Topo

"Impossível ter tempo com os filhos? Se vira!", diz especialista

Getty Images
Imagem: Getty Images

Thais Carvalho Diniz

Do UOL, em São Paulo

07/12/2017 04h00

A psicoterapeuta Lúcia Rosenberg é mãe de três, mas diz que, se pudesse, teria mais filhos. Autora de "Cordão Mágico – Histórias de Mãe e Filhos" (Ofício das Palavras) e palestrante do TEDx SP, o ponto principal de suas discussões é a intimidade familiar, escassa nos dias atuais, segundo ela. E, diferentemente, do que você pode imaginar, esses laços não são naturais. É preciso criá-los e, mais do que isso, cultivá-los. 

Leia também:

"Não basta ter consanguinidade para que a intimidade se instale. Ela começa na primeira conversa, seja quando for, e se edifica a cada próximo papo, com curiosidade na pergunta e atenção na resposta. E precisa ter mão dupla. Os pais precisam despir-se do papel engessado e se revelar. Os filhos querem saber quem eles foram no passado, os amigos que tiveram, as regras que transgrediram e os motivos."
 
Lúcia confessa que o conhecimento adquirido pela profissão a ajudou a construir a relação com Mateus, 29, Raquel, 28, Jonas, 26, da qual tanto se orgulha, mas que assumiu um compromisso quando decidiu colocá-los no mundo. Por isso, se você está lendo esse texto e pensando que é impossível ter tempo para isso hoje em dia, a resposta dela é simples: se vira!
 
"Ninguém colocou filho no mundo só para popular e poluir mais. É difícil, mas ninguém falou que era fácil. Eu dizia que seria a melhor mãe que pudesse --e acho que consegui. Foi um compromisso, nada de pieguice. Para isso, o primeiro passo foi tentar sempre entender a vida pela perspectiva deles." 

"Ser amigo não é perder autoridade"

Para Lúcia, uma vez que não criamos a tão esperada intimidade dentro de casa, a distância e o estranhamento tomam conta. E não adianta esperar as crianças crescerem, "pois estarão mais maduras e vão entender melhor uma conversa".
 
"Nesse ponto os pais já se tornaram estranhos e os filhos vão escolher uma outra família, a da namorada, por exemplo, ou entender a intimidade como algo desconcertante. E as viagens em família serão um inferno." 
 
A psicoterapeuta explica que a queixa do tempo moderno é o excesso de conectividade das crianças e jovens, mas que os adultos não estão nada diferentes. "Não existe mais horário de expediente. Os pais reclamam dos filhos, mas estão sempre conectados. Sobra pouco tempo para cultivar os encontros e se os telefones estiverem ligados, pior ainda." 


"Palmada é covardia. A sua fúria não pode ferrar o seu filho"

Castigo físico, na opinião de Lúcia, é inadmissível, covarde e demonstra falta de controle. "Recomendo até que se fume um cigarro. A sua fúria não pode ferrar você e o seu filho. Nada se resolve com cabeça quente. Pede cinco minutos e respira." 

Ela conta que com os filhos tinha uma máxima de não admitir mentira e segurar qualquer verdade. Por isso, quando vinham com alguma notícia estarrecedora --o que acontecia--, ela tinha que se controlar ou não teria mais verdades para lidar. 

A psicoterapeuta Lúcia Rosenberg - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A psicoterapeuta Lúcia Rosenberg
Imagem: Arquivo pessoal

"Ficava brava, nervosa, mas não poderia ser violenta com eles ou os perderia. Por isso, o jeito foi sempre pedir cinco minutos ir até 'ali' para digerir e depois conversar e explicar porque eles haviam sido egoístas ou o quanto aquilo foi perigoso e errado."

Lúcia explica que aceitar não é passar a mão na cabeça. E que é preciso entender que os filhos não são um grande projeto dos pais, mas "sementes com atributos próprios".

"Punição é o caminho para quem não aprendeu conversando e pode ser estabelecida por cada família: não ir naquela festa, por exemplo. Mas tenha o prazer de conhecê-los e não de imaginar o que eles seriam para depois decepcionar-se."