhou o desmame. Um dia, ele foi mamar antes de dormir, depois da irmã. Ele sugou e disse: ‘Não tem leite, mamãe’ e eu respondi: ‘Ah, que bom, então você não precisa mais mamar’. E foi assim que ele parou.”

Maria Luisa Maciel Lolato, 34, mãe de Antonella e Benício, 3 anos

“No início, minha ideia era permitir que os gêmeos mamassem até quando quisessem. Aos dois anos, as crianças almoçavam e o leite materno era a sobremesa delas. Amamentava em qualquer lugar, mesmo sob olhares de reprovação, inclusive da minha mãe. Por volta dessa época, comecei a ficar muito cansada. Ficava o dia todo com as crianças e elas queriam mamar a todo momento. Sempre que percebiam que estava querendo desmamá-los, passavam a mamar mais. Chegaram acordar até cinco vezes por noite para mamar. Para o desmame, fui tirando o peito da rotina deles aos poucos. Eles ficaram estressados, Benício mais que Antonella. Não estava mais curtindo amamentar, estava atrapalhando nossa relação e era angustiante para mim. Tinha dia que amamentava chorando, mas chorava também quando recusava o peito. Pensava que as crianças podiam se sentir rejeitadas. Foi conflituoso, mas finalmente acabou. Não sei exatamente quando, eles tinham dois anos e nove meses. Já não amamentava mais durante o dia e decidi parar à noite e de madrugada. Parece que quando tomei a decisão com convicção total, aconteceu. Apesar disso, quando vou fazê-los dormir, eles só pegam no sono com as mãozinhas no meu peito. Meu marido apoiou minhas decisões o tempo todo. Percebia que ele sentia orgulho de mim e me defendia quando alguém criticava as crianças mamarem estando crescidas. Dá para contar os benefícios da amamentação prolongada nos dedos das duas mãos. Em 2015, por exemplo, Benício foi internado duas vezes e, pelo fato de mamar, não precisou nem ficar no soro. Ele não comia, mas o leite materno garantia o que ele precisava."

Adriana Canuti, 47, mãe de Giorgio, 7 anos, Vincenzo, 5 anos

Adriana Canuti, 47, amamentou o filho Giorgio por quase cinco anos e Vincenzo por quatro anos - Roberto Setton/UOL - Roberto Setton/UOL
Adriana Canuti, 47, amamentou o filho Giorgio por quase cinco anos e Vincenzo por quatro anos
Imagem: Roberto Setton/UOL

“Tenho dois filhos e ambos mamaram até quando quiseram. O mais velho até quatro anos e dez meses e o mais novo até uma semana antes de fazer quatro anos. Durante dois anos, amamentei os dois. Desde que engravidei do primeiro, foi uma decisão minha deixá-los mamar o tempo que fosse preciso. Para o pai das crianças, a ideia soou normal. Ele é italiano e na Europa isso é comum. O fato de ser autônoma e trabalhar em casa contribuiu. Ouvi pessoas questionando até quando os meninos iriam mamar, se não estava na hora de parar e coisas assim. Sempre fui muito firme e respondia que eles iriam parar quando quisessem. Eles mesmos passaram a responder isso quando aprenderam a falar. O desmame aconteceu naturalmente, como eu queria. O mais velho parou e nem percebi. Ele já mamava um dia sim, outro não, não tinha muita constância. Até que um dia o mais novo pediu para mamar e eu pensei: ‘Nossa, faz tempo que o irmão não pede!’. Nisso, ele falou que não mamava mais, que o meu leite já tinha feito bem para o pé, a cabeça e o braço dele e que agora o peito podia ficar só com o mais novo, que ainda precisava dele. No caso do segundo, foi tão tranquilo quanto. Um dia, ele chegou para mim e disse que não queria mais. Quando parei de amamentar, não senti tristeza, não fiquei de luto, não me senti aliviada --tanto que o mais velho falava que ia mamar até os cinco anos e sempre achei que tudo bem. A sensação com o desmame por iniciativa deles foi de missão cumprida. Optei por amamentar dessa maneira prolongada porque acredito que o leite materno fornece muitos anticorpos para as crianças. O mais velho nunca tomou antibiótico, e o mais novo, só uma vez. No mais, é acalento, aconchego.”

Karina Borghi, 30 anos, mãe de Lívia, 2 anos e 11 meses

“Lívia tem três anos e não quer parar de mamar. Tenho dito para ela que meu peito está 'dodói' e que por isso ela pode mamar só um pouquinho. Ela tem aceitado. Amamentei exclusivamente nos primeiros seis meses de vida da minha filha e, antes mesmo de ela nascer, tinha decidido que ela poderia mamar por dois anos ou quanto quisesse. Enquanto estivesse bom para ela e para mim. Avisei as pessoas da família, inclusive, para que, quando isso acontecesse, ninguém fizesse cara feia ou falasse que ela estava crescida demais para mamar no peito. Quando ela completou dois anos, decidi por um desmame gradual e passei a estabelecer os lugares que ela poderia mamar. Em ambientes públicos, por exemplo, não poderia mais. Acontece que o desmame gradual não progrediu como imaginava. Ela está com quase três anos e ainda mama muito. A situação não está mais legal para mim. Estou cansada física e psicologicamente, ainda mais recentemente porque estou enfrentando problemas familiares sérios. Às vezes, fico pensando que ela vai querer mamar até se casar. Estou realmente esgotada, não quero mais. Foi bacana e importante, mas chega. Atualmente, ela mama quando acorda e quando eu chego em casa, à noite. Ela pede para mamar a todo o momento. Tento distraí-la. Quando não consigo, ela chora sentida ou de raiva. Lívia adormece no peito e às vezes acorda de madrugada para mamar também. Sobre a amamentação noturna particularmente, tenho um pouco de preguiça de fazer o desmame.”