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Pais autoritários protegem mais contra drogas do que tolerantes, diz estudo

Segundo pesquisa da Unifesp, pais que combinam limites com afeto são mais capazes de proteger os filhos contra drogas - Getty Images
Segundo pesquisa da Unifesp, pais que combinam limites com afeto são mais capazes de proteger os filhos contra drogas Imagem: Getty Images

Adriana Nogueira

Do UOL

22/11/2017 04h00

Quando se trata de prevenir o abuso de drogas e álcool por adolescentes, pais que sabem combinar limites com diálogo são os mais bem-sucedidos. Essa é a conclusão de um estudo coordenado por Zila Sanchez, docente do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

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A pesquisa –realizada com 6.381 jovens de seis cidades brasileiras, com idade média de 12,5 anos– analisou quatro perfis de pais: autoritativo (que combina exigência com diálogo e afeto), autoritário (em que prevalece a exigência), indulgente (que tem baixo grau de exigência, mas alto de diálogo e afeto) e negligente (em que as duas características são baixas).

“Foi feito um ranking, que listava do perfil mais protetor ao menos. As extremidades corroboraram estudos internacionais. Pais autoritativos são os mais protetores e os negligentes, os menos. A surpresa foi que o segundo perfil mais protetor é o de pais autoritários. Lá fora, essa posição costuma ser ocupada pelos indulgentes”, diz.

Os resultados da pesquisa foram publicados no periódico científico “Drug and Alcohol Dependence”, em agosto. Os estudantes ouvidos eram do 7º e 8º anos de 62 escolas públicas localizadas nas cidades de Tubarão (SC), Florianópolis (SC), São Paulo (SP), São Bernardo do Campo (SP), Fortaleza (CE) e Brasília (DF). Eles responderam questionários de forma anônima.

Limite também é afeto

“A dificuldade de muitos pais de colocarem regras vem da preocupação de deixarem de serem amados pelos filhos. Mas o papel deles é educar. O amor vai vir como consequência de todo o trabalho de criação”, diz o psicólogo Yuri Busin, diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental – Equilíbrio), em São Paulo.

A psicóloga Mariana Verpa Sanches, do Grea (Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas), ligado ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo), afirma que o que muitos pais parecem não saber é que colocar regras e cobrar o cumprimento delas também é uma forma de afeto.

“No grupo, atendemos dependentes a partir de 18 anos, e já ouvi de muitos que a liberdade que tinham parecia ser falta de amor”, diz a psicóloga.

Buscar informação

Segundo Mariana, é importante que pais que sintam dificuldade de colocar limites busquem ajuda. “Vale procurar a escola do filho ou mesmo um psicólogo. Às vezes, os adultos tiveram uma história difícil com os próprios pais e decidem fazer tudo diferente, caindo em extremos”, fala Mariana.

A especialista também aconselha os adultos a se informarem antes de falar com os filhos.

“Há pais que se apavoram ao achar um baseado na mochila do jovem. Chegam para conversar e dizem que a maconha é a porta de entrada para drogas mais pesadas, o que não é verdade. Estudos já comprovaram que o álcool e o tabaco fazem esse papel. Muitas vezes, o adolescente tem mais informação do que os pais, o que faz com que não leve em consideração o que esses estão falando.”

Famílias Fortes

Desde 2013, o Ministério da Saúde vem implementando em diversas cidades o Famílias Fortes, um programa de fortalecimento de vínculos familiares e prevenção ao abuso de drogas, inspirado em uma iniciativa semelhante, dos Estados Unidos.

A efetividade do programa --voltado para pais e adolescentes de dez a 14 anos-- está sendo avaliada por um estudo coordenado por Sheila Giardini Murta, professora do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília. A pesquisa será concluída em 2018.

“Mas os dados preliminares mostram que os pais têm conseguido desenvolver habilidades para ensinar responsabilidades, estabelecer regras, regular as emoções, expressar afeto e se comunicar de modo mais positivo. Já os adolescentes têm conseguido se proteger mais de influências negativas dos seus pares, recusando-se a aderir a situações de risco, como faltar à aula”, diz Sheila.

A colocação de limites, segundo os especialistas ouvidos nesta reportagem, deve começar já na infância, mas corrigir caminhos é possível mesmo na adolescência. “Mas uma coisa é construir uma casa do zero, outra é reformar uma que existe. Haverá dificuldades, claro”, finaliza Mariana Sanches.