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Programas prestam apoio a mães que estão fora do mercado de trabalho

Empresas oferecem oportunidades e treinamento para mães - Getty Images
Empresas oferecem oportunidades e treinamento para mães Imagem: Getty Images

Daniela Carasco

do UOL, em São Paulo

05/09/2017 04h00

A volta ao trabalho depois da licença-maternidade é uma missão difícil para muitas mulheres. Além do risco de demissão, que se efetiva em metade dos casos, várias se deparam com a falta de acolhimento do empregador em uma fase marcada por imprevistos. Não à toa, abdicam de suas funções. Para mostrar que elas não estão sozinhas, uma série de serviços dedicados a transformar a relação entre as mães e o mercado de trabalho tem surgido.

Uma pesquisa divulgada pela empresa de recrutamento Catho mostra que, após a chegada dos filhos, as mulheres optam por deixar o mercado de trabalho cinco vezes mais do que os homens. São 28% de desistência delas, contra 5% deles. O resultado é confirmado pelo estudo “Mulheres e o Mundo Corporativo”, publicado há poucos meses pela Robert Half. O levantamento mostrou que 27% sentem dificuldade de voltar ao cargo.

Segundo a administradora de empresas Camila Conti, "as áreas de recursos humanos continuam contaminadas com os estereótipos de que a profissional com filho vai faltar e atrasar com mais frequência", gerando prejuízos. A falta de flexibilidade é outro agravante. “No Brasil, também existe a cultura de que quem trabalha por mais tempo é mais produtivo”.

Empreender é o melhor caminho?

Na hora de buscar uma solução para a recolocação profissional, muitas optam por começar o próprio negócio. É um caminho possível, mas não dá para romantizar. Empreender é trabalhoso, cansativo e nem sempre proporciona maior retorno financeiro.

E é exatamente essa a realidade que Camila já mostrou a cerca de 600 mães com a criação da Maternativa, uma startup de empreendedorismo materno. Além de funcionar como uma plataforma on-line para divulgação e venda de produtos e serviços de negócios já estabelecidos, a empresa movimenta uma rede com mais de 20 mil mulheres interessadas em trocar experiências e debater o assunto. “É emocionante ver a potência de um grupo como esse”.

mae trabalho filho - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images
A solidão do abandono profissional

O valor das redes femininas de apoio é também exaltado pela publicitária Dani Junco, CEO da B2Mamy, uma aceleradora de negócios focada também no empreendedorismo materno. A ideia se concretizou após o nascimento do filho, há mais de um ano. “Veio da minha dor pessoal, de não conseguir equilibrar a nova fase pessoal com minha vida profissional”, conta. “Joguei meu drama nas redes sociais e mais de 80 mulheres se reconheceram nele. Em comum, tínhamos o sentimento de solidão.”

Existe um forte julgamento sobre as mães que desejam passar mais tempo na presença do filho, em tempos de mulheres ocupando cada vez mais postos importantes de trabalho. Assim como uma sensação de fracasso ao investir sem apoio em projetos pessoais amadores, que muitas vezes dão errado.

Como fazer o negócio dar certo?

Para ajudar a tirar os projetos do papel, Dani criou um treinamento que funciona como uma espécie de jogo de tabuleiro. “Dura um ano e acontece junto com uma rede de apoio, que vai desde outras mães até executivos de grandes empresas. Das 600 mulheres com as quais falamos, 250 lançaram seus projetos e já faturam com eles. Delas, 30 estão em um momento de aceleração para que comecem de fato a impactar a economia nacional.” O curso custa entre R$ 200 e R$ 2.400, e pode ser feito na presença das próprias crianças.

Entre as empresas das quais mais se orgulha de ter acompanhado estão o de uma mãe que entrou fazendo bolo e saiu com um portal de troca e compartilhamento de utensílios para cozinha, o de uma assistente virtual para problemas que podem ser resolvidos remotamente e que emprega outras mães, e o de uma loja de serviços e acessórios lúdicos para ajudar crianças a vencerem medos e timidez.

“Elas chegam sem autoestima nenhuma, completamente desacreditadas até pela própria família. A maioria deixou a carreira em multinacionais por conta da rotina incessante ou foram surpreendidas pela demissão”, conta. “Digo que o empreendedorismo é comportamental, promove um impacto psicológico maior do que o financeiro. E pode ajudar, inclusive, quem quer voltar ao mercado formal. Um empreendedor se destaca dentro de uma empresa, porque abraça as decisões”, diz.

Oportunidades para quem não quer um negócio

Ainda que seja um caminho possível, o empreendedorismo não é para todo mundo. Por isso, a arquiteta de TI Bianca Spazziani criou, há três meses, o Maetis, uma plataforma online de oportunidades profissionais, em sua maioria remotas e de horário flexível, voltadas para o público materno e sem fins lucrativos.

Mãe de dois, um de 7 anos e outro de um ano e dez meses, ela enfrentou uma forte culpa ao tentar se recolocar no mercado de trabalho. “Cheguei a conseguir um emprego grávida do segundo filho e fui preterida na hora que contei da gestação”, conta. “Senti na pele o preconceito, vi que minha vida tinha mudado e decidi encontrar uma alternativa para que as mulheres repensassem seus espaços a medida que se tornassem mães.”

Desde o lançamento, foram cadastradas 532 mães, 138 currículos e seis empresas parceiras. Entre as ofertas, já rolaram oportunidades de atendimento ao cliente, representante de marcas, consultora de vendas e coordenadora de relacionamento. “Elas podem, inclusive, contratar umas às outras”, conta. “A ideia é que não precisem deixar a carreira de lado depois de uma decepção profissional e consigam encontrar uma alternativa em conjunto.”