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Grávida de 7 meses faz crossfit de barrigão e gera debate: todas podem?

Vivian Ortiz

Do UOL

27/01/2017 13h46

A turismóloga Graziela Allan, uma moradora de Florianópolis (SC) de 28 anos, surpreendeu algumas pessoas ao publicar em seu Facebook vídeos onde aparece praticando crossfit. Nas imagens, chega a fazer agachamentos com uma barra de 25 quilos nos ombros. O detalhe? Ela está com 28 semanas de gestação de seu terceiro filho, uma menina, com parto previsto para a metade de abril.

Em entrevista ao UOL, Graziela conta que pratica crossfit há cerca de quatro anos. Na primeira gravidez, no entanto, preferiu focar mais em ioga e pilates. "Por medo mesmo, mas achava monótono e me senti melhor fazendo só o crossfit na segunda gestação." Ela explica que diminuiu sua carga de treinamento, além de ter feito adaptações. "Não pulo na caixa nem subo na corda, por exemplo, e também evito me cansar muito durante os treinos", conta.

Graziella durante a sua segunda gestação - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Graziella durante a segunda gestação
Imagem: Arquivo pessoal

Segundo Graziela, a atividade foi liberada pela médica. "Tanto que fiz os exames de rotina e, como o colo do útero está perfeito, não tinha o que me preocupar", diz. Ela também alega não ter tido problema nas outras gestações. "Meu primeiro filho nasceu com 38 semanas e 3,5 quilos. Já o segundo veio com 40 semanas e 3,6 quilos, todos de parto normal", conta. Os bebês também foram amamentados por mais de um ano, pelo menos.

Luciana Lourenço, que é enfermeira obstetra especializada em parto domiciliar, avalia que exercícios são muito importantes, pois ajudam tanto na elasticidade dos tecidos musculares, auxiliando tanto na dilatação como na respiração, fatores importantes no trabalho de parto. "Quando condicionada fisicamente, essa mulher consegue fazer várias posições alternativas, tornando tudo mais fácil na hora de ajudar na descida do bebê", avalia.

Todo mundo pode?

Mulheres grávidas; grávida; getty image - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Não é bem assim, de acordo com o professor de educação física Aylton José Figueira Junior, que é Mestre e Doutor em Adaptação Humana, Atividade Física e Saúde pela UNICAMP. Ele explica que o crossfit é uma modalidade esportiva fundamentada em um método que exige condição bastante elevada e, quando a mulher está grávida, exercícios de alta intensidade não são necessários, pois todos os benefícios - tanto para a mãe quanto para o bebê - em termos de melhora na função cardíaca e aumento da irrigação sanguínea para o feto, já são conquistados com exercícios moderados.

"Ou seja: a atividade vigorosa também pode ser benéfica, mas só a versão moderada já é suficiente para obter melhora circulatória", explica. Ele também destaca que exercícios de alta intensidade diminuem o fluxo sanguíneo para o bebê, algo ruim nas fases inicial e final da gestação, momentos de grande necessidade em termos de sangue e nutrientes.

De acordo com Figueira Junior, atualmente existem 107 artigos científicos que analisam os efeitos do crossfit na gravidez. E neles aparecem várias questões, como a falta de leite na mãe, o deslocamento lombar por conta da própria alteração que a gestação promove e o aumento da lordose, entre outras questões. "Assim, avalio que não existe sustentação científica nenhuma sobre os benefícios desse tipo de exercício na gravidez", ressalta.

O que fazer, então? Não é bem assim

O educador físico avalia que a "cereja do bolo" no caso das grávidas é fortalecimento muscular, além de ênfase no trabalho aeróbico e de flexibilidade, como caminhada, hidroginástica, natação e bicicleta ergométrica. Tudo pensando na melhora cardíaca e circulatória da mãe.

Para mulheres grávidas, ou não, também é fundamental manter a regularidade na hora de fazer exercícios. Segundo o especialista, isso funciona melhor do que intensidade. "Não é o exercício que emagrece, mas a intensidade e a frequência que eu faço, sendo menos benéfico do que se fizesse todo dia, inclusive."

Exagero nunca é bom

Para Eduardo Cordioli, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP), fazer atividades físicas durante a gravidez é muito importante, pois diminui os riscos de pré-eclâmpsia e diabetes, por exemplo. O que pode fazer mal é o exagero, pois o exercício intenso pode prejudicar o crescimento do bebê.

Até por este motivo, ele alega que o ideal é a grávida não fazer uma atividade física pesada como o crossfit, especialmente pelo risco de incompetência istmo-cervical, que é a incapacidade do colo uterino de manter uma gravidez. "Isso normalmente já existe em algum grau naquela mulher e o exercício pode agravar o problema", explica.

Segundo o médico, outra grande questão é colocar em risco aquela gravidez. "Como mulher pode saber se tem o problema? Apenas se existir algum evento negativo na gestação, como o ultrassom mostrar que o colo do útero está diminuindo, ou que há algum problema no crescimento do bebê."