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Série sobre suicídio pode estimular tragédias ou é um assunto necessário?

Clay (Dylan Minette) e Hannah (Katherine Langford) em cena de "13 Reasons Why", da Netflix - Divulgação/Netflix
Clay (Dylan Minette) e Hannah (Katherine Langford) em cena de "13 Reasons Why", da Netflix Imagem: Divulgação/Netflix

Adriana Nogueira

Do UOL

06/04/2017 17h54

Em uma nova série da Netlix, a personagem Hanna (Katherine Langford) é uma adolescente de 17 anos que se mata e deixa uma caixa com fitas cassete que explicam o que a levou a uma atitude tão extrema. O mote de “13 Reasons Why” –que foi disponibilizada na plataforma no último dia 31– é também um grave problema de saúde pública.

Segundo os dados mais recentes da OMS (Organização Mundial da Saúde), de 2012, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. Ainda de acordo com a agência, 800 mil pessoas tiram a própria vida, todos os anos, no mundo.

Falar ou não sobre o assunto?

“Há o aspecto positivo de falar sobre um tema importante, que acontece mais do que é noticiado, ainda mais em um veículo capaz de atingir tantas pessoas”, afirma o psicólogo Yuri Busin, diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio), em São Paulo.

A visibilidade ao tema também é um ponto positivo na opinião da psicodramatista e terapeuta familiar Miriam Barros. “Pode dar pistas para as pessoas próximas ao jovem sobre os conflitos intensos que se vive nessa faixa etária, como inserção em um grupo social, namoro, sexualidade, e que podem gerar sofrimento intenso.”

Filhos vuneráveis

A série pode despertar os pais para uma possível vulnerabilidade do filho ao suicídio. A depressão, entre outros transtornos psicológicos que podem estar por trás da vontade de tirar a própria vida, ainda é confundida com tristeza, e não é cuidada. "Não existe tristeza que não dê trégua em semanas, meses. Isso é depressão", afirma Yuri Busin.

O psicólogo, no entanto, alerta para que os adultos não tentem fazer eles próprios o diagnóstico do filho. “O melhor a fazer é procurar um psiquiatra ou psicólogo, que pode indicar o melhor tratamento. E é preciso que se diga: há tratamento.”

Pais e filhos podem ver juntos

Miriam, no entanto, faz uma ressalva sobre o risco de romantizar o suicídio: “Há uma chance de se olhar para o enredo e pensar que a personagem resolveu as questões dela morrendo e que deu o troco nas pessoas que, de alguma forma, a fizeram sofrer.”

O jovem que não está passando por conflitos graves não será levado ao suicídio por ver a série, segundo Miriam Barros. "Agora, aquele que está mal e que não consegue resolver suas questõs, pode cogitar a possibilidade". 

Para intervir diante de qualquer possibilidade de glamourização no ato de tirar a própria vida, a terapeuta familiar diz que o melhor é que os pais assistam à série com os filhos (a indicação de faixa etária é 16 anos). “Proibir de ver não vai adiantar, ainda mais se a série estiver repercutindo no grupo social do adolescente. Ele dará um jeito de ver. Assistam juntos e conversem a respeito.”

Busin aconselha que os adultos vejam antes e avaliem se o filho tem ou não maturidade para assistir à produção: “Se for o caso de negar, não diga, simplesmente, 'não'. Explique o a razão e diga que chegará um tempo em que ele estará pronto para vê-la."