Topo

Menina de 15 anos via notícias sobre microcefalia na TV e temia morrer

Victoria Cabral Moraes Monteiro já fez fotos para uma loja de roupas da sua cidade, na Bahia - Arquivo Pessoal
Victoria Cabral Moraes Monteiro já fez fotos para uma loja de roupas da sua cidade, na Bahia Imagem: Arquivo Pessoal

Adriana Nogueira

Do UOL

10/03/2017 16h13

Victoria Cabral Moraes Monteiro, 15 anos, começou a perceber cedo que era diferente das demais crianças, mas foi só em 2016, com as frequentes notícias sobre microcefalia na TV, que ela entendeu o porquê. “Ela via as reportagens que falavam que era uma doença, chorava e me perguntava se ia morrer”, conta a mãe da menina, Fátima, 56.

“Queria que quando falassem sobre a microcefalia na televisão tomassem cuidado, porque há outras crianças como a Vic que, embora tenham o problema, percebem tudo a sua volta. Queriam que falassem de superação. Que com amor e paciência, a criança consegue se desenvolver”, afirma Fátima, que é mãe também de Eduardo, 30, e Fabio, 28.

É o caso de Victoria. A menina andou com um ano e três meses e deixou as fraldas com um ano e cinco, idades consideradas adequadas para essas conquistas. Foi com a fala o principal desafio.

Com Victoria no colo, Fatima posa ao lado dos filhos mais velhos, Eduardo (à esquerda) e Fabio; personagem de matéria de UOL Gravidez e Filhos - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Com Victoria no colo, Fatima posa ao lado dos filhos mais velhos, Eduardo (à esquerda) e Fabio
Imagem: Arquivo Pessoal
“Com uns oito meses, ela balbuciava ‘mama’ e ‘papa’, mas, de repente, parou. Levamos em uma fonoaudióloga quando ela tinha um ano e nove. A mulher falou ‘calma, que ela chega lá’.” Aos cinco, enfim, a menina começou a falar frases e hoje se comunica normalmente. “Ela diz a todo momento que quer ser médica.”

Victoria terminou o quinto ano do ensino fundamental e hoje frequenta aulas particulares, em conjunto com outras crianças com dificuldades de desenvolvimento. Na cidade dela, Ituberá, a 320 quilômetros de Salvador, na Bahia, não há instituições de ensino especializadas em crianças com deficiência.

“Ela ficou desestimulada na escola regular porque via as crianças menores lendo melhor do que ela. Por isso, neste ano, optamos por esse sistema de reforço”, diz Fátima. A menina faz ainda aulas de inglês duas vezes por semana e pediu para fazer aulas de violão e caratê, o que deve começar em breve.

Fátima, com a filha, Victoria, e o marido, Wilson - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Fátima, com a filha, Victoria, e o marido, Wilson
Imagem: Arquivo Pessoal
“Estamos em uma fase de deixá-la fazer o que gosta. O médico que a acompanha já falou: ‘Não adianta forçar. Tudo acontece no tempo dela’”, afirma a mãe, acrescentando que a garota adora dançar e tirar fotos, e já se arriscou como modelo, posando para uma loja de roupas da cidade.

Fátima diz que o principal obstáculo que enfrenta hoje com Victoria é o preconceito. “Ela é muito meiga e carinhosa com todo mundo, mas as meninas da idade dela, embora retribuam os gestos de carinho, não a convidam para ir nas casas delas nem para sair. Ela sente falta, e a gente tenta suprir. Mesmo quando não estou com vontade, saio para passear com ela.”