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Ao dar algo para um filho, tem que dar para o outro? Não necessariamente

Getty Images
Imagem: Getty Images

Gabriela Guimarães e Veridiana Mercatelli

Colaboração para o UOL

02/12/2017 04h00

Uma das maiores preocupações dos pais é não fazer distinção entre os filhos. Assim, o que um ganhou o outro tem de ter também. Mas sabemos que nem sempre isso é possível. Se não vai dar para comprar para o caçula um videogame igual ao do mais velho, em vez de se sentirem mal por isso, os pais devem aproveitar a oportunidade de mostrar às crianças que, na vida, nem sempre ganhamos tudo o que queremos.

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Apreensões desnecessárias

Em geral, essas situações geram culpa e frustração nos adultos. Mas não precisa ficar assim. “Muitas vezes, o dar e receber coisas materiais é ‘traduzido’ pelos adultos como expressão de amor, e nenhum pai ou mãe quer que seus filhos pensem que amam mais um do que o outro”, diz a psicóloga Paola Andrade Maia. Daí vem a frustração. Só que a criança não pensa como o adulto. Um piquenique da família, por exemplo, pode ser uma bela “compensação” para todos e uma lembrança feliz que os filhos guardarão para sempre.  

Tratar os filhos da mesma forma é uma meta mais adequada para os pais, principalmente no que diz respeito a oferecer uma boa escolaridade e experiências de vida, como uma viagem de intercâmbio, por exemplo. Mas sem esquecer do principal, que é dar a todos os filhos afeto, respeito e compreensão, sem fazer diferença na quantidade e na qualidade dos sentimentos. Por que isso, sim, é educação baseada na igualdade, dizem os especialistas.

Barrados no baile

Em geral, é mais difícil para o filho mais novo entender por que o mais velho tem alguma coisa e ele, não. Ou que o irmão pode ir a passeios, por exemplo, enquanto ele tem de ficar em casa. A criança pequena ainda não tem um raciocínio lógico totalmente desenvolvido e, então, reage na base da emoção. Ela pode confundir a atitude dos pais com falta de afeto por parte deles, acreditando que, por ser mais novo, não é tão importante na família como o primogênito.

Esses momentos são oportunidades para que os adultos expliquem que existem momentos e necessidades diferentes a cada membro da família. E nem sempre as condições financeiras são iguais em todos os períodos da vida. Eles devem entender: precisamos aprender a conviver com as eventuais dificuldades para não sofrer. “É fundamental falar sempre a verdade do motivo dos pais terem feito diferente de um irmão para o outro. Mas sempre usando uma linguagem clara, de acordo com a idade da criança”, diz a psicóloga Mayara Mendes Bacha.

“Mesmo sendo irmãos, tratam-se de indivíduos diferentes, com desejos e necessidades específicos”, completa a psicóloga Ludmila Schulz, coordenadora do curso de Pedagogia do Centro Universitário Celso Lisboa.

Realidade sem purpurina

Não importa a idade, todos gostam de ganhar presentes. Mas a alegria pode virar frustração quando a criança se dá conta que não ganhou o que sonhava. Para evitar tristezas, é bom prepará-la antes dessas datas festivas, se os pais sabem de antemão que o filho não vai receber o que quer. Não há problema nenhum em dar algo que ele queira ganhar, desde que o presente esteja dentro dos limites de idade e das possibilidades financeiras da família.

Se esse não for o caso, ele poderá aprender, por exemplo, que a bicicleta que seu irmão ganhou pode ser compartilhada com ele, com mais diversão para os dois. Ou que daqui há três anos terá um celular igual ao seu irmão, como foi combinado. Outra questão que pode ser aprendida é que no aniversário, apenas o aniversariante ganha presente.

“Se não ensinarmos isso aos filhos, eles crescerão com a falsa ideia de que tudo sempre é possível e que todos se mobilizarão para satisfazer seus desejos. O que não acontece na vida real. Sempre existirá uma falta, uma insatisfação, o que não precisa ser, necessariamente, ruim. Podemos aprender com isso também”, diz orientadora pedagógica Sueli Gomes.