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A filha dela morreu de câncer e ver sua nota no Enem a ajudou com o luto

Marília Seriacopi de Sylos, 16, e a mãe Regina Célia Seriacopi, 47. - Arquivo Pessoal
Marília Seriacopi de Sylos, 16, e a mãe Regina Célia Seriacopi, 47. Imagem: Arquivo Pessoal

Thamires Andrade

Do UOL

27/03/2017 15h38

Marília Seriacopi de Sylos, 16, fez o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2016 no hospital. Após um ano lutando contra uma leucemia, a jovem morreu em janeiro deste ano. E foi só na última semana que sua mãe, Regina Célia Seriacopi, 47, conseguiu checar as notas da filha no exame, que foi quando o MEC (Ministério da Educação) liberou a nota dos treineiros.

Regina conta que a filha foi diagnostica com a doença no fim do 1º colegial. “No segundo ano, o primeiro trimestre ela ficou internada e recebia o conteúdo por e-mail e por WhatsApp. Voltou a estudar no segundo trimestre, mas teve uma recaída da doença e voltou a ficar internada”, conta. No hospital, a garota teve aulas particulares de redação.

Mesmo em meio ao tratamento, Marília quis fazer o exame para testar seus conhecimentos. “Nós quisemos saber o resultado, pois era uma questão de fechar um ciclo. Ao ver a nota, vemos o quanto a dedicação dela valeu a pena. Para mim, como mãe, é importante ver que ela se preparou, estudou e conseguiu. Ela tem servido de exemplo para muita gente. Ela é um exemplo de força e superação. Era um merecimento que precisava ser divulgado”, fala Regina.

Postagem de Regina Célia Seriacopi, 47 - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Marília ficou com média de 620 pontos em cada uma das provas do Enem, e 640 na redação. Para Regina, o legado da filha é marcado por muita força, superação e respeito. “Ela tem motivado muitos jovens. Tem muita gente com saúde que não se esforça, que não está nem aí. E ela, mesmo doente, não desistiu. Isso serve de exemplo de motivação para muita gente”, fala.

Prova conturbada

Marília tinha passado por uma sessão de quimioterapia de alta dosagem dias antes da prova e estava debilitada, mas, mesmo assim, não desistiu de fazer o teste. “A prova foi bem na semana que caía a imunidade. Ela chegou da prova com febre, com dor de cabeça e na gengiva. Mas ela não desistiu e foi até o fim. Acho que se não fosse isso, os resultados dela seriam ainda melhores”, fala.

A jovem queria estudar medicina desde pequena e, depois de ficar internada no Itaci (Instituto de Tratamento do Câncer Infantil), teve mais certeza da futura profissão. “O objetivo dela era trabalhar na parte oncológica, pois se encantou pelo trabalho e queria retribuir o amor que recebeu lá dentro para quem precisasse dela. Ela também queria, depois de curada, se voluntariar no hospital para dar o mesmo conforto que recebeu”, conta.

A jovem chegou a fazer o transplante de medula, mas pegou uma nova infecção por fungo, que contaminou a medula nova. “Como ela estava sem defesa, ela não conseguiu vencer esse fungo e não resistiu. Ela morreu no dia 19 de janeiro”, conta a mãe.

Continuidade no legado

Durante o tratamento, a jovem encabeçou uma campanha de doação de sangue, plaquetas e medula nas redes sociais. Foi, inclusive, por essa campanha que encontrou o doador compatível. Agora, a mãe e suas colegas de escola querem manter esse legado.

"Era o sonho dela que déssemos continuidade nessa campanha. Queremos falar sobre o cadastro consciente. Pois não basta só cadastrar e na hora que alguém precisar, dar para trás. As pessoas precisam saber que a retirada do fluído é tranquila. O processo é simples e pode ajudar a salvar uma vida", explica.

Para Regina, manter a campanha e ter recebido a nota de Marília tem ajudo em seu processo de luto. “Me enche de orgulho ver que ela se esforçou tanto e teve um bom resultado. Ver que ela é um exemplo para as pessoas me ajuda a lidar com a perda dela. Ela tinha uma missão aqui e cumpriu”, fala.